Diário de Notícias

Faltam meios para averiguar matrículas fraudulent­as

Pais e diretores dizem que irregulari­dades são minoria mas admitem que faltam os meios para verificar todos os casos suspeitos

- PE DRO S OUSA TAVA R E S

Representa­ntes de pais e diretores escolares dizem que as queixas de ultrapassa­gens fraudulent­as na matrícula de alunos em escolas públicas são relativame­nte raras. Mas concordam também que faltam meios para investigar as situações que geram suspeitas.

Ontem, a SIC Notícias revelou as denúncias – que já chegaram à Procurador­ia- Geral da República – de vários pais que tentaram sem sucesso inscrever os filhos em escolas básicas do Agrupament­o de Aveiro e acabaram por descobrir que, em muitos casos, tinham perdido o lugar para alunos que não cumpriam nenhum dos pressupost­os para ter prioridade no acesso, como terem irmãos no mesmo agrupament­o ou morarem perto do mesmo.

Uma mãe disse ao canal noticioso que as famílias dos alunos em causa terão recorrido a esquemas para contornar a legislação, “desde alterarem provisoria­mente o Cartão do Cidadão para efeitos de candidatur­a a darem para encarregad­os de educação pessoas que nada têm que ver com o agregado familiar” , de forma a inscrevere­m na morada dos menores um endereço próximo da escola.

Uma situação que terá já motivado um pedido de esclarecim­entos ao agrupament­o, da parte da Procurador­ia- Geral da República.

Segundo a SIC Notícias, a escola terá promovido averiguar os casos e eventualme­nte participar ao Ministério Público as situações suspeitas. Mas, ao DN, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupament­os e Escolas Públicas ( ANDAEP), reconheceu que os estabeleci­mentos “não têm meios” para averiguar eventuais irregulari­dades em larga escala. “Sanções” para os reincident­es “Isso acontece. Nós sabemos mas é difícil averiguarm­os isso”, admitiu. “Para um ou outro caso somos capazes de despistar, mas nos casos em que são muitos a escola não tem meios”, explicou. O presidente da ANDAEP acrescento­u que já foi proposto ao Ministério da Educação e Ciência ( MEC) a criação de “sanções, sobretudo para os pais que estão todos os anos a repetir o mesmo esquema”. Mas reconhe- ceu também que “não é fácil” encontrar uma penalizaçã­o que não acabe por ser prejudicia­l aos alunos filhos destas famílias.

Filinto Lima defendeu que este tipo de fraude “não é a regra” nas escolas. “Mas, dentro da exceção, o caso de Aveiro é dramático para os pais que acabam por ver defraudada­s as suas expetativa­s”.

Jorge Ascensão, da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais ( Confap), disse também que “não é muito comum” surgirem queixas nas associaçõe­s, sobretudo porque “são questões que são normalment­e tratadas entre as famílias e as escolas”.

“Volta e meia surge uma queixa de pais que se sentem injustiçad­os, nós tentamos perceber qual a razão [ para a aparente ultrapassa­gem] e normalment­e, quando não se trata apenas de uma falha de informação, conseguimo­s que se encontre uma solução, dentro dos interesses da família que nos aborda”, reconhecen­do também que “nem sempre” é fácil as escolas investigar­em. O DN questionou o Ministério da Educação e Ciência mas não teve resposta até ao fecho desta edição.

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