Estado Islâmico decapita famoso arqueólogo sírio nas ruínas de Palmira
Um dos maiores especialistas em antiguidades do país, Khaled al- Assad, morreu a tentar proteger o património da cidade histórica
SÍRIA Khaled al- Assad, de 82 anos, morreu a proteger os tesouros que durante mais de meio século ajudou a preservar. O arqueólogo sírio, um dos maiores especialistas em antiguidades do país, foi decapitado pelo Estado Islâmico e o seu corpo pendurado numa das colunas greco- romanas da antiga cidade de Palmira. O grupo terrorista sunita, que capturou as ruínas em maio, tinha detido Al- Assad há um mês, interrogando- o para que revelasse o local para onde centenas de estátuas foram transportadas para evitar a pilhagem e destruição que já se tornou habitual por parte do Estado Islâmico.
“Foi difícil para ele ver a sua cidade sob o controlo destas pessoas, por isso insistiu em ficar”, disse à BBC o antigo ministro responsável pela herança cultural, Abdalrazzaq Moaz. “Estou seguro de que ele estava a tentar convencê- los a não danificarem as antiguidades e o local. Por isso foi morto”, acrescentou.
O atual chefe do Departamento de Museus e Antiguidades da Síria, Maamoun Abdelkarim, disse à AFP que Al- Assad foi executado pelo grupo jihadista na terça- feira, em Palmira, na província de Homs. “O Daesh [ Estado Islâmico] executou um dos maiores especialistas em antiguidades da Síria”, afirmou. “Foi o chefe das antiguidades de Palmira por mais de 50 anos e estava reformado há 13. Tinha 82 anos”, referiu, dizendo que foi a família que o informou.
“Não se pode escrever sobre as ruínas de Palmira, a história de Palmira ou qualquer coisa que tenha que ver com a cidade sem o mencionar”, disse ao The Guardian um antigo colaborador de Al- Assad, Amr al- Azm. “É como não se poder falar sobre egiptologia sem mencionar Howard Carter”, acrescentou, referindo- se ao arqueólogo que descobriu o túmulo praticamente intacto de Tutankhamon no Vale dos Reis, no Egito, em novembro de 1922.
As ruínas de Palmira, que tem mais de dois mil anos e era um antigo centro de trocas comerciais na Rota da Seda, incluem túmulos romanos e o templo de Bel, que a UNESCO declarou património da humanidade. Antes da captura da cidade por parte do Estado Islâmico, as autoridades moveram centenas de estátuas para locais seguros, para evitar a sua destruição – como aconteceu, por exemplo, com as ruínas de Nimrud, no Iraque. Em junho, o grupo rebentou com dois antigos túmulos, que não remontavam à época romana. O Estado Islâmico considerava- os um sacrilégio.
“Imaginem um especialista que deu tanto àquele lugar e à história ser decapitado e o seu corpo ainda estar pendurado numa das antigas colunas do centro de uma praça em Palmira”, indicou Abdelkarim à Reuters. “A presença destes criminosos nesta cidade é uma maldição e um mau presságio para Palmira e para todas as colunas e vestígios arqueológicos que aí se encontram”, acrescentou.
Khaled al- Assad foi chefe das antiguidades de Palmira durante
mais de 50 anos