Agosto em Lisboa
OPEDRO MARQUES LOPES h pá, Agosto é em Lisboa. Temos a cidade só para nós. Restaurantes, bares, livrarias e museus vazios, nada de trânsito, tudo muito mais calmo.” Quem nunca ouviu este relambório que levante o dedo. Pois claro, o controlador aéreo das melgas não teve que ativar o plano de emergência. Eu sou dos que nunca acreditaram naquela conversa. Para já, isto de ter uma cidade só para nós é tudo o que não se quer duma cidade. Quem não gosta de ver, encontrar, falar com gente, deve dirigir- se à agência de imóveis mais próxima, colocar o seu apartamento à venda e procurar um hectarezito no Pulo do Lobo ou num buraco semelhante, com muitas arvorezinhas e muitos bichinhos. Também não me parece que tenha assim muito interesse estar num restaurante ou num bar, sozinho com quatro empregados a olhar para nós. Isto, claro está, os que estão abertos. O alfacinha não sai da cidade só porque quer tostar ao garantido sol algarvio ou alentejano, porque é a altura em que pode passar muito tempo com os verdadeiramente seus ou porque precisa de ir respirar outros ares. Sai porque sabe que a sua cidade não é a mesma em Agosto, porque não há conforto nenhum em estar num sítio que de repente deixa de ser o seu. A Dona Irene não está, o tipo que passeia o cão às sete horas não aparece, o Pedro do restaurante foi de férias, entra- se e sai- se do cinema sem sequer um “olá, estás bom?”, o barbeiro e o seu antiportismo partiram para parte incerta e nem há carros em segunda fila a deixar as crianças na creche do outro lado da rua. Vou ficar fechado em casa à espera que a cidade regresse, a que está lá fora não é a minha. Lisboa em Agosto não é Lisboa, é um lugar triste, cheio de pessoas para quem a cidade não passa de mais um álbum de fotografia, sem aquilo que realmente conta numa cidade: os que lá vivem.