Diário de Notícias

Do calçadão azul a um dirigente do Syriza, sem esquecer o Avante!

PSD leva CDS ao Pontal, PS com festas a norte e a sul. Bloco reentra em escola do Porto e PCP ao som da carvalhesa no Avante!

- RUI PE DRO A NTUNES

Com a campanha para as legislativ­as de 4 de outubro já no pensamento dos líderes partidário­s, a rentrée deste ano faz o PSD levar o CDS para o Pontal, o PS fazer festas a norte e a sul, o Bloco trazer o Syriza ao Porto e o PCP prometer uma vez mais que não há festa como a sua.

Em ano eleitoral, a rentrée dos partidos é também a entrada, a sério, na campanha. Um Pontal laranja e azul, um PS com duas festas, um Bloco na escola e um Avante! como sempre vão marcar um agosto político que vai servir para tomar balanço para um setembro de campanha.

A coligação pré- eleitoral forçou o PSD a quebrar a tradição, partilhand­o a festa do Pontal, no Algarve, com o CDS. O diretor de campanha do PSD, José Matos Rosa, explica que por ser ano eleitoral “a festa terá mais dimensão e mobilizaçã­o”.

Por ocorrer a um mês e meio das eleições, a festa do Pontal – cuja primeira edição se realizou no tempo de Sá Carneiro – “vai articular as mensagens à campanha eleitoral” e, como explica Matos Rosa, “os líderes do CDS, Paulo Portas, e do PSD, Passos Coelho, vão direcionar os discursos para as disputas eleitorais”.

A festa será daqui a seis dias e vai realizar- se na sua localizaçã­o mais- do- que- habitual: o calçadão de Quarteira, estando ainda para decidir se os líderes distritais vão ou não intervir. O evento chegou a ser ponderado para dia 14, para aproveitar a véspera de feriado, mas a atuação do DJ David Guetta, que atua no Estádio Municipal de Quarteira, levou a que fosse marcado para dia 15.

Esta entrada em cena terá um pequeno recuo na velocidade da locomotiva da coligação. É que Pedro Passos Coelho, após a festa do Pontal, ainda vai cumprir uns dias de férias no local habitual, a Manta Rota, para recarregar baterias para o take dois da rentrée: a universida­de de verão do PSD.

Neste caso, os dois partidos decidiram manter a sua identidade e vão fazer as universida­des em separado. A do PSD será entre os dias 24 e 30 de agosto e realiza- se, como é habitual, em Castelo de Vide. Contará com figuras como o ex- líder do partido Durão Barroso ou o CEO do banco britânico Lloyds Bank, António Horta Osório. Para evitar polémicas e confusões com potenciais candidatos presidenci­ais, Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa e Santana Lopes ficam de fora.

Já quanto à Escola de Quadros do CDS, esta só se realizará entre 3 e 6 de setembro na praia de Ofir, em Esposende, não sendo ainda conhecido o programa. Socialista­s a norte e a sul O PS – que, como explica fonte da campanha, “não tem um modelo tradiciona­l de rentrée” – optou por desdobrar o regresso à atividade pós- férias com duas festas. Os nomes atribuídos correspond­em aos conceitos: uma será a “festa da juventude” e outra a “festa da confiança”.

A “festa da juventude” realiza- se em Torres Vedras a 29 de agosto, dia em que Costa falará às 15.30, e está inserida no YES Summer Camp 2015. Este evento é um acampament­o de jovens socialista­s europeus que se realiza na praia de Santa Cruz, entre 25 e 30 de agosto. A ação pretende, segundo fonte oficial da campanha, “mobilizar um público em particular, os jovens”.

No dia seguinte, a norte, o PS fará então a festa em Santo Tirso, com o objetivo de “marcar a sério o início do período de campanha”. A partir daí, Costa já não para. Syriza no arranque do Bloco É também a norte, no Porto, círculo da líder Catarina Martins, que o Bloco de Esquerda vai marcar a sua reentrada. Os bloquistas vão organizar o evento Socialismo 2015, que se realiza entre os dias 28 e 29 de agosto na escola artística Soares dos Reis.

O diretor de campanha do Bloco de Esquerda, Ricardo Moreira, explica que será um evento “diferente dos dos outros partidos, com workshops, palestras com mais de 50 painéis e mais de 60 especialis­tas das mais diversas áreas”. Vão ser discutidas questões distintas como “o Tratado Orçamental, o Acordo de Parceria Transatlân­tica de Comércio e Investimen­to ( TTIP) ou a identidade trans”.

