Diário de Notícias

A difícil aventura alemã da Jovem Orquestra Portuguesa

A JOP, representa­nte portuguesa na Federação Europeia de Orquestras Juvenis Nacionais ( EFNYO), apresentou- se ontem em Kassel e no dia 12 vai ao Konzerthau­s de Berlim

- B E R NARDO MARI A NO

Há um ano, a JOP tocou pela primeira vez em Kassel ( na foto) e foi votada pelo público como melhor orquestra do Festival “São 114 músicos, dos 13 aos 23 anos, selecionad­os entre quase 400 candidatos, que vêm desde Chaves ao Algarve, passando pelas ilhas.” Quem fala assim é Pedro Carneiro, fundador e diretor musical da Jovem Orquestra Portuguesa ( JOP), que está com essa mais de centena de jovens músicos na Alemanha: ontem à noite, tocaram na centenária Stadthalle Kassel perante duas mil pessoas, encerrando o Festival de Verão que ali se realiza. A honra de tocar no fecho do Festival explica- se logo no site respetivo: é que eles foram os ‘ Publikumsl­ieblinge’ (“prediletos do público”) da edição 2014, quando ali tocaram pela primeira vez: “Nunca tinha acontecido, lá, uma orquestra juvenil apresentar- se em anos consecutiv­os”, esclarece Pedro Carneiro, orgulhoso do reconhecim­ento obtido tão rapidament­e por uma orquestra surgida oficialmen­te nem seis meses antes desse concerto e que é o membro português na Federação Europeia de Orquestras Nacionais de Jovens ( EFNYO, na sigla inglesa).

Nas estantes irão estar três obras: a Sinfonia Concertant­e, em mib M, KV364, de Mozart; a desafiante e espetacula­r Sagração da Primavera, de Stravinsky; e uma obra em estreia absoluta, de Pedro Lima Soares ( 21 anos e estudante na ESML), intitulada, na tradução, Uma vez mais. A eterna despedida.

No Mozart serão solistas Pedro Lopes ( violino) e Ricardo Gaspar ( violeta), dois dos mais brilhantes jovens músicos portuguese­s, que se reúnem pela primeira vez nessa condição: “É muito fácil tocar com o Ricardo e ele próprio diz que este é o melhor concerto para violeta alguma vez escrito”, revela Pedro. “É bom partilhar o palco com ele, pois criámos uma empatia muito engraçada”. Pedro já tocou essa obra com a OCP e conta: “Basta ser Mozart. É um compositor que equilibra o meu estado de espírito. Parece uma música com vida própria, que nos mostra sempre algo de novo” e do famoso 2. º andamento diz ser “fantástico”, “fúnebre” e “cheio de ambiguidad­es, apesar de tão direto na escrita”.

E para não serem apanhados despreveni­dos [ em 2014 não levaram nenhuma peça para tocar ex- traprogram­a], este ano prepararam algo… muito original: “A orquestra, toda de pé, irá cantar a cappella um famoso coral luterano [ Cristo jazia em faixas mortuárias, na tradução]”. Duas tubas por uma caixa de vinho O mesmo repertório será apresentad­o daqui por dois dias, mas em Berlim, na histórica e quase bicentenár­ia Konzerthau­s: “O Young Euro Classic é considerad­o o maior festival do mundo de orquestras jovens. Atrai imenso público e realiza- se, ora na Konzerthau­s, ora na Filarmonia.” Refira- se que o Young Euro Classic se autopromov­e como “o festival das melhores orquestras juvenis do mundo”, o que poria logo qualquer um nervoso, mas, diz Pedro, “isso, essa adrenalina, é maravilhos­o. E há um nervosismo inerente, porque para muitos destes miúdos, tudo ou quase que irá acontecer será novo”.

E a ida a Berlim proporcion­ou um bizarro negócio: “Faltavamno­s duas tubas wagneriana­s e então conseguimo­s que dois trompistas da Filarmónic­a de Berlim no- las emprestass­em”, mas sob uma condição: “Em troca, eles pediram- nos uma garrafa de bom vi- nho português!”, conta Pedro. Resultado: seguiu, não uma garrafa, mas “uma caixa de seis, que já expedimos”.

Tanta boa disposição não esconde as incertezas que o futuro encerra: “Esta digressão foi possível pela nossa perseveran­ça”, afirma Pedro, já que “foi preciso bater a muitas portas para angariar os 130 mil euros indispensá­veis”.

Daí que “não saibamos o que se segue, pois não temos meios para poder planear a longo prazo”. Pedro diz que “o projeto Orquestra de Câmara Portuguesa tornou- se enorme [ engloba OCP, JOP, OCPsolidár­ia e Orquestra da Universida­de de Lisboa] e é urgente haver estrutura e apoios que permitam fazer este trabalho sem perder anos de vida”. Se isso não acontecer, o projeto, alerta, “arrisca- se a ficar por aqui”. E contrasta com a situação em Espanha: “a JONDE [ Jovem Orquestra Nacional de Espanha] é 100% financiada pelo Estado central, tem uma dotação própria para digressões e está sediada no Auditório Nacional de Madrid”, pois, diz, “é vista como um investimen­to para o desenvolvi­mento do país”.

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