Diário de Notícias

“O PANCADAS”, O SOCIOPATA QUE MATOU DEZENAS POR UMA MOEDA

O galego Diogo Alves lançou dezenas de lavadeiras do alto do aqueduto antes de ser apanhado – por outro crime. Foi condenado à morte em 1841 e executado

- P. S. T.

HOMICIDA Diogo Alves, mais conhecido pela alcunha de “O Pancadas”, ficou para a história como um dos piores sociopatas portuguese­s. Roubava mulheres no passeio público do Aqueduto, em Alcântara e, “por uma moeda”, lançava dezenas de vítimas para a morte.

“Era um assassino em série. Era um homem de dupla personalid­ade. Durante o dia era boieiro e, ao que parece, de um profission­alismo extremo, e à noite transforma­va- se no pior dos assassinos”, conta Margarida Ruas.

O modus operandi do homicida era sempre o mesmo: esperava pela passagem das lavadeiras de Caneças, “que vinham ou buscar ou entregar as roupas aos aristocrat­as em Lisboa”, roubava- as e lançava- as do viaduto abaixo.

Inicialmen­te, as mortes chegaram a ser atribuídas a uma estranha vaga de suicídios. Mas quando as vítimas começaram a totalizar várias dezenas as autori - dades perceberam que estavam a lidar com um homicida em série e o caminho público sobre o aqueduto foi interdito.

Diogo Alves nunca chegou a ser apanhado por estes crimes. Viria a ser detido, sim, pela morte da família de um médico, na Rua das Flores, durante um assalto conduzido por ele e por vários membros do seu gangue. Foi por este último crime que acabou por ser condenado e executado, em 1841. O processo que conduziu à sua condenação está atualmente em exposição na Torre do Tombo, em Lisboa.

Há uma lenda urbana que o identifica como o último condenado à morte em Portugal. Na rerealidad­e, esta pena foi abolida mais de uma década depois, em 1852, por D. Maria – mas apenas para crimes políticos – só sendo abolida para crimes civis em 1867, já no reinado de D. Luís. Vários homens foram ainda condenados e executados depois do “Pancadas”. Mas o seu lugar na história ficou ainda assim assegurado, pelos piores motivos.

Aliás, por ironiado destino, entre centenas de figuras históricas ligadas ao aqueduto, Diogo Alves é mesmo a única cujo rosto podemos ainda contemplar. A sua cabeça foi decepada após a execução, a fim de ser estudada pela comunidade científica, e continua ainda conservada­em formol no teatro Anatómico da Faculdade de Medicina da Universida­de de Lisboa.

Galego de nascença, “O Pancadas” – pela gravidade dos seus crimes – acabaria por contribuir para uma animosidad­e, que durou décadas, contra os imigrantes da galiza, que não só eram os aguadeiros de Lisboa – antes do aqueduto – como foram os primeiros bombeiros da cidade.

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