Diário de Notícias

“PARA AS MINHAS IRMÃS E PAIS FOI UM ESFORÇO LER O MEU IRMÃO, DEVIDO AO TEMA”

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Quais são as perguntas que os leitores fazem repetidame­nte? Os três assuntos que geram mais c ur i os i dade a os le i t ore ss ã o: o próximo livro, a questão do Eça [ de Queiroz] eo c a r á t e r mais ou menos autobiográ­fico deste livro. É fácil aguentar uma narrativa até às 365 páginas, ou gostaria de ter escrito mais? Mais não conseguia. Já tinha esgotado o livro e tinha esgotado a história. O i nício do l i vro foi muito complicado porque tinha o narrador, o irmão e uma aldeia abandonada. Quer dizer, temos um irmão deficiente, temos um narrador com as suas próprias dificuldad­es. Como é que isto resulta? Como é que consigo sust e nt a r uma hi s t ór i a as s i m? Enfim, o irmão sai de casa, vai ver as estrelas, volta e comenta. O narrador vai dar um passeio. Isto é bastante difícil até determinad­o ponto. Por is s o é que aquelas figuras da aldeia ajudaram muito, eram uma bengala para a pr ópr i a narra t i va e um es c a pe para os próprios irmãos. A partir daí, eles foram ganhando uma vida própria, tinham uma história para contar enquanto viveram em conjunto. Em muito sustentand­o- se um ao outro. De - pois, a narrativa começa a ser mais f ocada no que se tinha passado antes de estarem no Tojal e torna- se mais fácil escrever porque tinha mais ação. Tem mais quatro irmãs. Elas já leram o seu livro? Leram, leram. Claro. E os seus pais? Também. Portanto, lá em casa é lido por toda a gente. Sim, mesmo que para as minhas irmãs e pais tenha sido um es - forço grande a leitura, devido ao tema. E o seu irmão... Sobre o meu irmão não falo, não vale a pena tentar. Entre os livros de que fez revisão está um da Agustina Bessa- Luiz. Como é pegar numa autora consagradí­ssima e estar a procurar- lhe os erros? É com um respeito absoluto. Simplesmen­te catar as gralhas, os erros tipográfic­os e mais nada. Portanto, não foi um esforço grande. Esse tempo é uma parte da sua vida que é passado porque este Prémio Leya fê- lo perder o direito à vida normal? Não! Eu tenho uma vida normalíssi­ma. Claro que tudo tem consequênc­ias. Eu não posso ter só a parte simpática e boa de um prémio e viver sem a outra face, mas as coisas abrandam. A própria editora pressionou muito, pois é a primeira vez que um romance do Prémio Leya foi antecipado e o livro publicado de imediato... Ainda não encontrei grandes tubarões. Não vejo as coisas sob esse aspeto, não ponho as coisas em termos de zoologia. Sim, mas este prémio é um investimen­to e exige resultados. Como eu também queria o livro fechado rapidament­e, estávamos bem uns para os outros. Tem havido pedidos para traduções de editoras estrangeir­as? Penso que se está a trabalhar nisso, mas ainda não há nada de concreto. É uma hipótese que se verificou noutros casos do Prémio Leya. Era bom, gostaria muito.

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