Líder dos rebeldes do Syriza ameaça criar novo partido
Panagiotis Lafazanis culpa Tsipras pela rotura no partido e anunciou que vai intensificar a realização de encontros políticos. Plataforma de Esquerda crê em eleições em setembro
Nascida da junção de 13 grupos e políticos independentes, que iam desde os socialistas democráticos aos maoístas, a Coligação da Esquerda Radical, mais conhecida por Syriza, passou de movimento a um partido unitário em 2013. Mas esta união foi posta à prova, e falhou, com as votações dos dois pacotes de medidas prévias impostos pela zona euro levadas a cabo em julho no Parlamento grego. Alexis Tsipras viu as reformas serem aprovadas graças aos votos dos partidos pró- europeus da oposição e foi confrontado com a dissidência de cerca de um quarto dos 149 deputados do grupo parlamentar do Syriza, a maioria pertencente à Plataforma de Esquerda. Ontem, o líder deste grupo, Panagiotis Lafazanis, admitiu a possibilidade de vir a fundar um novo partido.
“A culpa da fratura no partido é de Tsipras”, declarou ontem o ex- ministro da Energia numa entrevista dada ao jornal Kefaleo, anunciando que vai intensificar a realização de encontros políticos. Para Lafazanis, se for imposta mais austeridade “a última coisa que importará é a unidade do partido” e considerou que o congresso extraordinário do Syriza convocado recentemente por Tsipras é “chantagista e irrelevante”.
A decisão de realizar um congresso extraordinário em setembro – após a celebração de um novo acordo com os credores , com Atenas e Bruxelas a mostrarem- se otimistas com o decorrer das negociações e acreditando numa solução até terça- feira – foi feita no dia 30 numa reunião em que Tsipras apelou à união e ao apoio dos deputados ao resgate. Mas a ala mais à esquerda criticou as novas medidas de austeridade.
“Temos de concordar que não podemos continuar desta forma. É um absurdo este estranho e sem precedentes dualismo dentro do partido”, disse Tsipras no encontro, durante o qual fez um desafio aos rebeldes: “Se existe alguém que pen- sa que poderia conseguir um melhor acordo, venha aqui e explique em que termos seria.”
O plano da Plataforma de Esquerda – explicado esta semana pelo ex- ministro adjunto da Segurança Social, Dimitris Stratoulis, num dos encontros que o grupo está a realizar – é abandonar as negociações, voltar à dracma, denunciar a dívida pública e nacionalizar os bancos, entre outras medidas.
A primeira consequência das dissidências nas votações parlamentares foi a remodelação governamental, anunciada a 17 de julho. Lafazanis, que já tinha garantido que sairia do executivo se essa fosse a vontade de Tsipras, foi afastado da pasta da Energia. O mesmo destino tiveram os ministros adjuntos da Defesa, Kostas Ichios, e da Segurança So - cial, Dimitris Stratoulis. O adjunto dos Negócios Estrangeiros, Nikos Chountis, demitiu- se dias antes, exemplo seguido pela ministra adjunta das Finanças, Nadia Valavani.
De fora destas mexidas ficou a presidente do parlamento, outra das duras críticas do governo. Zoe Konstantopoulou defende que a Grécia entre em default e recentemente acusou Tsipras de ter um comportamento “infantil e surreal”.
Esta remodelação serviu para evitar que as políticas do governo continuassem a ser implementadas por pessoas que com elas discordavam. Todos estes dissidentes continuam deputados ( a única exceção é Chountis, que abandonou o Parlamento para ir para Estrasburgo).
Situação que deixa Tsipras numa posição fragilizada em futuras votações e mais dependente da oposição. Mesmo depois das duas votações de julho, Lafazanis garantiu que o governo continuaria a ter o apoio da Plataforma de Esquerda nas políticas que constavam do programa eleitoral. Mas agora, com a admissão da possibilidade de fundar um novo partido, essa fidelidade condicionada parece que não virá a acontecer. “Eu, pessoalmente, estou na mesma trajetória de sempre”, afirmou ontem o ex- ministro, quando questionado sobre estar em rota de colisão com o governo.
A outra consequência que parece inevitável é a realização de legislativas antecipadas. A porta- voz do governo já admitiu que poderão ter lugar no outono. Ontem a Plataforma de Esquerda, no seu site, apontava a primeira metade de setembro como data mais provável. As últimas sondagens divulgadas na Grécia, já depois do pré- acordo para um novo resgate, dão a maioria absoluta a Tsipras. Resta saber se terá de renovar as listas do Syriza ou terá como adversário um novo partido.