Diário de Notícias

Um T7 de arte para Fátima ser mais do que o santuário

São na maioria jovens, muitos ainda estudantes. Durante 14 horas ocuparam uma moradia e partilhara­m a arte com 300 visitantes

- A L E X A NDRA S E R ÔDI O

Moradia localizada na Lomba da Égua foi mandada construir por um emigrante e nunca foi acabada Workshops, performanc­es, concertos, teatro, fotografia, conversas de sensibiliz­ação para as artes, cinema e ateliês animaram os visitantes da moradia T7, localizada na Lomba de Égua, Fátima. A iniciativa de quatro jovens – que vivem ou estudaram em Fátima –, pretendia apenas “dinamizar a região”, mais voltada para a religiosid­ade.

A ideia começou a tornar forma e “foi pensada para ocupar uma escola primária abandonada”, refere Rodrigo Ferreira, explicando que “a adesão das pessoas e o facto de existir esta moradia abandonada aqui na zona” levaram à escolha do local.

“Estamos a fazer uma ocupação legal”, assume Rodrigo, 25 anos, revelando que a moradia avaliada em 790 mil euros está à venda e pertence ao Conservató­rio de Música de Ourém e Fátima, que a cedeu para este projeto pioneiro.

Admite que o orçamento deste projeto “é muito reduzido”, pois “há muitas coisas emprestada­s, outras feitas por nós e muitos voluntário­s a trabalhar”. De qualquer forma, à entrada é pedida uma contribuiç­ão voluntária que servirá para custear viagens, alimentaçã­o e estada dos artistas. “O que sobrar distribuím­os pelos artistas.”

Nas últimas semanas, eles e amigos prepararam o espaço. A moradia construída há cerca 20 anos nunca foi terminada nem habitada. Nasceu da iniciativa de um emigrante no Canadá, que após ter tido um ataque cardíaco parou a obra que tem mais de mil metros quadrados habitáveis, divididos por quatro pisos. E, até, uma “gruta- adega”, com um túnel misterioso.

“Sempre quis fazer algo assim. É importante levar a arte como forma de pensamento para fora das grandes cidades”, explica Rodrigo Pereira, que estudou Teatro no Conservató­rio e viveu em São Paulo, “onde há muitas ocupações artísticas e muito mais dinamismo cultural”.

De máquinas fotográfic­as nas mãos, vários alunos de Artes de Fátima e Porto de Mós observam atentament­e cada quadro, pintura, fotografia, escultura ou instalação. “Temos colegas que vieram expor e convidaram- nos”, assume o grupo de jovens com idades compreendi­das entre os 14 e os 18 anos. “Está muito bom… vamos passar aqui o dia”, dizem.

Jaime Órfão, Dinis Rosa e Luís Neves, alunos de Artes de Fátima, surgem vestidos de forma diferente. Roupas coloridas, colares, brincos e cabelos compridos, e nas mãos instrument­os musicais. “Esta é uma cena diferente do que se costuma fazer aqui em Fátima”, diz Jaime Órfão, admitindo que “tem uma certa graça porque é diferente”.

José e Tânia Troeira trocaram há um ano Lisboa pela pacatez da aldeia de Casal dos Bernardos, Ourém. DJ, este casal está habituado “a outro tipo de performanc­es e ocupações”, admitindo contudo que “para primeira iniciativa está muito bem”. “Temos sede de cultura e por isso não hesitámos em vir aqui”, assumem.

Acompanhad­o da família, Alexandre Rodrigues visitou demoradame­nte cada divisão da moradia. Diretor do Conservató­rio de Música de Ourém e Fátima, diz que a cidade “precisa deste tipo de iniciativa­s”. “Tudo isto é muito importante. Não podemos viver sem ar te”, assume, reforçando que “por não ser habitual trouxe alguma curiosidad­e.”

Entre presenças mais ou menos conhecidas – a designer Wasted Rita e o performer Pedro Barreiros –, o projeto contou ainda com a ajuda de anónimos e associaçõe­s da região. Liliana Pereira e Tânia Chavinha são de Leiria e representa­m a associação Manipulart­es. Prepararam um espaço dedicado às crianças, a partir dos 10 anos, com marionetas, oficinas, palhaços e teatro e talvez por isso cativaram a atenção de miúdos e graúdos. “É sempre importante motivar as pessoas para a arte”, assumem.

O sucesso desta ocupação poderá ditar uma nova realização, já no próximo ano. “Tudo é possível”, assume Rodrigo.

Está consumado. O quê? O domínio prático e simbólico da telenovela no audiovisua­l português. Foram 38 anos de crescente agonia conceptual, desde a estreia televisiva de Gabriela, a 16 de maio de 1977, até ao lançamento do filme O Pátio das Cantigas, neste verão de 2015.

Que se passou? O triunfo de uma cultura de formatação das imagens ( e dos sons) que encontra, agora, a sua apoteose no filme produzido e dirigido por Leonel Vieira. São três as leis estipulada­s por tal cultura, uma narrativa, outra interpreta­tiva, outra figurativa.

Em primeiro lugar, reduz- se qualquer visão do mundo a uma coleção de figuras e cenas superficia­is, “obrigatori­amente” anedóticas, desligadas de qualquer contexto pertinente, seja ele cómico ou dramático, realista ou fantástico.

Depois, instala- se um imenso menosprezo estético pelo trabalho específico dos atores, reduzidos a títeres de gestos e efeitos caricatura­is, alheios a qualquer lógica de composição ( há mesmo uma ou duas gerações de profission­ais que foram educados pela indústria da telenovela na ilusão pueril de que representa­r é produzir uma imagem “pitoresca” para a câmara).

Enfim, pratica- se uma indiferenç­a militante em relação ao facto de o cinema ser uma arte do espaço e do tempo. Duas “soluções” são regularmen­te praticadas: a colagem inconseque­nte de pontos de

O Pátio das Cantigas: o cinema devorado pela formatação televisiva

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