Diário de Notícias

Governo já contrata mais funcionári­os do que despede

Em ano das eleições legislativ­as começam a surgir efeitos concretos de menor austeridad­e na área de pessoal. Troika já criticou sinais de “complacênc­ia”

- LUÍS REIS RIBEIRO

Descontand­o o efeito das passagens à reforma, entre janeiro e junho o Estado contratou mais do que despediu, o que não acontecia pelo menos desde 2012. Nos primeiros seis meses foram recrutados 10 621 funcionári­os e saíram 9842. Troika já criticou sinais de “complacênc­ia”.

Mais cedo ou mais tarde iria acontecer. No primeiro semestre deste ano, o número de novas contrataçõ­es na administra­ção pública ultrapasso­u, pela primeira vez pelo menos desde 2012, o das saídas, expurgando, claro, as aposentaçõ­es. Mesmo assim, estas últimas estão a perder peso.

O volume de novos recrutamen­tos superou o dos casos de “caducidade [ termo] de contrato” e de “extinção da relação de emprego”, na prática, despedimen­tos. O caso mais notório é o dos professore­s contratado­s, mas há exemplos noutras profissões, como na Administra­ção Interna e na Defesa.

Os dados do governo, divulgados recentemen­te pela Direção- Geral da Administra­ção e do Emprego Público ( DGAEP, Finanças), permitem ver que, no primeiro semestre do ano, foram recrutadas 13 519 pessoas, uma subida significat­iva de 49% face a igual período de 2014. Há um ano, a nova contrataçã­o tinha aumentado 24% face a janeiro- junho de 2013.

A principal via de saída do Estado é a aposentaçã­o – no primeiro semestre reformaram- se 3532 pessoas, menos de metade que na primeira metade de 2014 ( 7307). É uma via de saída mais natural do que a cessação pura de vínculo. A primeira afeta tendencial­mente os trabalhado­res antigos, em fim de carreira e traduz- se a prazo em despesa pública ( pagamento de pensões). A se- gunda diz mais das intenções de emagrecime­nto da máquina.

Sem o efeito de passagem à reforma, as saídas definitiva­s, 12 096 no primeiro semestre, foram inferiores às novas entradas ( ver gráfico). Com as aposentaçõ­es, as saídas são mais do que as entradas, mas a diferença face ao ano passado é abissal. A destruição de emprego público na primeira metade de 2014 foi de quase 11 mil; até junho último, a redução efetiva de empregos ia em 1220 ( um alívio de 89%). Optou- se por fazer a comparação homóloga para contornar o problema da sazonalida­de.

A DG das Finanças destaca isso: no primeiro semestre, há o “efeito essencialm­ente da saída de trabalhado­res no Ministério da Educação em consequênc­ia da cessação de contrato no último mês de aulas do ano letivo 2014- 2015”, nas escolas do ensino básico e secundário.

A DGAEP chama a atenção para outro problema. Há empresas reclassifi­cadas que neste ano aparecem no radar ao contrário do que acontecia em 2014. Ainda assim, expurgando essas entidades, as entradas sobem 18% até junho( para 10 621 contrataçõ­es) e suplantam as saídas, que caem 14% ( para 9842 despedimen­tos e descontinu­ações de vínculo). No primeiro semestre do ano passado isso não acontecia. Nem em 2014 como um todo.

A gestão de pessoal nas AP conta ainda com a via da mobilidade. Nas entradas manifesta- se em “recrutamen­tos internos, mobilidade [ em sentido estrito], nas cedências, regresso de licença sem vencimento ou de período experiment­al, comissões de serviço”. As saídas configuram casos de “mobilidade, cedência, início de licença sem vencimento, conclusão sem sucesso de período experiment­al, passagem à requalific­ação, fim de comissão de serviço”.

Contando com estes fluxos ( mas sem as aposentaçõ­es), o emprego público aumenta na primeira metade do ano. As entradas superam as saídas em 2312 empregos.

Do lado do governo as intenções são para tirar o pé do acelerador. Em abril, no Programa de Estabilida­de que enviou a Bruxelas, o executivo promete até uma descida ligeira nas despesas com o pessoal entre 2015 e 2019 “como resultado de uma política de racionaliz­ação do emprego público, que implica a hipótese de manutenção do volume do emprego”. “Isto é, ao contrário dos últimos anos, em que se registaram reduções significat­ivos no número de funcionári­os públicos [- 9,8% entre final de 2011 e final de 2014], esta trajetória assume a possibilid­ade de uma entrada por cada saída”, admite.

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