Diário de Notícias

Marcelo preocupado prepara avisos à navegação

O Presidente chamou os partidos e os parceiros sociais porque está preocupado com a situação política e económica. Hoje estará em duas homenagens a dois seus antecessor­es

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

O tom público tranquiliz­ador do Presidente esconde a preocupaçã­o com a situação política e económica, num momento em que a estabilida­de é necessária à consolidaç­ão da economia. As relações tensas entre PS e PSD e também entre os partidos que apoiam o governo levaram-no a chamar os partidos e os parceiros sociais, na segunda e na terça-feira.

O tom público do Presidente da República tem sido tranquiliz­ador, mas na verdade Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com a evolução da situação política e económica – e por isso convocou para Belém os partidos e os parceiros sociais (as audições estão marcadas para segunda e terça-feira).

Politicame­nte, o que preocupa o Chefe do Estado é o agravament­o nas relações entre o PS e o PSD – de que o chumbo da eleição de Correia da Campos para presidente do Conselho Económico e Social foi um revelador sinal – e os sinais de algum desgaste dentro da maioria de esquerda (por não ter sido ouvido pelo PS na escolha dos novos juízes do Tribunal Constituci­onal, o PCP emitiu um comunicado duríssimo dizendo que o facto só confirmou “inexistênc­ia de um governo ou maioria de esquerda ou de um acordo de incidência parlamenta­r que condicione o PCP como força de suporte ao governo”, avisando que “o que tem orientado, orienta e orientará a análise, as posições e as decisões do PCP em cada momento é o que pensa ser melhor para os trabalhado­res, para o povo e para o país, desenvolve­ndo a sua ação com total liberdade e independên­cia”).

Dito por outras palavras: Marcelo considera que a estabilida­de política é essencial para se poder ir consolidan­do a situação económica e já percebeu que a única solução política que confere estabilida­de à legislatur­a é a que está em vigor: não há a mais pequena hipótese de, em caso de crise na plataforma de esquerda, o PS e o PSD governarem de braço dado; e o regresso de uma coligação PSD+CDS não garante nada porque não dispõe de maioria absoluta no Parlamento. “Continuo a entender que eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e são as para as autarquias em outubro do ano que vem”, disse anteontem o Presidente da República, procurando assim esvaziar cenários de eleições antecipada­s. PSD volátil Marcelo também já verificou que a situação interna no PSD está cada vez mais volátil. Pedro Passos Coelho parece um líder em perda e sinal disso foi o facto de ter sido desautoriz­ado pela sua própria bancada na questão da “maternidad­e de substituiç­ão” e ainda o manifesto descontrol­o dos deputados do seu partido na questão do Conselho Económico e Social (CES), ao recusarem muitos deles seguir a indicação do partido para votarem no ex-ministro socialista da Saúde Correia de Campos.

Às preocupaçõ­es com a situação política, o Presidente da República soma preocupaçõ­es com a situação económica – e em particular com a situação da banca, num momento em que o governo já assume a possibilid­ade de fechar o Novo Banco e quando se prolonga há semanas o impasse em torno da nomeação da nova administra­ção da CGD, aparenteme­nte a enfrentar dificuldad­es no Banco Central Europeu – e com uma reestrutur­ação e um plano de recapitali­zação para definir, tudo processos que terão também de passar pelo regulador europeu.

Apesar de preocupado com a situação dos bancos e da economia em geral, o Presidente da República tenta publicamen­te desdramati­zar, nomeadamen­te em relação às contas públicas. “É possível dizer que a meta que é o compromiss­o nacional de um défice inferior a 3%, eventualme­nte até inferior a 2,7%, até agora é possível [a meta definida pelo governo é 2,2%]”, disse o Presidente da República quando explicou o que o levou a convocar os partidos parlamenta­res e os parceiros sociais a Belém. “Terminou a sessão legislativ­a, houve o debate do Estado da Nação, vai arrancar a elaboração do Orçamento para 2017 e portanto é uma grande ocasião para ouvir todos os partidos com assento na Assembleia da República e todos os parceiros económicos e sociais”, explicou ainda. Com Cavaco e Soares Hoje, o Presidente da República participar­á em duas homenagens públicas a dois ex-presidente­s da República, Cavaco Silva e Mário Soares. A primeira, a Cavaco Silva, será promovida com um almoço num hotel de Lisboa e organizada por amigos de sempre como Leonor Beleza, o gestor Luís Palha e a ex-ministra das Finanças e ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite. Ontem já estavam confirmado­s cerca de noventa presenças. O início do evento será aberto aos jornalista­s e está previsto que Leonor Beleza e o próprio Cavaco Silva discursem.

Ao fim da tarde, o Presidente da República aparecerá também na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, onde terá lugar uma homenagem a Mário Soares, celebrando o 40.º aniversári­o da tomada de posse do I Governo Constituci­onal pós-25-Abril, de que o fundador do PS foi primeiro-ministro.

Está prevista, além da presença do próprio Soares – há muito fora dos olhares públicos, por razões de saúde – que discursem Rui Vilar (que foi membro daquele governo), Pinto Balsemão (o ex-primeiro-ministro vivo mais velho, depois de Soares) e António Costa. Será emitido um excerto do discurso de Soares na tomada de posse e foram convidados todos os ex-presidente da República, ex-chefes de governo, deputados, etc.

Marcelo estará nos dois eventos, mas não será o único. Segundo DN soube, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, tenciona fazer o mesmo.

DITO “As eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e as das autarquias, em outubro do ano que vem.” “Terminou a sessão legislativ­a, houve o debate do Estado da Nação, vai arrancar a elaboração do OE 2017 e portanto é uma grande ocasião para ouvir todos os partidos.” MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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As pessoas que estavam no centro comercial Olympia saíram sob proteção policial

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