Mariana Mortágua, rising star no Bloco e cabeça de lista por Lisboa será a oradora de um painel sobre privatizaç­ões, com o também bloquista Jorge Costa, com quem escreveu o livro Privataria. Noutro dos painéis, Júlia Mendes Pereira, candidata a deputada transgéner­o, será oradora sobre o tema.

Além de figuras do partido como a eurodeputa­da Marisa Matias ou o ex- líder Francisco Louçã, estarão ainda presentes outras figuras como o vocalista dos Blind Zero e advogado Miguel Guedes e um dirigente do Syriza chamado Yiannis, mas cujo apelido não será Varoufakis. O Bloco contará sim com uma figura igualmente de topo do Syriza, mas é Yiannis Bournous, membro do comité central do partido grego.

De acordo com Ricardo Moreira, a grande diferença por se tratar de um ano eleitoral é “de escala”. Com eleições à porta este será um “evento com maior dimensão, as pessoas estão mais engajadas”. Isto sem esquecer o objetivo de ser diferente, dos “debates interessan­tes onde se pode discutir desde Beckett à situação da Grécia”.

Além dos colóquios, haverá também momentos de festa, num evento que será “gratuito e aberto a todos”. É possível haver oradores de direita? “Sim, mas não neste ano”, explica Ricardo Moreira.

A nível de alojamento, o Bloco também permite que os participan­tes possam acantonar na escola, caso não tenham uma alternativ­a ou se assim preferirem pela intensidad­e da agenda. A Festa com maiúscula O regresso do PCP acontecerá, como sempre, na tradiciona­l Festa do Avante!. Nas respostas enviadas ao DN, o gabinete de imprensa refere- se sempre ao Partido e à Festa com maiúscula, o que não é uma escolha ortográfic­a inocente. Para os comunistas “não há Festa como esta”.

Ao DN, o PCP refere, no entanto, que “não se revê na expressão ren- trée, fazê- lo seria considerar que houve um momento de ausência do partido para férias. Como facilmente se pode verificar quer pela própria Festa do Avante!, só possível porque muitos militantes e amigos dedicam parte do seu verão à sua construção, quer pela contínua e diária presença e intervençã­o do PCP por todo o país, tal não acontece.”

Na Festa do Avante! não faltam momentos culturais, desde a música ( já estão confirmado­s nomes co - mo Xutos& Pontapés, Fausto, Capicua, António Chainho ou Linda Martini) ao cinema ( num ciclo que privilegia realizador­es portuguesa­s). A estes juntam- se outros mo-

mentos culturais e políticos, tão ecléticos que vão desde o discurso do líder Jerónimo de Sousa ao momento em que a Carvalhesa sai pelas colunas e os camaradas dançam.

Apesar de ser a mais tradiciona­l das festas ( realiza- se como habitualme­nte nos primeiros dias de setembro –4, 5 e 6 na Atalaia, na margem sul do Tejo), tem uma grande capacidade de renovação. Neste ano haverá, por exemplo, um espaço ciência, onde será dado destaque ao Ano Internacio­nal da Luz e que “permitirá aos visitantes da Festa perceberem como algo tão enigmático e complexo como a luz pode ser tão importante e determinan­te no nosso dia- a- dia”. Além de um Espaço Criança que “terá experiênci­as e surpresas para os mais pequenos, onde ficarão a saber que, sem luz, não haveria vida”.

A Festa do Avante! não é apenas frequentad­a por militantes comunistas, embora seja uma das maiores demonstraç­ões de mobilizaçã­o e de demonstraç­ão de vitalidade do do partido.

Entre os partidos com assento parlamenta­r há um ponto em comum nestes regressos com data marcada: a partir destes eventos vão entrar a toda a velocidade rumo às eleições de 4 de outubro. A partir daí, independen­temente das datas legais, todos vão saber: a campanha, a sério, começou.

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Passos Coelho volta a ser a figura de cartaz da tradiciona­l festa do Pontal, na Quarteira ( foto de 2012). Não há local que marque a rentrée do PS: todos os anos é escolhido um sítio diferente. O regresso à atividade de Costa ( na foto a discursar no...
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