Diário de Notícias

AFONSO REIS CABRAL

Escritor

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É o mais novo escritor das últimas décadas. Coisa assim há muito tempo que não aparecia, principalm­ente não se via entrar ninguém para o palco da literatura com o estrondo que o Prémio Leya proporcion­ou ao seu vencedor. Afonso Reis Cabral também não facilitou e logo fez uma declaração que chamou a atenção para a sua identidade própria enquanto escritor, a de que ser descendent­e de Eça de Queiroz não era razão para também ser escritor, nem a genialidad­e da escrita vem por arrasto. Não há genética na literatura, garante. Posto o Eça a milhas, havia uma outra particular­idade no seu primeiro romance, a de contar uma história que tem paralelo com a vida –e a doença – do irmão. Aliás, o título do romance era direto: O Meu Ir

mão. Tema que também foi erradicado das entrevista­s por ser privado, mas que impression­ou o júri pela brutalidad­e com que algumas falas surgiam no manuscrito e que, quando soube que o autor era um jovem de 24 anos, ainda ratificou mais a escolha anteriorme­nte feita. Como é que se escreve desta forma com aquela idade, perguntava o júri? Nesta entrevista, o autor explica tudo. Como nasce a ideia, como a escreve e como luta contra a falta de estrutura prévia. Como vai ser a continuaçã­o da sua vida literária e como está a nascer o próximo romance. Só não revela a temática, afinal o segredo é o grande trunfo do criador. Uma atitude que confirma que de deslumbram­ento há muito pouco neste escritor e que a carreira está a ser ponderada com cuidado. Uma atenção que se pode confirmar no modo como responde às perguntas que mais o colocam em perigo, como é o caso da resposta ao ataque que António Lobo Antunes lhe fez quando soube a idade e o valor do cheque que o Prémio Leya lhe concedia. É um escritor em construção, que não receia a página em branco.

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