Homens ganham por mês mais 142 euros do que as mulheres
As reformas estruturais não resolveram o fosso salarial entre géneros. E quanto maiores são as qualificações, maiores as desigualdades entre profissionais. Salário médio subiu pouco mais de dez euros no último ano
O fosso persiste em Portugal, revelam os números do INE relativos ao segundo trimestre do ano. Os homens ganham em média 900 euros por mês, enquanto as mulheres recebem apenas 758 pelo mesmo trabalho.
Os trabalhadores homens ganham, em média, 900 euros líquidos por mês, mais 142 euros do que as mulheres ( que levam para casa cerca de 758 euros). Os valores divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística ( INE) referem- se ao segundo trimestre deste ano e abrangem toda a população empregada, por conta de outrem e por conta própria.
A discrepância salarial entre sexos tem vindo a aliviar de forma muito ténue ao longo dos últimos anos, mas tornou a aumentar no trimestre em causa.
Os homens reforçaram o seu rendimento médio mensal líquido ( já depois de descontos e impostos) em cerca de quatro euros face aos primeiros três meses deste ano; as mulheres perderam um euro de remuneração.
O salário médio na economia melhorou, assim, um euro. Está agora cerca de 825 euros. Em termos homólogos, há progressos a assinalar. A remuneração média dos empregados aumentou 1,6%, com os homens a registarem uma subida de apenas 0,9% e as mulheres de 2,4%.
Em retrospetiva, os anos do ajustamento e da crise não trouxeram uma mudança estrutural ou profunda na discrepância entre géneros. Nem nos salários, nem nos níveis de precariedade. Pelo contrário. Elas continuam a carregar o ónus da diferença.
Pior: numa análise às remunerações por ramo profissional, as mulheres surgem sempre em desvantagem. E quanto mais qualificadas ou bem pagas são as profissões, menos ganham face a eles.
À exceção das carreiras militares ( Forças Armadas), onde o predomínio dos homens ( e chefes homens) é esmagador e a diferença salarial atinge 43% a favor deles, os dados do INE mostram o seguinte: no grupo profissional “representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos”, o mais bem pago da economia, os homens ganham 1595 euros em média; as mulheres 1406. A discrepância chega a 13%.
Pior ainda no grupo de “especialistas das atividades intelectuais e científicas”, onde estão médicos e professores, por exemplo. Eles ganham 1393 euros, em média; elas apenas 1203 euros. A dispersão atinge aqui 16% a favor dos homens, valor que é repetido no grupo seguinte – “técnicos e profissões de nível intermédio” –, o qual apresenta o terceiro maior nível salarial ( se não contarmos com os militares). Ironicamente, 60% dos “intelectuais e cientistas” portugueses são... mulheres.
Mais educação, mais penalização “Quanto mais elevado é o nível de qualificação maior é o diferencial salarial [ desfavorável às mulheres], sendo, portanto, particularmente elevado entre os quadros superiores”, diz o primeiro estudo sobre o tema, com a chancela do governo, publicado há pouco mais de um ano ( junho de 2014).
No segundo trimestre de 2015, a menor discrepância de ordenados surge no “pessoal administrativo”, onde eles ganham mais 3,5%; e no grupo “agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta”, com os homens a terem uma vantagem de 6,6%.
Há muito que está diagnosticado o problema da discriminação das mulheres em relação aos homens. Falta igualdade de oportunidades no acesso ao mundo do trabalho, além de elas ( a maioria) continuarem a arcar com a responsabilidade do trabalho doméstico e dos filhos. Isto complica a entrada no mercado de trabalho, atrasa a progressão na carreira, afeta a evolução salarial a prazo e remete muitas delas para situações precárias de emprego e até subemprego.
Os dados publicados na semana passada pelo INE comprovam- no: foram detetados mais de 21 mil “trabalhadores familiares não remunerados”, grupo no qual os homens têm uma significância estatística irrelevante; 73% do trabalho por conta de outrem a tempo parcial é feito por mulheres ( 222 mil); no grupo dos “contratos de prestação de serviço ( recibos verdes); tra- balho sazonal sem contrato escrito; e situações de trabalho pontuais e ocasionais” elas dominam com 54%; no subemprego ( pessoas que trabalham menos horas do que o horário de part time, apesar de quererem mais) 63% são mulheres, cerca de 153 mil casos.