Diário de Notícias

Lula admite erros mas defende a sua delfim

“Estava quieto no meu canto mas vou voltar a viajar por esse país”, diz ex- presidente, que se reúne com trabalhado­ras rurais à noite e depois toma pequeno- almoço com senadores

- JOÃO AL MEIDA MOREIRA, São Paulo

Em vésperas de uma manifestaç­ão que promete paralisar o Brasil no próximo domingo – e com movimentaç­ões cada vez mais robustas do lado da oposição no sentido de um impeachmen­t – Dilma Rousseff ganhou dois apoios de peso: primeiro, de Renan Calheiros, o presidente do Senado, que considerou “incendiári­a” uma eventual queda da presidente e depois de Lula da Silva, disposto a espalhar a sua ainda indiscutív­el popularida­de por todo o país, dos corredores de Brasília às profundeza­s do Sertão.

“Eu estava quieto no meu canto, mas todo o santo dia sofro uma provocação, portanto eu queria dizer- vos que vou voltar a viajar por esse país”, disse terça- feira à noite o ex- líder do Partido dos Trabalhado­res ( PT), perante uma plateia em delírio, constituíd­a por trabalhado­ras rurais organizada­s no movi- mento Marcha das Margaridas. “É lógico que a Dilma errou, como eu errei, como todas vocês já erraram como mães perante os vossos filhos, nem sempre acertamos a 100%, mas, se ela errou, ela é nossa, e nós temos de ajudá- la a consertar os erros para esse país ficar muito melhor”, afirmou, sobre a sua sucessora, o homem que foi presidente do Brasil entre 2003 e 2010.

Lula voltou a culpar a crise internacio­nal pela crise brasileira – apesar de durante o seu governo ter prometido imunidade ao impacto da mesma. “A crise não nasceu em Quirexamob­im ou em Garanhuns [ pequenas cidades rurais da região Nordeste], nem sequer em Brasília, começou lá no coração dos EUA e no coração da Europa, não foi o povo trabalhado­r que a causou, foram os banqueiros internacio­nais”, afirmou o ex- chefe do Estado brasileiro, que está a ser investigad­o pela procurador­ia brasileira por tráfico de influência­s para facilitar negócios da construtor­a Ode- brecht. Esta está a ser investigad­a no âmbito da Operação Lava- Jato ( por sua vez relacionad­a com o caso do Petrolão).

Noutro tom, Lula reuniu- se na manhã de ontem com as cúpulas do Partido do Movimento da Democracia Brasileira ( PMDB), na teoria o principal aliado do PT no governo mas na prática um dos seus principais obstáculos. No encontro estiveram, além de José Sarney, o presidente do Brasil de 1985 a 1990, de dois ministros do partido e de dois senadores, o vice- presidente Michel Temer.

Temer, que causou um furacão político na semana passada ao dizer que “era necessário alguém para unificar o país”, dando a entender que esse alguém não podia ser Dilma mas sim ele próprio, deixou- se fotografar sorridente com Lula, ao final do pequeno- almoço conjunto.

É a segunda tentativa em menos de 48 horas do governo – ou de Lula em nome próprio – de se aproxi- mar do maior dos seus aliados, depois de na noite de segunda- feira Dilma Rousseff e o presidente do Senado, Renan Calheiros, terem acordado ao jantar o apoio do segundo ao ajustament­o orçamental promovido pela primeira.

Calheiros, que antes do encontro estava indeciso em relação ao i mpeachment e que depois do mesmo o considerou “incendiár i o”, pediu em t roca que Dilma acolhesse 27 sugestões do Senado para a política económica – sugestões que, segundo a i mprensa brasileira, ser vem l óbis com forte peso entre os senadores, como o das empresas de planos de saúde.

Dilma elogiou o pacote, mesmo assim, sabendo que este pode ser o peso a pagar pelo isolamento de Eduardo Cunha, líder da Câmara dos Deputados e agora único defensor declarado do impeachmen­t entre os presidente­s dos órgãos de soberania. Isto apesar de ser colega de partido de Calheiros.

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Ex- presidente Lula da Silva na cerimónia de abertura da Marcha das Margaridas, nesta terça- feira à noite, em Brasília

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