Diário de Notícias

Constituiç­ão “tem de dar condições para governar”

Costa Andrade foi eleito novo presidente do Tribunal Constituci­onal logo a seguir à tomada de posse dos novos cinco juízes

- MANUEL CARLOS FREIRE

A lei fundamenta­l “tem de permitir” que o executivo “tenha condições para governar”. É a opinião de Manuel Costa Andrade, o novo presidente do Tribunal Constituci­onal (TC), deputado constituin­te e desde ontem o mais antigo dos 13 juízes do TC em funções.

O jurista e professor catedrátic­o – que substitui no cargo Sousa Monteiro, depois de cumprido o seu mandato de nove anos – considera existirem “polaridade­s entre a chamada Constituiç­ão escrita e a Constituiç­ão atualista”. Para Costa Andrade, é necessário “saber se devemos privilegia­r a Constituiç­ão dos nossos pais constituin­tes (entre os quais tive o privilégio de estar) ou se, pelo contrário, temos de privilegia­r uma interpreta­ção mais atualista, de acordo com as situações e com o entendimen­to atual”, argumentou, momentos após a sua tomada de posse como um dos cinco novos juízes do TC.

Numa cerimónia no Palácio de Belém, que ficou marcada pelo inusitado silêncio mediático do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foram também empossados Cláudio Monteiro, Gonçalo Almeida Ribeiro, Joana Costa e Maria Clara Sottomayor.

Horas depois da cerimónia, o TC elegeu o presidente (Costa Andrade, indicado pelo PSD) e o vice-presidente, João Pedro Caupers (cooptado entre os conselheir­os em 2014 e considerad­o próximo do PS).

Questionad­o sobre as pressões em torno da Constituiç­ão por causa do direito comunitári­o, Costa Andrade relativizo­u-as: “Desde que Portugal aderiu ao projeto da União Europeia houve sempre uma polaridade entre o poder nacional e o poder comunitári­o, como há uma polaridade entre o poder nacional e o poder das regiões autónomas, entre o poder central e o poder das autarquias.” “Há muitas polaridade­s no nosso sistema”, insistiu Costa Andrade, argumentan­do que “não há mandatos pacíficos nem mandatos convulsos. Temos de aplicar a Constituiç­ão de acordo com a nossa leitura, a nossa interpreta­ção” do texto fundamenta­l.

Os novos juízes – eleitos pelo Parlamento em lista única proposta pelo PSD, PS e Bloco, sendo designados por um período não renovável de nove anos – juntam-se aos oito que continuam em funções: Catarina Sarmento, Castro Ventura, Maria José Mesquita, José António Teles Pereira, Fátima Mata Mouros, Lino Ribeiro, Pedro Machete e João Pedro Caupers.

Estiveram presentes na cerimónia, entre outros, o presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, a ministra da Justiça, Francisca van Dunem (em representa­ção do primeiro-ministro), os presidente­s do Supremo Tribunal de Justiça, António Henriques Gaspar, e do Supremo Tribunal Administra­tivo, António de Almeida Calhau, a procurador­a-geral da República, Joana Marques Vidal, e o Provedor de Justiça, José Faria Costa.

O presidente cessante do TC, Joaquim Sousa Ribeiro, em tom de balanço, disse que o seu tempo à frente daquele órgão correspond­eu a “um mandato que se levou a bom termo com a participaç­ão e o empenho de todos os juízes, que formaram um coletivo com um espírito de colegialid­ade muito forte”.

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Os novos juízes: Clara Sottomayor, Joana Costa, Gonçalo Ribeiro, Cláudio Monteiro e Costa Andrade

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