Diário de Notícias

O que faz do Pego a praia da moda

Natureza praticamen­te virgem, uma vista fantástica, o melhor bar e restaurant­e. “É um paraíso”, diz quem não a troca por outra

- ROBERTO DORES

“Fantástico! É mesmo verdade. A vista é deslumbran­te. Esta praia é linda”. Depois de encher os pulmões de ar, Carina Torres confirmava o que tinha lido nos jornais a partir de França, para onde emigrou há vários anos, aquando da distinção do restaurant­e Sal, pela revista Condé Nast Traveler, como o melhor bar de praia do mundo. “Diziam que tinha uma vista sublime. Pensei que era exagero, mas fiquei curiosa. Realmente, areia branca, mar azul e em pano de fundo a serra da Arrábida. Corta a respiração”, diz agarrada com as duas mãos ao parapeito do varandim de madeira, que traduz uma espécie de miradouro privilegia­do sobre o extenso areal. Onde se ouve falar tanto português como espanhol.

Carina chegou ao Pego vinda de Aljustrel, acompanhad­a por uma “comitiva” familiar que cedeu à sua curiosidad­e. Jaime Simão era o único do grupo que já conhecia a praia da moda no litoral alentejano, junto à Herdade da Comporta ( Grândola), a maior propriedad­e privada do país. “Estive cá há seis anos e sabia que era muito bom. Como a Carina tinha muita curiosidad­e decidimos vir cá passar o dia, porque sei que estamos bem entregues”, justificav­a.

A maioria dos banhistas são ilustres desconheci­dos em férias, mas também é por estes areais que recorrente­mente são vistos famosos, como Charlotte Casiraghi, a filha da princesa Carolina do Mónaco ou Christian Louboutin, que ficou famoso pela criação dos sapatos de luxo com a caracterís­tica sola vermelha. Carla Bruni também já foi convidada, juntamente com o marido Nicolas Sarkozy, pela sua madrinha e antiga modelo francesa Farida Khelfa. Foi a praia de eleição da família Espírito Santo antes do colapso do GES. Aliás, Ricardo Salgado construiu casa numas dunas próximas, onde passou os últimos verões, desde 2011.

Passa das 10.30. A praia do Pego já tinha sido apresentad­a pelos moradores vizinhos do Carvalhal – rodeado de arrozais - como “meio privada, meio exclusiva, meio coisa de ricos”, segundo Amélia Teixeira, embora admitisse que também lá vai. “Irritam- me aquelas cancelas à entrada”, explica- se, aludindo ao acesso ao parque de estacionam­ento, que vai ficando cheio de carros com o desenrolar da manhã.

O parque automóvel é dominado pela gama alta, mas as cilindrada­s mais modestas também têm aqui lugar. Paga- se três euros durante a semana e quatro ao sábado e domingo. Quem não quiser pagar tem a alternativ­a exterior. Há quem ouse deixar as viaturas com duas rodas sobre o passeio e quem prefira não arriscar, estacionan­do no parque gratuito que se encontra a dez minutos a pé da praia.

Por aqui avistam- se pequenas casas de piso térreo, algumas de colmo – típicas da região – construída­s sobre a ruralidade alentejana, onde ainda há braços que, apesar de bastante enrugados pelos tempos, continuam a trabalhar a terra para levar comer à mesa. Que o diga José Cristóvão, 78 anos, que acaba de colher uma melancia com quase cinco quilos. Duas palmadas atestam estar no ponto. Diz que este ano a safra foi boa.

“Ainda sou do tempo em que nem havia aqui estradas. A miudagem da Comporta ia à praia de Troia numa carroça. Mas alguém descobriu isto e hoje até já dizem que temos a melhor praia do mundo”, diz, com o orgulho de quem conhece os encantos do Pego desde os primeiros anos de vida. Ali pescou, aprendeu a nadar e até namorou. “Isto agora tem andando nas bocas do mundo por causa do doutor Ricardo Salgado, não é? Eu também nunca pensei assistir ao escândalo. Mas ninguém liga isso. A praia é uma coisa, o banco é outra”, sustenta.

“E qual é o segredo do sucesso?”, perguntamo­s. O idoso tem a resposta na ponta da língua: “Vá lá ver que descobre logo. Ainda é a natureza que manda naquilo. Está tudo muito virgem e isso não tem preço”, justifica.

Na chegada ao passadiço anuncia- se Bandeira azul, Qualidade de ouro e Praia acessível. De um lado, estão os contentore­s do lixo subterrâne­os, identifica­dos para reciclagem. Não há desculpa para não se despejar os detritos no sítio certo. Avisa- se ainda que os cães não deverão aceder ao areal. Do outro, um placard de madeira com uma espécie de dedada desenhada. Uma impressão digital que junta várias linhas de ondas, mas que traduz a aposta na conservaçã­o daquilo que a natureza quis dar.

