Diário de Notícias

Maria João Pires e Coro Gulbenkian nomeados para óscares da clássica

Gravações de dois concertos de Beethoven e de uma ópera de Richard Strauss valeram à pianista e ao coro respetivam­ente nomeações para prémios da revista inglesa Gramophone

- B E R NARDO MARI A NO Concertos

Gravações de dois concertos de Beethoven – “de uma ordem de grandeza diferente” – valeram à pianista a nomeação, enquanto o coro é destacado pela interpreta­ção na produção de luxo de Elektra, ópera de Richard Strauss. Os prémios da revista inglesa Gramophone são considerad­os os óscares da música clássica mundial.

A pianista portuguesa Maria João Pires é candidata a receber em setembro um Prémio Gramophone na categoria Concerto pela gravação dos Concertos n. º3 e n. º 4, de Beethoven, com a Sinfónica da Rádio Sueca, dirigida por Daniel Harding. Trata- se da sua gravação de estreia para a Onyx Classics, etiqueta para a qual grava desde 2014. Noutra categoria, a de Ópera, o Coro Gulbenkian é também candidato à obtenção de um Prémio Gramophone, pois integrou a produção da ópera Elektra, de Richard Strauss, no Festival de Arte Lírica de Aix-en- Provence de 2013, cuja edição em DVD ( saída na Bel Air Classiques) se perfila na lista dos seis possíveis vencedores.

Os prémios da revista Gramophone são atribuídos anualmente desde 1977, sempre no mês de setembro, em Londres, e destinam- se a premiar exclusivam­ente gravações editadas desde o verão do ano anterior. Divididos em 17 categorias ( 12 de gravações e cinco prémios especiais), são considerad­os comummente como os óscares da música clássica mundial. Dentre os 12 vencedores, é depois votada a Gravação do Ano.

Na recensão à gravação de Maria João Pires saída na edição de outubro de 2014 da revista britânica, Bryce Morrison ( um dos críticos decanos da mesma) não poupa elogios às qualidades da pianista: “Poucas interpreta­ções na atualidade entram sequer na ‘ mira’ clássico- romântica de Pires”, pois, diz, “as interpreta­ções de Pires são muito simplesmen­te de uma outra ordem [ de grandeza]”. Assim, pode ler- se ali, a respeito do Quarto Concerto, que “já não sentia uma perceção tão fascinante da inefável poesia desta obra desde as interpreta­ções de Myra Hess [ 1890- 1965]”, e que “até o grande Arrau [ Claudio Arrau, 1903- 1991] certamente se iria maravilhar perante a pureza e resplendor do pianismo de Pires” e fala ainda a propósito do 2. º andamento, de “prodígios de eloquência e transparên­cia”.

Numa avaliação mais global, diz que “ela está entre aqueles artistas verdadeira­mente grandes que, no dizer de Charles Rosen [ pianista, 1927- 2012], parecem fazer tão pouco e, no final, fazem tudo”, concluindo dizendo que “não nos poderá surpreende­r que as suas numerosas interpreta­ções deste

Maria João Pires está atualmente baseada na Bélgica e continua a tocar pelo mundo fora

O Coro Gulbenkian celebrou 50 anos na temporada passada concerto [ on. º 4] em Londres e alhures se tenham tornado motivo de lendas” e fecha com um voto: “É meu desejo mais dileto que daqui nasça um ciclo completo [ dos cinco concertos de Beethoven].”

A pianista portuguesa tem para este prémio uma concorrênc­ia forte, formada pelo também pianista Leif Ove Andsnes, a violinista Arabella Steinbache­r, a violonceli­sta Alisa Weilerstei­n, a jovem ( de apenas 21 anos) violinista norueguesa Guro Kleven Hagen e o oboísta britânico Nicholas Daniel.

Já a Elektra em que o Coro Gulbenkian participou foi uma produção de luxo e das que mais ressonânci­a obteve em anos recentes no Festival de Aix, após o que já passou ou irá passar por teatros como o Scala de Milão, o Met de Nova Iorque, a Ópera Estatal de Berlim, o Liceu de Barcelona e a Ópera Nacional da Finlândia. Foi a última encenação de Patrice Chéreau ( o realizador e diretor teatral francês morreria três meses de- pois) e ao finlandês Esa- Pekka Salonen coube a direção musical, à frente da Orchestre de Paris e de um elenco de exceção, liderado por três notáveis cantoras: Evelyn Herlitzius, Waltraud Meier e Adrianne Pieczonka.

Contra esta Elektra concorrem duas óperas de Wagner – Parsifal ( do Met) e O Navio Fantasma ( Andris Nelsons) –, mais três outros títulos do século XX: Moisés e Aarão, de Schönberg ( Sylvain Cambreling); a Lulu, de Alban Berg ( do Teatro La Monnaie), e a Morte em Veneza, de Benjamin Britten ( produção da English National Opera).

Outras presenças relevantes são a do pianista nosso bem conhecido Grigory Sokolov ( visita frequente da Gulbenkian e da Casa da Música) na categoria Solo Instrument­al pela gravação de um recital seu no Festival de Salzburgo em 2008; do maestro Claudio Abbado, pela gravação da Nona Sinfonia de Bruckner com a Orquestra do Festival de Lucerna, cinco meses antes de morrer ( na categoria Orquestral); e do popular mezzo italiano Cecilia Bartoli, pelo disco temático Saint Petersburg ( na categoria Recital).

Agora é esperar pelo veredicto dos críticos. A data já está marcada: 17 de setembro.

Este é um dos mais recentes registos na abundante discografi­a do Coro, saído na Naxos: duas obras coral- orquestrai­s de António Pinho Vargas ( edição recenseada no DN de 13 de junho).

De outubro a maio, o Coro está ativo na temporada da Fundação. Ficam três momentos: a 17 de outubro, canta Bach em São Roque; a 14 e 15 de novembro, faz com o Coro Participat­ivo O Messias, na Fundação; e dias depois, nos Coliseus, atua na apresentaç­ão do novo CD de Rodrigo Leão.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal