Portugal emite dívida a três meses com juros negativos
Tesouro colocou 1150 milhões de euros em bilhetes, a uma taxa de - 0,013%
Portugal regressou ontem ao mercado de dívida com a emissão de dois leilões de bilhetes do Tesouro, um a a três e outro a 11 meses. Na maturidade mais curta, o Estado português conseguiu financiar- se com juros negativos, tal como o Dinheiro Vivo tinha antecipado. A taxa foi de - 0,013%. No empréstimo a 11 meses, Portugal conseguiu baixar o juro para perto de mínimos históricos: 0,021%.
O IGCP pretendia colocar entre 750 milhões e mil milhões de euros e o montante levantado excedeu as previsões da instituição que gere a dívida pública, com o Tesouro a colocar 1150 milhões de euros, mas a procura foi menor do que nos leilões anteriores.
Na emissão a três meses, o Tesouro colocou 400 milhões de euros, com a procura a chegar aos 1257 milhões e a superar a oferta em 3,14 vezes. Na operação anterior, o rácio tinha sido de 5,1 vezes. Já na maturidade a 11 meses, foram colocados 750 milhões de euros em bilhetes do Tesouro, com a procura ( que ascendeu a 1505 milhões) a superar a oferta em 2,01 vezes, abaixo do rácio de 3,1 vezes registado no leilão anterior.
A envolvente monetária e política pode ser a explicação para os investidores estarem dispostos a emprestar mais dinheiro do que vão receber de volta. “O facto de o BCE se manter com uma política monetária expansionista, pelo menos até 2016, acaba sempre por trazer confiança ao investidores”, explica ao Dinheiro Vivo Tiago da Costa Cardoso, gestor da XTB. “Também a expectativa de uma situação política que traga continuidade à gestão de dívida feita nos últimos quatro anos e a situação mais consolidada na Grécia são fatores críticos para que se gere esta procura”, acrescenta.
Nas maturidades mais longas, vai ser “mais complicado” conseguir taxas tão baixas, diz o analista da XTB. “Mais importante do que as taxas serem negativas, é vermos consistência na queda das yields”, já que “só com essa consistência é que os investidores acreditarão no potencial da recuperação do país”, aponta, sublinhando que “na atual envolvente que vivemos, será expectável uma queda das taxas para emissões de médio e longo prazo”.
Seja como for, salienta Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa, “o f acto de as duas taxas serem próximas do zero” permite ao país “substituir dívida antiga com taxas mais elevadas por dívida nova com taxas mais baixas”. Steven Santos, gestor do BiG, lembra ainda que a emissão a três meses “irá vencer depois das eleições legislativas, agendadas para 4 de outubro, o que revela a confiança do mercado na envolvente política nacional”. Cristina Casalinho, presidente do IGCP