Diário de Notícias

Num festival que celebra os grandes autores, há vénia para os atores. Ontem foi dia de Amy Schumer, a nova coqueluche do humor

- RUI PEDRO TENDINHA, Locarno

Na sala de conferênci­as do festival, a comediante Amy Schumer chegou a transpirar e com vontade de fazer um show de comédia. Des - carrilada, de Judd Apatow, a comédia que está a fazer dela a nova estrela do humor americano, passou perante oito mil pessoas numa noite de trovoada na deslumbran­te Piazza Grande. Chuva numa noite quente para uma comédia toda ela escrita a partir das suas experiênci­as de vida. Schumer confessou que já teve uma vida de engatatona e de problemas com o álcool, mas a conferênci­a começou com uma pergunta do DN: será que provocar o riso nos outros pode ser sexy? Provocar uma ex- descarrila­da tem os seus riscos: “É óbvio que a única forma de poder ter um orgasmo é quando faço rir alguém... Agora a sério, quando estou num quarto a fazer amor com alguém não quero gargalhada­s. Prefiro que a pessoa esteja concentrad­a...”

Mais à frente, confessa que está a adorar a experiênci­a neste festival suíço, depois de ainda conse- guirmos perguntar se alguma vez usará material cómico das memórias da sua vinda a Locarno: “Tem sido ótimo, estou sempre bêbeda! Como toda a gente faz também, já fui fumar um charro para o lago. Estive também a fazer topless num barco com a minha irmã e agora estou ali a olhar para a minha publicista...” Gargalhada­s de todos na sala e, em seguida, quando alguém lhe pergunta se já se sente um ícone do feminismo, volta a fazer número: “Todas as pessoas que se levam a sério quando acreditam ser ícones têm um problema mental, mas é muito fixe ser vista como feminista. Todas as mulheres deviam identifica­r- se como tal!”

O humor autoconfes­sional de Amy também pode ser doloroso, conforme admite. Em Descarrila­da, escrito por si e com a ajuda da irmã, a produtora Kim Caramel, aborda o caso real da doença do seu pai, esclerose múltipla: “Essa é a parte do filme mais verdadeira e próxima da minha vida. Quisemos abordar a questão da doença de forma o mais divertida possível, por muito que fosse duro. É uma doença tão horrível que só nos resta é rir dela. Por isso, a personagem do pai diz que aquela doença é o karma do comportame­nto do seu passado. Fiquei muito feliz por o meu pai ter visto e estar orgulhoso deste filme.”

Sobre a questão do seu recente discurso sobre o controlo de armas de fogo nos EUA, Amy volta a mostrar uma faceta séria. “Os EUA não conseguem resolver esta questão das armas porque envolve dinheiro. Tão simples quanto isso. O caso do tiroteio numa sessão de Des carrilada provocou uma imensa tristeza em mim...” Logo a seguir, alguém pergunta- lhe se tem novos projetos e o gozo volta: “Nos próximos anos vão ter de levar muito comigo. Tenho muitos filmes para fazer... Preparem- se!” Uma coisa é certa, esta é daquelas atrizes que percebem o poder da promoção de um filme. Há semanas e semanas que não tem parado de promover este filme. No fim, o microfone volta para o DN e tentamos saber se nesta altura de fama repentina ainda tem prazer nestes deveres de promoção: “Tenho, mas o pior é que ser mais conhecida não tem piada nenhuma. Não vejo vantagens em ser uma celebridad­e.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal