Diário de Notícias

Um chocolate de luxo para consumidor­es exigentes

Foi a primeira marca de chocolate de Madrid e agora está de volta ao mercado. Lisboa está na mira para a abertura de uma loja

- B E L É N RODRIGO, Madr i d

Personalid­ade, excelência e exclusivid­ade são as três caracterís­ticas essenciais do chocolate espanhol Matías López. O seu preço, 7,50 euros por uma tablete de 75 gramas, pode parecer uma loucura ou até excessivo para muitos mas, tal como lembra o dono da marca, Manuel de Cendra e Aparicio, “é um chocolate para paladares refinados”. E quem o prova afirma que o produto exclusivo bem merece o elevado montante. Por agora só se encontra à venda em Madrid, em três exclusivas lojas gourmet, e online ( chococates­matiaslope­z. es). Mas o proprietár­io já está a estudar o mercado luso, nomeadamen­te Lisboa, onde “há pelo menos dois lugares que estão ao nível do produto”, revela ao DN. “Procuro espaços muito limitados, este é um chocolate muito especial”, sublinha. E tem uma história por detrás que não deixa ninguém indiferent­e .

Matías López foi uma pessoa invulgar, um galego ( Sarria, 1825) que se converteu no primeiro fabricante e comerciant­e de chocolate de Madrid. Manuel, o seu tetraneto, ainda se lembra dos verões que passava rodeado de doces, a ajudar num negócio familiar onde trabalhava também o seu pai. A fábrica fechou em 1964 e muitos anos depois, em 1996, organizou- se uma exposição comemorati­va de Matías López. “Só então reparei na figura que foi o meu tetravô, uma pessoa excecional que fez coisas muito à frente para a sua época.” Foi o primeiro industrial a utilizar o vapor para a sua maquinaria. Homem liberal, influencia­do pelas teorias de Stuart Mill, além de comprar uma fábrica, adquire terrenos e constrói casas dignas para os seus trabalhado­res, com jardim, ventilação exterior e até sanitários. Os operários pagavam as vivendas, aos poucos, com parte do salário. Um sistema de segurança social Manuel tem especial orgulho no seu tetravô por ter criado o primeiro sistema de segurança social. “Em caso de doença, a empresa pagava uma percentage­m do salário e a diferença provinha de um fundo constituíd­o pelos trabalhado­res, que entregavam todos os meses uma parte do seu salário.” Foi tão intensa a sua ati- vidade social que o Papa Leão XIII concedeu à sua viúva, Andrea Andrés, o título de marquesa da Casa López, que Manuel conserva hoje, “em 5. ª geração consecutiv­a”.

Matías López criou a sua própria fábrica em Madrid em 1851 e anos depois, em 1874, comprou uma refi nação de açúcar em La Leal Villa de El Escorial ( Madrid) que converteu numa fábrica exemplar de chocolate. Quando morreu, em 1891, produzia 14 mil quilos de chocolate por dia, tinha mais de 500 trabalhado­res e cinco mil pontos de venda direta em Espanha. Recuperar a marca Chocolates e doces Matías López regressara­m no ano passado ao mercado, 164 anos depois da sua fundação. Manuel de Cendra y Aparicio demorou vários anos a recuperar a marca para poder elaborar de novo os chocolates. “Durante 14 anos esperei para que a marca estivesse livre e recuperei- a em 2009”, conta Manuel, arquiteto de formação que continua a exercer a profissão enquanto recupera o negócio familiar. Analisou ao pormenor as empresas que elaboram chocolate e finalmente constituiu uma sociedade, em 2012, com o mesmo nome da que fora criada pelo seu tetravô. Tinha definido o seu objetivo – “transmitir ao século XXI as virtudes dos chocolates e demonstrar que Espanha pode competir com qualquer país do mundo em investigaç­ão, desenvolvi­mento e inovação”.

Inspirado na figura do seu tetravô, decide fazer o melhor chocolate, em edições limitadas e numeradas. Para cada edição elaboram 150 quilos de chocolate ( duas mil tabletes). “A receita não é a mesma que utilizava a família, muita coisa mudou nestes anos, sobretudo a tecnologia”, esclarece.

Manuel de Cendra e Aparicio não tem dúvidas de que qualidade e quantidade não se dão bem, por isso espera ter nos próximos anos o seu produto à venda só em 50 lugares da Península Ibérica, todos eles de grande requinte. Em Portugal “não mais do que cinco lojas”.

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