Diário de Notícias

Vítimas de agressão vão ter apoio para pagar a renda

Novo diploma reforça proteção às mulheres obrigadas a sair da casa por medo dos agressores. E cria uma equipa para reconstitu­ir estes crimes e melhorar falhas na prevenção

- RUTE COELHO

Um novo diploma reforça a proteção às mulheres que, com medo dos companheir­os agressores, são forçadas a sair de casa. É ainda criada uma equipa para melhorar falhas na prevenção deste tipo de crime.

Com 70 anos, Maria foi viver para uma casa de abrigo no Porto, depois de meio século a ser agredida pelo marido. Esta idosa, cuja história de coragem foi contada este ano nas páginas do DN , é uma das mulheres que vão poder beneficiar dos novos apoios às rendas de casa que as vítimas de violência doméstica terão, de forma proporcion­al aos rendimento­s.

Um projeto de lei do Bloco de Esquerda aprovado a 22 de julho e publicado a 5 de agosto como decreto da Assembleia da República aprovou este apoio específico à renda de casa das vítimas e outras medidas naquela que é a terceira alteração ao regime jurídico de proteção e assistênci­a às vítimas de violência doméstica.

O diploma, aprovado por unanimidad­e por todos os partidos com representa­ção parlamenta­r, também prevê que se passe a fazer a análise retrospeti­va dos homicídios conjugais em contexto de violência doméstica. Será uma espé- cie de reconstitu­ição do caso a nível documental, já depois da sentença transitada em julgado, com o objetivo de melhorar falhas que possam ter havido a nível de prevenção. Partirá da análise a documentaç­ão que consta do processo judicial, de documentos técnicos das várias entidades que interviera­m e dos depoimento­s dos técnicos que acompanhar­am o caso.

A equipa que fará esta análise é multidisci­plinar e inclui um representa­nte do Ministério Público, outro da força de segurança territoria­lmente competente ( PSP ou GNR) e um da PJ que tem o exclusivo da investigaç­ão de crimes de sangue; e ainda um representa­nte por ministério: da Administra­ção Interna, da Justiça, da Solidaried­ade e Emprego, da Saúde, e um da secretaria de Estado da Igualdade.

Apoio para mudar de vida Helena Pinto, deputada do Bloco de Esquerda que foi uma das autoras do diploma, sublinha a importânci­a do “apoio ao arrendamen­to” para as mulheres agredidas. A lei já criou há um ano as bolsas de habi- tação para as vítimas de violência doméstica em fogos sociais mas esta alteração vai mais longe. “A vítima tem direito ao apoio ao arrendamen­to, à atribuição de fogo social ou à modalidade específica equiparáve­l, nos termos definidos na lei ou em protocolos celebrados com entidades para o efeito”, refere o diploma.

A deputada Helena Pinto explica que “é difícil aplicar a ideia de que em toda a habitação social devia haver uma quota para as vítimas”. O apoio ao arrendamen­to “é mais eficaz porque não põe questões sobre a localizaçã­o das vítimas, pois nem todas viverão em bairros sociais, e é parcial e proporcion­al, numa fase de transição para que possam recompor as suas vidas”.

Sobre a análise retrospeti­va do homicídio em cenário de violência doméstica, Helena Pinto explica que “é uma medida transposta da Convenção de Istambul, que ainda não existia no nosso ordenament­o jurídico”. Para a deputada “será útil para aprender com cada processo para que em casos

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