Marcelo preocupado prepara avisos à navegação
O Presidente chamou os partidos e os parceiros sociais porque está preocupado com a situação política e económica. Hoje estará em duas homenagens a dois seus antecessores
O tom público tranquilizador do Presidente esconde a preocupação com a situação política e económica, num momento em que a estabilidade é necessária à consolidação da economia. As relações tensas entre PS e PSD e também entre os partidos que apoiam o governo levaram-no a chamar os partidos e os parceiros sociais, na segunda e na terça-feira.
O tom público do Presidente da República tem sido tranquilizador, mas na verdade Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com a evolução da situação política e económica – e por isso convocou para Belém os partidos e os parceiros sociais (as audições estão marcadas para segunda e terça-feira).
Politicamente, o que preocupa o Chefe do Estado é o agravamento nas relações entre o PS e o PSD – de que o chumbo da eleição de Correia da Campos para presidente do Conselho Económico e Social foi um revelador sinal – e os sinais de algum desgaste dentro da maioria de esquerda (por não ter sido ouvido pelo PS na escolha dos novos juízes do Tribunal Constitucional, o PCP emitiu um comunicado duríssimo dizendo que o facto só confirmou “inexistência de um governo ou maioria de esquerda ou de um acordo de incidência parlamentar que condicione o PCP como força de suporte ao governo”, avisando que “o que tem orientado, orienta e orientará a análise, as posições e as decisões do PCP em cada momento é o que pensa ser melhor para os trabalhadores, para o povo e para o país, desenvolvendo a sua ação com total liberdade e independência”).
Dito por outras palavras: Marcelo considera que a estabilidade política é essencial para se poder ir consolidando a situação económica e já percebeu que a única solução política que confere estabilidade à legislatura é a que está em vigor: não há a mais pequena hipótese de, em caso de crise na plataforma de esquerda, o PS e o PSD governarem de braço dado; e o regresso de uma coligação PSD+CDS não garante nada porque não dispõe de maioria absoluta no Parlamento. “Continuo a entender que eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e são as para as autarquias em outubro do ano que vem”, disse anteontem o Presidente da República, procurando assim esvaziar cenários de eleições antecipadas. PSD volátil Marcelo também já verificou que a situação interna no PSD está cada vez mais volátil. Pedro Passos Coelho parece um líder em perda e sinal disso foi o facto de ter sido desautorizado pela sua própria bancada na questão da “maternidade de substituição” e ainda o manifesto descontrolo dos deputados do seu partido na questão do Conselho Económico e Social (CES), ao recusarem muitos deles seguir a indicação do partido para votarem no ex-ministro socialista da Saúde Correia de Campos.
Às preocupações com a situação política, o Presidente da República soma preocupações com a situação económica – e em particular com a situação da banca, num momento em que o governo já assume a possibilidade de fechar o Novo Banco e quando se prolonga há semanas o impasse em torno da nomeação da nova administração da CGD, aparentemente a enfrentar dificuldades no Banco Central Europeu – e com uma reestruturação e um plano de recapitalização para definir, tudo processos que terão também de passar pelo regulador europeu.
Apesar de preocupado com a situação dos bancos e da economia em geral, o Presidente da República tenta publicamente desdramatizar, nomeadamente em relação às contas públicas. “É possível dizer que a meta que é o compromisso nacional de um défice inferior a 3%, eventualmente até inferior a 2,7%, até agora é possível [a meta definida pelo governo é 2,2%]”, disse o Presidente da República quando explicou o que o levou a convocar os partidos parlamentares e os parceiros sociais a Belém. “Terminou a sessão legislativa, houve o debate do Estado da Nação, vai arrancar a elaboração do Orçamento para 2017 e portanto é uma grande ocasião para ouvir todos os partidos com assento na Assembleia da República e todos os parceiros económicos e sociais”, explicou ainda. Com Cavaco e Soares Hoje, o Presidente da República participará em duas homenagens públicas a dois ex-presidentes da República, Cavaco Silva e Mário Soares. A primeira, a Cavaco Silva, será promovida com um almoço num hotel de Lisboa e organizada por amigos de sempre como Leonor Beleza, o gestor Luís Palha e a ex-ministra das Finanças e ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite. Ontem já estavam confirmados cerca de noventa presenças. O início do evento será aberto aos jornalistas e está previsto que Leonor Beleza e o próprio Cavaco Silva discursem.
Ao fim da tarde, o Presidente da República aparecerá também na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, onde terá lugar uma homenagem a Mário Soares, celebrando o 40.º aniversário da tomada de posse do I Governo Constitucional pós-25-Abril, de que o fundador do PS foi primeiro-ministro.
Está prevista, além da presença do próprio Soares – há muito fora dos olhares públicos, por razões de saúde – que discursem Rui Vilar (que foi membro daquele governo), Pinto Balsemão (o ex-primeiro-ministro vivo mais velho, depois de Soares) e António Costa. Será emitido um excerto do discurso de Soares na tomada de posse e foram convidados todos os ex-presidente da República, ex-chefes de governo, deputados, etc.
Marcelo estará nos dois eventos, mas não será o único. Segundo DN soube, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, tenciona fazer o mesmo.
DITO “As eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e as das autarquias, em outubro do ano que vem.” “Terminou a sessão legislativa, houve o debate do Estado da Nação, vai arrancar a elaboração do OE 2017 e portanto é uma grande ocasião para ouvir todos os partidos.” MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA