Economistas com dúvidas. Simulações são sempre “muito falíveis”
REAÇÕES “As simulações são sempre muito falíveis, é tudo sempre muito imprevisível”, diz, sobre o trabalho do PS, o economista João Ferreira do Amaral, ex- assessor de Jorge Sampaio na Presidência da República, um professor universitário claramente colocado na esquerda do espectro político, porta- estandarte há muito da ideia de saída assistida de Portugal do euro.
Do outro lado da “barricada” ideológica, João Duque, também professor universitário, alimenta iguais dúvidas sobre o otimismo do PS no que toca a simulações sobre a evolução do emprego e do crescimento económico até 2019. “Temo que seja tudo um bocado fora da realidade.”
Não localizável do ponto de vista ideológico, Medina Carreira – dissidente do PS já desde os idos de 1978, depois de ter sido ministro das Finanças de Mário Soares no I Governo Constitucional – também corrobora uma visão cética sobre as perspetivas que o PS tem desenhado a partir do efeito orçamental e económico das propostas que adotou no seu programa eleitoral. “O que o PS projeta para o crescimento económico parece- me um bocadinho otimista. Tenho dúvidas porque a própria Europa não cresce. E quando a Europa não cresce nós não crescemos.”
João Duque levanta outro problema – e esse de fundo, e não sobre se a folha Excel do PS tem as funções bem desenhadas ou não. É que, no seu entender, “é uma treta” a tese do PS segundo a qual um aumento da capacidade de consumo dos portugueses irá acelerar o crescimento da economia e a diminuição do desemprego. “O que o aumento do consumo provoca é
um aumento da dependência externa [ porque aumentam as importações]. O que puxa a economia é a procura externa [ mais exportações], não o consumo.”
João Ferreira do Amaral não é tão taxativo. Diz que o aumento do consumo implica “mais produção e mais emprego”, mas também tem, de facto, o senão de “implicar mais importações”. E isso, como anda a dizer há anos, é precisamente o principal problema de Portugal estar na zona euro. “Aumentar a capacidade de consumo agrava a situação económica do país porque agrava a balança externa.”
Por outras palavras, Medina Carreira partilha da mesma tese: o perigo de, tendo os portugueses mais dinheiro no bolso, isso descambar em mais importações. Segundo diz, o programa do PS “é keynesiano” – John Maynard Keynes ( 1883- 1946) defendeu que um Estado intervencionista na economia impulsionaria o emprego e o crescimento. Mas “as teorias do Keynes foram feitas quando havia alfândegas e porque havia alfândegas. E agora não há alfândegas”. Isto é, os governos não podem fechar a torneira das importações.