Diário de Notícias

Financiado­res ameaçam deixar Labour se Corbyn regressar à era pré- Blair

Favorito à liderança trabalhist­a defende nacionaliz­ações. Adversária acusou- o que levar o país de volta ao passado

- HELENA T E C E DEI RO

Nacionaliz­ar os caminhos- de- ferro britânicos, o setor energético e aumentar o investimen­to público na indústria. É com estas propostas que Jeremy Corbyn pretende traçar o futuro do Labour. Acusado de querer repor a Clause IV, o artigo dos estatutos do Partido Trabalhist­a que previa a “nacionaliz­ação dos meios de produção” e que Tony Blair aboliu em 1995, dando origem ao New Labour e abrindo caminho para a sua chegada ao poder, o deputado por Islington Norte negou que fosse esse o objetivo.

Surpresa da corrida à liderança trabalhist­a, na sequência da demissão de Ed Miliband após a derrota nas eleições de 7 de maio, Corbyn conquistou os militantes, mas as ideias deste autodenomi­nado socialista parecem assustar tanto a ala centrista do partido como alguns financiado­res trabalhist­as.

Cinco dos principais doadores do Labour prometeram suspender o fi- nanciament­o ao partido em caso de vitória de Corbyn. Num artigo exclusivo do The Telegraph, os financiado­res garantiram que Corbyn seria “desastroso” para o Labour e poderia afastar o partido do poder durante “décadas”. Até agora, só o empresário John Mills – maior doador individual do partido – se pronunciar­a sobre a candidatur­a do deputado. Mas à medida que se torna mais provável a sua vitória a 12 de setembro ( os boletins começam a ser entregues no dia 14), a preocupaçã­o parece alastrar. “Nunca faço uma aposta que não posso ganhar”, disse ao The Telegraph Assem Allam, o multimilio­nário que recentemen­te doou meio milhão de libras aos trabalhist­as. E acrescento­u: “Se Jeremy Corbyn ou outro candidato da ala esquerda ganhar, o Labour vai perder as próximas eleições e a seguinte.” Além disso, sublinhou o empresário de origem egípcia, “não quero um líder que seja controlado pelos sindicatos. Não vai funcionar”.

A única voz que saiu em apoio a Corbyn foi Steve Lazarides, o dono da galeria que gere a obra do graffiter Banksy, que o vê como alguém capaz de levar o partido “de volta às suas raízes socialista­s”. De volta ao passado? Sobre o regresso à Clau se IV, Liz Kendall, a mais blairista dos candidatos à liderança do Labour – os outros são Yvette Cooper e Andy Bunham), garantiu que “mostraria que não há nada de novo nas políticas de Cor - byn. É apenas um regresso ao passado e não a mudança de que precisamos para o nosso partido e para o país”. Na Constituiç­ão do Labour adotada em 1918 a Clause IV garante que o partido está “empenhado na propriedad­e comum dos meios de produção, distribuiç­ão e troca e na sua distribuiç­ão mais equitativa. O momento de viragem nos trabalhist­as deu- se em 1995 quando To - ny Blair, líder há menos de um ano, conseguiu convencer os delegados a aceitarem uma Nova Cláusula Quatro, que favorece o “dinamismo económico, servindo o interesse público” com “um setor privado próspero e serviços públicos de qualidade nos quais as empresas essenciais ao bem comum ou são públicas ou são responsáve­is perante o governo”. Nascia o New Labour, com uma política centrista que tornava o partido mais atraente naqueles anos pós- era Thatcher e acabaria por levar Blair a Downing Street em 1997 – e durante dez anos.

Agora Corbyn afirmou: “É preciso falar dos objetivos do partido, quer seja restaurar a Clause IV como era ou uma diferente, mas não devemos afastar a participaç­ão pública, o investimen­to público na indústria e o controlo público dos caminhos- de- ferro.” Horas depois, a sua campanha garantia que o candidato não pretende repor a Clause IV. “Não está previsto nenhum ‘ grande momento’ do género.”

Numa entrevista ao The Independen­t, Corbyn admitiu que a campanha para a liderança do Labour está a ser “o período mais excitante” da sua vida. “Aconteça o que acontecer a 12 de setembro, já abrimos a garrafa, a vela está a arder, as ideias estão a surgir e há uma mudança no ar”, resumiu. Mas os contactos que manteve no passado com elementos do IRA, do Hamas ou do Hez bollah causam preocupaçã­o. Já para não falar das suas políticas económicas ( já chamadas Corbynomic­s).

Doadores temem que Corbyn afaste Labour do poder durante “décadas”

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