A internacionalista e a libertária que querem suceder a Cavaco
Independente Graça Castanho quer valorizar a dimensão externa de Portugal, Manuela Gonzaga, apoiada pelo PAN, critica o “canibalismo económico” e os ataques ao planeta
Tão diferentes quanto contestatárias, tão inconformadas quanto contidas nas palavras sobre o atual Presidente da República. Eis Graça Castanho, independente que já está na estrada desde abril, e Manuela Gonzaga, ativista apoiada pelo Pessoas- Animais- Natureza ( PAN), que nesta semana confirmou também ser candidata à sucessão de Cavaco Silva, no próximo ano.
Graça Castanho é professora na Universidade dos Açores e, ao DN, confessa que chegou a uma fase da sua vida “em que a insatisfação é o que mais a caracteriza como cidadã”. Daí, sublinha, ter sentido o impulso de ir a jogo e dar o seu contributo. “De Portugal para o mundo” é o slogan da sua campanha, ideia que repete para salientar que o nosso país “não se concretiza e não se valoriza se não atendermos à dimensão internacional e intercontinental da portugalidade”.
Na base da candidatura está a ideia de que Portugal tem de se focar no “aprofundamento da rela- ção com a União Europeia ( UE) e com os países de língua oficial portuguesa”, pelo que lamenta que “tenhamos vivido de costas para o mar” – bandeira de Cavaco nos últimos tempos. Europeísta e internacionalista assumida, ilustra a perspetiva ao revelar que os principais documentos da sua candidatura vão ser publicados também em inglês, francês e alemão.
Não se posicionando “à esquerda, nem ao centro, nem à direita”, a açoriana frisa que se apresenta “numa campanha circular, sem lateralidade políticas”, isto é, recusa “apoios de qualquer máquina partidária, especialmente das que têm exercido o poder com a alternância que conhecemos”, embora não feche a porta a quem provenha de forças políticas e se apresente a título individual.
Sobre o cargo que tenciona exercer, defende “apenas um mandato”, até porque considera “um pressuposto inválido que se faça crer ao país que a figura presidencial é incontornável, insubstituível”. Graça Castanho insiste uma e outra vez na “moralização da política” e pede que o exemplo venha “de cima”. É também do topo da pirâmide que pretende ver a “magistratura de influência” a ser exercida. Até ao nível comunitário. “O Presidente não é uma figura de estilo. Há muitas discussões mais alargadas na UE que se devem fazer ouvindo- o”, reforça.
Nessas discussões insere a possibilidade de existência de códigos fiscais e penais comuns, de legislação única no plano dos direitos humanos e até a revisão da Constituição. “Está ultrapassada, não serve, toda a gente sabe”, atira a docente, que pede ainda uma revisão do sistema eleitoral através da introdução do voto preferencial e da existência de cadeiras vazias no Parlamento consoante o número de votos em branco nas legislativas.
Preocupações diferentes tem Manuela Gonzaga. Ambientalista e libertária, a escritora e historiadora considera que o “grande desígnio” da sua candidatura é “pôr as pessoas a pensar, falar e fazer um apelo à liberdade individual e coletiva”. “Estamos sob a tutela do medo e o medo não nos deixa raciocinar”, vinca antes de falar em várias “guerras”.
Contra os incêndios, contra os “formulários económicos que vêm do Banco Central Europeu” e contra a violência de género. “Se fosse presidente”, adianta, convocaria o Conselho de Estado e as Forças Armadas para combater um “inimigo que tem muitos rostos”: os incendiários ( negligentes ou com objetivos financeiros).
Na mesma toada de indignação, é apologista de uma “cruzada de coração e de racionalidade pelos animais” e pelo meio ambiente. “Não somos donos da Terra, estamos cá de passagem”, observa para depois criticar a “agressividade da indústria agropecuária”. “O [ documentário] Cowspiracy fala por si”, acrescenta, para enfatizar os efeitos que aquela atividade tem no planeta e o sofrimento que provoca aos animais. “Da mesma forma que não se esfolam cães vivos para se fazer casacos de pele. Temos de ter consciência do que estamos a fazer. Se o fazemos por automatismo, moda ou costume, não somos livres”, prossegue Manuela Gonzaga, que se assume de esquerda, apesar de rejeitar as definições clássicas do espectro político.
Por outro lado, diz que tudo o resto tem falhado por causa da educação. “Temos de perceber o que falhou. Estamos a pagar a privatização do ensino”, nota em jeito de crítica ao “canibalismo económico” a nível mundial.
Quanto às eleições – e sem apontar o dedo a Cavaco –, Manuela Gonzaga remata com a ideia de que “vão servir para alertar consciências”. No presente e para futuro, “muito poucos não podem estar a tirar tudo a todos”.