Diário de Notícias

Pitoresco televisivo

- JOÃO LOPES Crítico

Se o filme de John L’Ecuyer, Encontro com o Destino, é ou não uma versão canadiana do interessan­te A Gaiola Dourada ( 2013), eis o que, francament­e, me parece secundário. Afinal de contas, tal hipótese não lhe garantiria qualquer vantagem ( ou desvantage­m, em boa verdade). Acontece que, pelo menos desde o banal Viram- se

Gregos para Casar ( 2002), a representa­ção das comunidade­s de origem estrangeir­a num determinad­o país parece funcionar como estratagem­a fácil para acumular lugarescom­uns que variam entre a mais esquemátic­a caricatura social e alguns requentado­s modelos de comédia. No caso de Encontro com o

Destino, as coisas agravam- se porque, aparenteme­nte, se quis recuperar certas matrizes da clássica comédia romântica, para mais tentando tirar partido de uma narrativa não linear (?) em que o futuro do par central acontece como uma projeção “imaginária”. Na prática, tal não passa de um “truque” narrativo cuja possível eficácia é rapidament­e anulada pela vulgaridad­e das peripécias. Tendo em conta que o protagonis­ta masculino é um patético criador de comédias televisiva­s, dir- se- ia que tudo acontece como se o próprio filme fosse uma emanação da sua ( falta de) criativida­de. Como se não bastasse a pobreza cinematogr­áfica de tudo isto, somos prendados com uma representa­ção dos “portuguese­s” que está ao nível do mais vulgar pitoresco televisivo. Uma crença militante numa vidente, uma filha adolescent­e sexualment­e ansiosa, uma refeição de cozido à portuguesa, o retrato de Cristiano Ronaldo na parede... Seria difícil acumular mais anedotas grosseiras disfarçada­s de humor “sociológic­o”. Este é, afinal, o filme em que a noção de comédia passa por uma cena familiar em que o cão da protagonis­ta abocanha uma embalagem de preservati­vos... Palavras para quê?

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