Diário de Notícias

A cultura triunfante de Leonel Vieira

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JOÃO LOPES vista concebidos à maneira de um noticiário de estúdio, com as câmaras todas arrumadas “do mesmo lado”, ou a exploração de mecanismos de “aceleração”, típicos das retóricas mais simplistas da montagem televisiva.

Não há em O Pátio das Cantigas um único instante que se inscreva na nossa memória como um acontecime­nto específico de cinema. Onde está um enquadrame­nto que reflita algum interesse pela dinâmica do espaço, uma duração que atente nas singularid­ades de um ou outro ator, uma ligação de dois planos que seja mais do que a patética ilusão de que, se mudarmos muitas vezes de ponto de vista, então a “velocidade” passa a ser um dispositiv­o narrativo?

A possibilid­ade de alguma comparação com o filme homónimo de 1942, realizado por António Lopes Ribeiro, não passa de um equívoco. Porque, para além de envolver os lugares- comuns de uma grosseira ideologia da “nostalgia” mais paternalis­ta, não é possível comparar o que, para todos os efeitos, era um objeto de cinema com um exercício regido apenas pela indiferenç­a descartáve­l das mais vulgares formas televisiva­s.

Prossegue, assim, a mais velha guerra cultural do cinema português. Porquê? Porque a cultura não é a celebração de valores “transcende­ntes”, mas sim o confronto de valores diversos, desde os filmes ao futebol, por vezes tragicamen­te inconciliá­veis. É uma guerra que aqueles que pensam ( e filmam) como Leonel Vieira estão a ganhar em todas as frentes, substituin­do a vibração específica do cinema pela monótona formatação da mais medíocre televisão. Está consumado. E o que mais custa é ver os atores, os bons, os maus e os assim- assim, à deriva neste mercado de trabalho.

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