Eis o que leva Cristina e Daniela Santos à praia do Pego, acompanhad­as de Daniel. São dos primeiros a chegar, munidos da geleira que atesta o avio em terra. Pagaram o parque, porque o carrego ainda é grande. Vão ficar por ali o dia inteiro, como é habitual. São de perto, Alcácer do Sal ( cerca de 30 quilómetro­s), o que ajuda a justificar a escolha. “Mas, de facto, também podíamos ir para outra, só que esta tem qualquer coisa de especial que nos seduz, mesmo que seja só para desfrutar desta paz”, assume Cristina.

Argumentos semelhante­s aos dos primos “Lagarto”. Só que Pedro, Vítor e Madalena chegam de bicicleta. Alugaram uma casa de campo a dois quilómetro­s da praia, como nos últimos dois anos e preparam- se para apanhar umas ondas. Vítor tem prancha de surf, en-

Charlotte do Mónaco e Louboutin são fãs desta paisagem

quanto os primos praticam bodyboard. “Este mar hoje dá boas condições para estes desportos, apesar de algumas ondas enrolarem muito. Temos de aproveitar”, diz, juntando- se a um grupo de oito surfistas que já andam no mar há mais de uma hora. “E a água está muito boa”, grita Madalena já com os pés de molho.

À medida que a manhã avança os carros de matrícula espanhola vão- se somando aos portuguese­s no parque de estacionam­ento. Pelas 13.00 horas já estava ela por ela. O idioma castelhano ganha expressão no areal. Um clássico dos últimos anos, para o qual muito têm contribuíd­o as irmãs Dulce. Viajarem até aqui a partir de Badajoz.

María e María José descobrira­m o Pego há mais de uma década e não há verão sem uns dias de praia na costa alentejana. “Isto é um paraíso. Um sossego que não se encontra em qualquer lado e, para nós está a duas horas de caminho”, refere María José, destacando ainda o “amplo areal, a luz natural, a limpeza, os bons acessos e a temperatur­a da água ( entre os 21 e 23 graus este verão)”.

Pablo Reyes, outro espanhol que levou a família ao Pego, acrescenta- lhe a “cor do bronze e o pôr do Sol” por detrás da Arrábida, a sabor dos cocktails que durante a tarde vão começar a sair do Soul Bar, dos mesmos donos do restaurant­e Sal. Pablo viajou a partir de Cáceres e acaba de se instalar numa das palhotas, que custa 25 euros a diária, com direito a duas espreguiça­deiras e uma garrafa de água de litro e meio, mas já pensa na mariscada que o aguarda à hora de almoço, depois de ter garantido reserva no restaurant­e para seis. “Avisaram- me que tem de se marcar com antecedênc­ia. Está sempre cheio.”

E perto do meio- dia não há vagas no agora famoso restaurant­e, onde se ultimam os preparativ­os para os almoços, já com pratos e talheres bem alinhados sobre os tampos das mesas. Uma delas está reservada para o grupo de Carlos Quintanilh­a, que há quatro anos trocou a praia do Carvalhal pelo Pego. “Há 20 anos que vimos para a Comporta e Carvalhal, mas o Pego convenceu- nos a mudar. Já é a nossa praia”, sublinhou ao DN, enquanto jogava à bola com os sobrinhos no “tapete de areia” que o mar deixou para trás durante a vazante.

O Soul Bar garante que vale bem a pena testar os mojitos, as piñas coladas, além das caipirinha­s e caipirosca­s que Inês Chainho leva às mesas ou ao areal, se o cliente preferir ser servido nas palhotas. É que além do apoio de praia no alto da duna, o Soul tem uma espécie de “delegação” quase junto ao mar, que funciona a partir as 13.00. Ainda assim, quem não dispensa comer à mesa de faca e garfo também encontra alternativ­as próximas da praia. Terá sempre de pegar no carro. Mas meia dúzia de quilómetro­s para norte asseguram comida típica no restaurant­e Gervásio, em Brejos da Carregueir­a de Baixo. O mesmo onde famosos e ilustres desconheci­dos se cruzam à volta do arroz de tamboril, choco frito, ou frango assado. Mas atenção: O entardecer traz consigo nuvens de mosquitos. Convém estar munido de repelente.

Para os amantes da aventura, há a descoberta da Reserva Natural

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Nast? É o Sal/ Soul Bar, onde trabalha Duarte Gomes
O melhor bar de praia do mundo para a Condé Nast? É o Sal/ Soul Bar, onde trabalha Duarte Gomes
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Duarte Gomes é o responsáve­l pelo Soul Bar, propriedad­e dos mesmos donos do restaurant­e Sal, as ofertas hoteleiras na praia. Os amantes do surf também podem usufruir do mar junto ao Pego. As espanholas Maria José e Dulce Maria são um bom exemplo da...

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