Symmonds. Guerra em defesa dos atletas ou em benefício próprio?
Norte- americano banido do campeonato do mundo em Pequim, por recusar assinar documento que o obrigava a vestir Nike
Estará Nick Symmonds a ser vítima de uma guerra de patrocínios ou será que o hexacampeão norte- americano dos 800 metros está a criar uma guerra em benefício próprio, ao recusar vestir a marca que patrocina a seleção dos EUA? As opiniões dividem- se. Para já, o atleta foi afastado do Mundial de Atletismo de Pequim, que começa no dia 22, pela federação americana ( USATD).
O valor desportivo do atleta é incontornável. Terminou os Jogos Olímpicos de Londres 2012 no 5. º lugar, com um recorde pessoal de 1.42,95 minutos, por exemplo. Este ano fez mínimos para o mundial. Foi selecionado, mas quando recebeu a convocatória a polémica estalou. O meio fundista recusou- se a assinar o documento em que se comprometia a vestir o kit Nike, obrigatório para todos os atletas norte- americanos que competem nas competições internacionais.
Ou seja, os atletas são obrigados a vestir o equipamento nacional feito pela Nike em todas as representações oficiais ( seja a correr, nas horas de descanso ou no pódio), fruto do contrato assinado entre a federação americana de atletismo e a marca de equipamentos desportivos. Mas Symmonds contestou os termos do contrato e questionou: “O que é uma representação oficial da seleção dos EUA?”
A resposta da USATF foi dura. “Se não assinar o documento, Symmonds não vai integrar a equipa”, respondeu Jill Geer, porta- voz da federação, após o atleta ter denunciado o caso nas redes sociais. E justificou que a federação gasta mais de 2,5 milhões de euros em espaço televisivo, durante o ano, para transmitir provas que divulgam os atletas, a sua imagem e os seus patrocinadores pessoais.
No entanto, o meio fundista não se intimidou, não assinou e foi afastado. Algo que o atleta não aceitou bem e já anunciou que pretende processar a USATF, por afastamento indevido.
Além disso, Symmonds promete revelar documentos que diz provarem que a federação rouba os atletas. Em causa, segundo ele, os apenas 8% do valor do contrato que a federação distribuiu pelos atletas, enquanto no basquetebol os jogadores da NBA recebem a 50%. Por isso o corredor acusa a USAFT de “lucrar com a imagem e esforço dos atletas”.
E diz ser essa a sua verdadeira luta. Porque, aos 31 anos, sabe que “está perto da reforma” e só lhe “restam mais uns anos em alta competição”, mas quer deixar o atletismo “mais limpo” do que o encontrou e defender os direitos dos atletas. Sobre o afastamento do Mundial, Symmonds disse estar “triste e dececionado”, porque lutou muito para conseguir o apura- mento nas pistas. E lamenta que a federação nem tenha aceitado uma negociação para chegar a um acordo e resolver a situação.
Mas também há quem acuse Symmonds de utilizar esta guerra como estratégia publicitária, para benefício próprio e das marcas que o patrocinam. Em defesa dele, o americano há muito que se mostra revoltado com aquilo que ele considera serem “regras absurdas e rígidas” que condicionam a rentabilização financeira da imagem dos atletas e dos seus patrocinadores.
Em 2012, antes dos Jogos Olímpicos, encontrou uma forma de contornar as restrições publicitárias da Federação Internacional de Atletismo, do Comité Olímpico Internacional e da USATF. Como? Leiloou um espaço no próprio corpo por 11 mil dólares ( cerca de 8 mil euros) e tatuou o Twitter da empresa vencedora no braço.
E explicou porquê: “Vou ter de tapar a tatuagem em alguns momentos por causa das regras, mas isso dá ainda mais valor à decisão, pelo facto de ter de cobri- la. Um atleta a correr com uma faixa no braço é engraçado. Tenho certeza de que serei questionado várias vezes o porquê e vou dizer que a empresa tal está a patrocinar- me, mas que não posso mostrar o nome por conta de regras antiquadas.”
Esta guerra levou o jornal Financial Times a explorar a importância da referida marca no mercado dos equipamentos desportivos para profissionais nos EUA. E chegou à conclusão de que a Nike domina com uma quota de mercado de 60%, enquanto o outro gigante mundial, a Adidas, só tem 4,4%.