Diário de Notícias

Menos conversa e mais trabalho

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PAULO BALDAIA

Uma pessoa que não tem como ganhar a vida vive uma sensação de impotência e desacredit­a no futuro. Se essa pessoa tem filhos para criar, só pode viver em desespero. O desemprego é mesmo o maior flagelo de Portugal e, com o que isso significa de pobreza a crescer à nossa volta, é a sociedade como um todo que fica a perder. Adaptando a célebre frase do ditador Josef Stalin, diria que “o desemprego é uma tragédia, meio milhão de desemprega­dos é uma estatístic­a”, pelo que discutir estatístic­a é a melhor forma de desumaniza­r a política.

Aos 600 mil, ou mais, ou menos, de portuguese­s que não têm emprego, e cerca de 300 mil nem recebem nenhuma ajuda do Estado, que lhes importa a discussão sobre o valor real da estatístic­a? Sentado na poltrona do meu emprego, imagino que um desemprega­do queira os políticos a discutir a forma como vão resolver o seu problema. Como se aumenta a criação de emprego? É, como propõe a esquerda, aumentando o rendimento dos empregados e, assim, aumentando o consumo interno? Ou, como propõe a direita, flexibiliz­ando as regras do mer- cado laboral e, assim, aumentando a competitiv­idade da economia? Discutam política. Nenhum desemprega­do come estatístic­as.

O PS não precisava de ter visto o líder da UGT a dizer o óbvio ao lado do governo. Taxa de desemprego a descer é melhor do que a subir. E é indiscutív­el que ela está a descer, mesmo que os números do INE escondam muitas outras realidades dramáticas. Quem vive este sufoco quer discutir as propostas de criação de emprego. E os que nunca vão encontrar outro emprego ( há muitos) querem saber que apoio lhes vai garantir o Estado para viverem o resto das suas vidas. Como hoje é dia de citar “figurões”, cito agora Margaret Thatcher: “Não existe dinheiro público, existe dinheiro de quem paga impostos.” E, portanto, os que têm emprego também querem fazer esta discussão.

No entretanto, segue a polémica com os cartazes do PS, mas o problema não é o marketing, é a opção política. Quem pode ganhar eleições por mérito próprio mas desiste de o fazer, para as tentar ganhar pelo demérito dos outros, acaba sempre a revelar as suas próprias fragilidad­es. O país não tem nenhum problema sério com estatístic­as, nem com marketing político, tem um problema sério com o desemprego. Este deveria ser o tema central no debate político para as legislativ­as. A obrigação de todos os políticos é trabalhar para resolver este assunto, conversa da treta é atirar areia para os olhos dos desemprega­dos.

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