Um grande bang
Éolhar para o que está a acontecer na China, a excêntrica intervenção do governo para segurar o mercado de capitais – corroído por especulação e falta de transparência –, para se compreender a dimensão do risco assumido pelo Banco de Portugal ao escolher os chineses da Anbang ( um nome auspicioso) como o favorito à compra do Novo Banco. Já aqui se escreveu há um mês: o sistema financeiro da China é enorme e poderoso, mas também é opaco e, por definição, perigoso. Como se viu nos últimos anos, todo o negócio bancário exige múltiplas cautelas e reguladores com dentes afiados para evitar derrocadas com efeitos catastróficos em toda a economia, buracos colossais que depois levam anos a resolver. Esta é a lição dos últimos anos pelo mundo inteiro, não apenas em Portugal, onde o BES e em menor escala o BPP, mas também os problemas no Montepio e no Banif, confirmaram que a tendência para abusar passou a fazer parte da natureza do negócio financeiro. A reputação dos banqueiros ainda está, portanto, nos cuidados intensivos, embora haja exceções. O Banco de Portugal, colocado na esquizofrénica posição de regulador e vendedor, conhece melhor do que ninguém os riscos que se perfilam, ainda assim parece estar a convencer- se ( a decisão não está fechada) de que a reputação da Anbang é suficiente para que o terceiro maior banco nacional, chave no financiamento às empresas e central na vida das famílias, possa ser gerido a partir dos humores de Pequim. O preço oferecido pesará muito na decisão, não poderia ser de outra maneira, os bons bancos não se oferecem, mas o perfil do comprador também deveria ocupar um papel relevante, talvez até determinante, de modo a evitar calafrios futuros. Quando o processo de venda estiver concluído, o Banco de Portugal terá de justificar a escolha com detalhe. Mais difícil será ouvir os acionistas chineses, nada disponíveis para prestar contas em público. Há maus hábitos que nunca mudam.