Um T7 de arte para Fátima ser mais do que o santuário
São na maioria jovens, muitos ainda estudantes. Durante 14 horas ocuparam uma moradia e partilharam a arte com 300 visitantes
Moradia localizada na Lomba da Égua foi mandada construir por um emigrante e nunca foi acabada Workshops, performances, concertos, teatro, fotografia, conversas de sensibilização para as artes, cinema e ateliês animaram os visitantes da moradia T7, localizada na Lomba de Égua, Fátima. A iniciativa de quatro jovens – que vivem ou estudaram em Fátima –, pretendia apenas “dinamizar a região”, mais voltada para a religiosidade.
A ideia começou a tornar forma e “foi pensada para ocupar uma escola primária abandonada”, refere Rodrigo Ferreira, explicando que “a adesão das pessoas e o facto de existir esta moradia abandonada aqui na zona” levaram à escolha do local.
“Estamos a fazer uma ocupação legal”, assume Rodrigo, 25 anos, revelando que a moradia avaliada em 790 mil euros está à venda e pertence ao Conservatório de Música de Ourém e Fátima, que a cedeu para este projeto pioneiro.
Admite que o orçamento deste projeto “é muito reduzido”, pois “há muitas coisas emprestadas, outras feitas por nós e muitos voluntários a trabalhar”. De qualquer forma, à entrada é pedida uma contribuição voluntária que servirá para custear viagens, alimentação e estada dos artistas. “O que sobrar distribuímos pelos artistas.”
Nas últimas semanas, eles e amigos prepararam o espaço. A moradia construída há cerca 20 anos nunca foi terminada nem habitada. Nasceu da iniciativa de um emigrante no Canadá, que após ter tido um ataque cardíaco parou a obra que tem mais de mil metros quadrados habitáveis, divididos por quatro pisos. E, até, uma “gruta- adega”, com um túnel misterioso.
“Sempre quis fazer algo assim. É importante levar a arte como forma de pensamento para fora das grandes cidades”, explica Rodrigo Pereira, que estudou Teatro no Conservatório e viveu em São Paulo, “onde há muitas ocupações artísticas e muito mais dinamismo cultural”.
De máquinas fotográficas nas mãos, vários alunos de Artes de Fátima e Porto de Mós observam atentamente cada quadro, pintura, fotografia, escultura ou instalação. “Temos colegas que vieram expor e convidaram- nos”, assume o grupo de jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos. “Está muito bom… vamos passar aqui o dia”, dizem.
Jaime Órfão, Dinis Rosa e Luís Neves, alunos de Artes de Fátima, surgem vestidos de forma diferente. Roupas coloridas, colares, brincos e cabelos compridos, e nas mãos instrumentos musicais. “Esta é uma cena diferente do que se costuma fazer aqui em Fátima”, diz Jaime Órfão, admitindo que “tem uma certa graça porque é diferente”.
José e Tânia Troeira trocaram há um ano Lisboa pela pacatez da aldeia de Casal dos Bernardos, Ourém. DJ, este casal está habituado “a outro tipo de performances e ocupações”, admitindo contudo que “para primeira iniciativa está muito bem”. “Temos sede de cultura e por isso não hesitámos em vir aqui”, assumem.
Acompanhado da família, Alexandre Rodrigues visitou demoradamente cada divisão da moradia. Diretor do Conservatório de Música de Ourém e Fátima, diz que a cidade “precisa deste tipo de iniciativas”. “Tudo isto é muito importante. Não podemos viver sem ar te”, assume, reforçando que “por não ser habitual trouxe alguma curiosidade.”
Entre presenças mais ou menos conhecidas – a designer Wasted Rita e o performer Pedro Barreiros –, o projeto contou ainda com a ajuda de anónimos e associações da região. Liliana Pereira e Tânia Chavinha são de Leiria e representam a associação Manipulartes. Prepararam um espaço dedicado às crianças, a partir dos 10 anos, com marionetas, oficinas, palhaços e teatro e talvez por isso cativaram a atenção de miúdos e graúdos. “É sempre importante motivar as pessoas para a arte”, assumem.
O sucesso desta ocupação poderá ditar uma nova realização, já no próximo ano. “Tudo é possível”, assume Rodrigo.
Está consumado. O quê? O domínio prático e simbólico da telenovela no audiovisual português. Foram 38 anos de crescente agonia conceptual, desde a estreia televisiva de Gabriela, a 16 de maio de 1977, até ao lançamento do filme O Pátio das Cantigas, neste verão de 2015.
Que se passou? O triunfo de uma cultura de formatação das imagens ( e dos sons) que encontra, agora, a sua apoteose no filme produzido e dirigido por Leonel Vieira. São três as leis estipuladas por tal cultura, uma narrativa, outra interpretativa, outra figurativa.
Em primeiro lugar, reduz- se qualquer visão do mundo a uma coleção de figuras e cenas superficiais, “obrigatoriamente” anedóticas, desligadas de qualquer contexto pertinente, seja ele cómico ou dramático, realista ou fantástico.
Depois, instala- se um imenso menosprezo estético pelo trabalho específico dos atores, reduzidos a títeres de gestos e efeitos caricaturais, alheios a qualquer lógica de composição ( há mesmo uma ou duas gerações de profissionais que foram educados pela indústria da telenovela na ilusão pueril de que representar é produzir uma imagem “pitoresca” para a câmara).
Enfim, pratica- se uma indiferença militante em relação ao facto de o cinema ser uma arte do espaço e do tempo. Duas “soluções” são regularmente praticadas: a colagem inconsequente de pontos de
O Pátio das Cantigas: o cinema devorado pela formatação televisiva