Diário de Notícias

Guerra de preços tem os dias contados: já tem pouco efeito na escolha dos consumidor­es e começa a pesar no lucro das empresas

- A NA MARGARIDA PI NHEI RO

As campanhas promociona­is presentes em todos os supermerca­dos estão a ter cada vez menos efeito nas escolhas dos portuguese­s. E, em breve, as empresas de retalho terão de rever as suas políticas sob pena de virem a ter prejuízos. O alerta é feito por Pedro Pimentel, da Centromarc­a – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca.

“A promoção chegou como uma reação à quebra do mercado, para manter o consumidor interessad­o numa altura de contração do consumo, mas três anos depois já não está a ter efeito.” As vendas por via das promoções estão praticamen­te equiparada­s às vendas sem promoção, o que mostra que cada vez menos consumidor­es levam produtos para casa simplesmen­te porque os preços são mais baratos. “Há sempre alguma coisa com desconto. Não sou eu, o cliente, que corro atrás da promoção, é a promoção que corre atrás de mim fazendo que eu leve com desconto algo que já iria comprar”, afirma.

As promoções valem já 41% do total das vendas dos supermerca­dos, mais cinco pontos percentuai­s do que em igual período do ano passado. Um estudo da Nielsen referente ao primeiro semestre deste ano aponta no mesmo sentido: quase todas as categorias estão a ser alvo de mais promoções, sejam os cereais de pequeno- almoço, a charcutari­a ou os produtos de higiene pessoal e da casa. Nos primeiros seis meses deste ano, metade dos detergente­s para a lavagem e tratamento de roupa foram vendidos com desconto. O mesmo aconteceu com as cervejas, em que mais de metade dos consumidor­es comprou em promoção. “É uma nova tendência de consumo à qual as empresas procuram dar as respostas adequadas”, justifica Ana Trigo Morais, da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuiç­ão ( APED).

O Pingo Doce, por exemplo, desenhou 79 folhetos promociona­is nas primeiras 26 semanas deste ano. O efeito do investimen­to, diz a empresa, ajudou a aumentar as vendas em 4%. No entanto, os resultados semestrais da marca não revelam quanto se gerou em receita e qual a perda face ao valor normal dos produtos.

Um estudo da Kantar Worldpanel mostra que, no primeiro trimestre deste ano, as promoções cresceram 28%, mas o volume de compras recuou 2,1%. Apesar de haver maior número de atos de compra com promoções, isso não evitou uma quebra no volume das marcas de distribuiç­ão em 4,4%. Esta descida é mais do dobro do verificado no mercado global de produtos de grande consumo. A Kantar refere que "as promoções só parecem estar a ter efeito positivo no cresciment­o do volume comprado de marcas de fabricante, que crescem 3,2% nos primeiros meses do ano".

O volume de campanhas promociona­is “vai tornar- se insustentá­vel do ponto de vista das marcas” que “têm um orçamento dividido por segmentos e estão a investir demasiado na área comercial em detrimento da inovação”, refere o responsáve­l da Centromarc­a, sublinhand­o que sem outra estratégia, os prejuízos acabarão por chegar.

Ana Trigo Morais é mais otimista. “A distribuiç­ão tem vindo a aplicar estratégia­s de negócio que têm permitido desempenho­s positivos. É público que as margens [ de lucro] são menores, mas a capacidade de respostas às variações do mercado é bastante positiva. As empresas associadas da APED continuam a apostar na inovação, o que se tem revelado proveitoso, sobretudo, perante o consumidor”, diz, admitindo que “as estratégia­s promociona­is possam sofrer algumas alterações no seu formato, mas não abrandar de todo”.

O BPI, numa nota de research lançada no final do ano passado, alertava para o esgotament­o deste modelo assente em descontos, depois de atingido um “teto” de eficácia. Recomendav­a, por isso, a marcas como a Jerónimo Martins e Dia ( casa- mãe do Minipreço) para cortarem nas campanhas e para o Continente se manter conservado­r nos preços, por ser a cadeia mais exposta em Portugal. Alguns meses passados, Pedro Pimentel admite que “o teto que os analistas do BPI mencionava­m já foi ultrapassa­do, aprofundan­do a dependênci­a das promoções”, muito porque “as marcas não conhecem mais nenhuma forma de atrair pessoas aos supermerca­dos e criarem uma fidelizaçã­o de clientes”.

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