Diário de Notícias

Dívidas na conta da água, luz e telefone são cada vez mais

Três quartos dos processos entrados no Balcão Nacional de Injunções são de dívidas pelo fornecimen­to de bens e serviços. Dívidas até 500 euros aumentaram 54% em 2014

- V I RGÍ NI A A LV E S

O número de famílias que não consegue pagar a conta do telefone e até da água, gás e luz voltou a aumentar. No ano passado, entrou no Balcão Nacional de Injunções um total de 153 695 processos de dívidas pelo fornecimen­to de bens e serviços, de acordo com os últimos dados do Ministério da Justiça. São mais 11,26% do que em 2013.

“São cada vez mais as pessoas que pedem ajuda por terem as contas da água, luz, gás e dos telemóveis em atraso. Muitas delas já em fase de injunção ( ver caixa ao lado). As pessoas reconhecem que têm a dívida, mas não têm dinheiro para a pagar”, explica Natália Nunes, coordenado­ra do Gabinete de Apoio ao Sobre- endividado ( GAS), da Deco.

Ao todo, o número de dívidas comprovada­s através do Balcão Nacional de Injunções ascendeu a 206 980 no ano passado, contra apenas 185 024 em 2013. Os processos que mais contribuír­am para este aumento são de dívidas de montante inferior a um salário mínimo – entraram, no ano passado, 62 164 processos de valores inferiores a 500 euros, quando em 2013 o total de processos para esse montante foi de 40 399. É uma subida de nada menos 54%. Pelo contrário, os processos para o valor intermédio da generalida­de dos casos, que oscila entre os mil e os 4999 euros, registaram uma descida: somaram 64 620, menos 4965 processos do que em 2013.

Três quartos das dívidas comprovada­s ( 74,25%) correspond­em ao não pagamento do fornecimen­to de bens e serviços. São 153 mil processos, uma subida de mais de 11%. E, embora o Ministério da Justiça não tenha dados mais desagregad­os, serão as dívidas relativas às contas da luz, água e telecomuni­cações que contribuem para este aumento. A subir rapidament­e estão também os processos por utilização de cartão de crédito – entraram, no ano passado, 10 831 no Balcão Nacional de Injunções; tinham sido 6534 em 2013. É um agravament­o de 65,7%.

A Deco tem recebido muitos pedidos de ajuda “para resolver problemas de dívidas de serviços essenciais, normalment­e de pessoas que já deixaram de pagar todos os outros créditos, e agora falham estes”. Natália Nunes refere que, desde o ano passado e até ao primeiro semestre deste ano, “as pessoas que recorrem ao Gabinete de Apoio ao Sobre- endividado têm quatro créditos: o da casa, o pessoal, o cartão de crédito, e, agora, o do automóvel foi trocado pelo da luz, água e telecomuni­cações”. Falhando os pagamentos dos três primeiros, “optam por deixar de pagar a luz, porque normalment­e a fatura é a que mais pesa no orçamento familiar, depois a água e, por fim, os chamados pacotes de telecomuni­cações. Mas já deixaram de pagar todos os outros”.

Para os credores a solução é avançar com um processo de injunção, e esperar por uma resolução que pode ser o pagamento da dívida, ou intentar a execução em tribunal. No ano passado, o BNI deu como concluídos mais 14 432 processos do que no final de 2013.

Não é possível traçar um perfil de quem recorre ao Banco Nacional de Injunções, mas quem deixa de pagar as dívidas, explica Natália Nunes, são famílias de baixos rendimento­s, “em muitos casos estão em situação de desemprego de longa duração, cujos subsídios estão a terminar ou já terminaram. São também famílias beneficiár­ias do Rendimento de Inserção Social”. Em muitos casos, pedem ajuda “quando já estão no limiar da renegociaç­ão das dívidas. E muitos já têm processos em tribunal ou penhoras”.

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