Lula admite erros mas defende a sua delfim
“Estava quieto no meu canto mas vou voltar a viajar por esse país”, diz ex- presidente, que se reúne com trabalhadoras rurais à noite e depois toma pequeno- almoço com senadores
Em vésperas de uma manifestação que promete paralisar o Brasil no próximo domingo – e com movimentações cada vez mais robustas do lado da oposição no sentido de um impeachment – Dilma Rousseff ganhou dois apoios de peso: primeiro, de Renan Calheiros, o presidente do Senado, que considerou “incendiária” uma eventual queda da presidente e depois de Lula da Silva, disposto a espalhar a sua ainda indiscutível popularidade por todo o país, dos corredores de Brasília às profundezas do Sertão.
“Eu estava quieto no meu canto, mas todo o santo dia sofro uma provocação, portanto eu queria dizer- vos que vou voltar a viajar por esse país”, disse terça- feira à noite o ex- líder do Partido dos Trabalhadores ( PT), perante uma plateia em delírio, constituída por trabalhadoras rurais organizadas no movi- mento Marcha das Margaridas. “É lógico que a Dilma errou, como eu errei, como todas vocês já erraram como mães perante os vossos filhos, nem sempre acertamos a 100%, mas, se ela errou, ela é nossa, e nós temos de ajudá- la a consertar os erros para esse país ficar muito melhor”, afirmou, sobre a sua sucessora, o homem que foi presidente do Brasil entre 2003 e 2010.
Lula voltou a culpar a crise internacional pela crise brasileira – apesar de durante o seu governo ter prometido imunidade ao impacto da mesma. “A crise não nasceu em Quirexamobim ou em Garanhuns [ pequenas cidades rurais da região Nordeste], nem sequer em Brasília, começou lá no coração dos EUA e no coração da Europa, não foi o povo trabalhador que a causou, foram os banqueiros internacionais”, afirmou o ex- chefe do Estado brasileiro, que está a ser investigado pela procuradoria brasileira por tráfico de influências para facilitar negócios da construtora Ode- brecht. Esta está a ser investigada no âmbito da Operação Lava- Jato ( por sua vez relacionada com o caso do Petrolão).
Noutro tom, Lula reuniu- se na manhã de ontem com as cúpulas do Partido do Movimento da Democracia Brasileira ( PMDB), na teoria o principal aliado do PT no governo mas na prática um dos seus principais obstáculos. No encontro estiveram, além de José Sarney, o presidente do Brasil de 1985 a 1990, de dois ministros do partido e de dois senadores, o vice- presidente Michel Temer.
Temer, que causou um furacão político na semana passada ao dizer que “era necessário alguém para unificar o país”, dando a entender que esse alguém não podia ser Dilma mas sim ele próprio, deixou- se fotografar sorridente com Lula, ao final do pequeno- almoço conjunto.
É a segunda tentativa em menos de 48 horas do governo – ou de Lula em nome próprio – de se aproxi- mar do maior dos seus aliados, depois de na noite de segunda- feira Dilma Rousseff e o presidente do Senado, Renan Calheiros, terem acordado ao jantar o apoio do segundo ao ajustamento orçamental promovido pela primeira.
Calheiros, que antes do encontro estava indeciso em relação ao i mpeachment e que depois do mesmo o considerou “incendiár i o”, pediu em t roca que Dilma acolhesse 27 sugestões do Senado para a política económica – sugestões que, segundo a i mprensa brasileira, ser vem l óbis com forte peso entre os senadores, como o das empresas de planos de saúde.
Dilma elogiou o pacote, mesmo assim, sabendo que este pode ser o peso a pagar pelo isolamento de Eduardo Cunha, líder da Câmara dos Deputados e agora único defensor declarado do impeachment entre os presidentes dos órgãos de soberania. Isto apesar de ser colega de partido de Calheiros.