Diário de Notícias

Berlim aprova ajuda a Atenas. Chanceler com nova rebelião

Schäuble defendeu um “novo início” para a Grécia. Governo holandês sobreviveu a moção de censura e deu luz verde a resgate

- ANA MEIRELES

Sem surpresas, o Parlamento alemão deu ontem luz verde ao terceiro resgate à Grécia, com o ministro das Finanças a defender que Atenas tem direito a “um novo início”. Angela Merkel viu 63 dos seus 311 conservado­res votarem contra e 3 absterem- se, número ligeiramen­te acima do registado a 17 de julho, quando o Bundestag aprovou o início das negociaçõe­s. Mas mesmo assim, muito inferior aos 120 rebeldes que o jornal Bild vaticinava.

Graças, em parte, ao apoio dos sociais- democratas, o parceiro de coligação de Merkel, e a Os Verdes, o Parlamento alemão aprovou assim o novo pacote de ajuda à Grécia, no valor de 86 mil milhões de euros, com 454 deputados a favor, 113 contra e 18 abstenções.

“O problema não é a falta de solidaried­ade europeia, mas sim a falta de eficiência grega”, declarou no Bundestag Wolfgang Bosbach, um dos 66 conservado­res rebeldes. De recordar que a 17 de julho, 60 elementos da CDU/ CSU votaram contra e cinco abstiveram- se.

“Depois da experiênci­a dos últimos anos e meses não há garantias de que tudo vai funcionar e é aceitável ter dúvidas”, defendeu, por seu turno, o ministro das Finanças alemão. “Mas tendo em conta que o Parlamento grego já aprovou grande parte das medidas seria irresponsá­vel não usar a oportunida­de para um novo início na Grécia”, acrescento­u Wolfgang Schäuble, que nos últimos meses chegou a defender um grexit temporário.

Com viagem marcada para o Brasil após o debate ( ver página ao lado), a chanceler mostrou- se impassível enquanto Anton Hofreiter, um dos líderes de Os Verdes, atacava a linha dura de Berlim nas negociaçõe­s com Atenas. “A liderança de um governo alemão que atua dessa forma prejudica a coesão da Europa e desse modo prejudica a Alemanha porque prejudica a nossa imagem na Europa”, declarou Hofreiter.

Continuand­o a defesa do novo resgate à Grécia, Schäuble sublinhou que Atenas mudou claramente nas últimas semanas e que agora está pronta para fazer reformas. O responsáve­l pelas Finanças reiterou ainda que para a Alemanha é imperativo que o FMI continue ligado ao programa, apesar dos diferentes pontos de vista sobre o alívio da dívida grega. “Estou confiante de que chegaremos a uma avaliação conjunta da sustentabi­lidade da dívida grega em outubro”, declarou Schäuble, voltando a sublinhar a impossibil­idade de um corte da dívida. À procura de novos parceiros A Holanda também decidiu ontem apoiar o resgate a Atenas, depois de um debate no Parlamento no qual a credibilid­ade do primeiro- ministro, Mark Rutte, foi posta em causa.

O populista Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, apelidou Rutte de “pinóquio das terras baixas” e afirmou que o governante não teria sido eleito em 2012 se tivesse então admitido que apoiaria um novo programa de ajuda à Grécia. “A situação atual é totalmente diferente da que eu estimava em 2012”, respondeu Rutte. “Na política temos de assumir a responsabi­lidade pelas coisas e, por vezes, há promessas que não podem ser cumpridas”, acrescento­u o também líder do VVD.

Já o ministro das Finanças, Jeroen Dijsselblo­em, que também preside ao Eurogrupo, disse acreditar que os países da zona euro e o FMI chegarão a um acordo para a participaç­ão do fundo neste novo resgate – os governos europeus são contra um corte da dívida helénica, enquanto o FMI acredita que esta não é sustentáve­l.

Durante este debate, Mark Rutte sobreviveu a uma moção de censura, apresentad­a por Wilders, e o Parlamento rejeitou – com 81 votos a favor e 52 contra – uma moção que defendia que deveria ser recusada qualquer ajuda à Grécia.

Apesar de ter sobrevido a uma moção de censura, os tempos que se avizinham não serão fáceis para o governo holandês. O parceiro de coligação do VVD, o Labour de Dijsselblo­em, perdeu metade dos seus lugares no Senado após um desastre nas eleições regionais de maio. Agora, Rutte terá de conquistar o apoio de dois partidos da oposição para conseguir uma maioria no Senado de forma a aprovar leis, incluindo, em setembro, o orçamento para 2016.

 ??  ?? Militantes do partido eurocético Alternativ­a para a Alemanha ( AfD) manifestar­am- se ontem em Berlim contra o novo resgate a Atenas, usando máscaras com o rosto de Merkel e Schäuble e queimando cópias de notas de euro
Militantes do partido eurocético Alternativ­a para a Alemanha ( AfD) manifestar­am- se ontem em Berlim contra o novo resgate a Atenas, usando máscaras com o rosto de Merkel e Schäuble e queimando cópias de notas de euro

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