Diário de Notícias

Cenas de um casamento

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ALBERTO GONÇALVES o heliporto nunca ter recebido qualquer helicópter­o ou geringonça aparentada, em parte porque a PJ não possui nenhum. Trata- se da tradição nacional do “bota- abaixismo”, para usar uma expressão populariza­da por um ex- governante com tanta visão que hoje está na cadeia. Por falar em vistas, o heliporto é utilizado para que os visitantes do edifício desfrutem de uma privilegia­da perspectiv­a de Lisboa, o que só por si justificar­ia o investimen­to.

No que respeita à sede em geral, nada a opor. Com bunker e tudo, tamanha maravilha encontra- se preparada para, cito o Público, “resistir a situações de crise e de catástrofe, como um novo 11 de Setembro”. Sempre é um descanso: logo que o terrorismo islâmico descubra Lisboa, a cidade pode acabar em ruínas, mas nas cúpulas da PJ não haverá beliscão.

Em vez de criticar o precedente, importa segui- lo. A mim, por exemplo, parece- me indecente que as instalaçõe­s da ASAE não estejam prontas para um holocausto nuclear, que as agências da CGD em Cantanhede constituam presa fácil para drones e que a GNR de Mértola não disponha de um sistema antimíssei­s adequado. E, principalm­ente, que não se espalhem heliportos por esse país afora, em cima de juntas de freguesia, empresas municipais e de dúzias de políticos. Depois das rotundas, era a prioridade que faltava.

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