Diário de Notícias

A fiel amiga de Rajoy, que é “uma mulher para todas as estações”

Ana Pastor é a nova presidente Parlamento. Formada em Medicina, foi ministra da Saúde e dos Transporte­s

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Deixou saudades na aldeia de Creciente, província de Pontevedra, na Galiza, onde trabalhou como médica de família. Tantas que o município batizou uma praça com o seu nome. Na pensão onde viveu também existe o Quarto Dona Ana.

“Era muito trabalhado­ra. Podiam vir buscá-la a qualquer hora que ela ia sempre. É uma grande médica e uma grande política”, conta María del Pillar, proprietár­ia do hostal, ao LaVoz de Galicia. Ouvidos pelo diário local, os antigos vizinhos e pacientes de Ana Pastor, a nova presidente da Mesa do Congresso espanhol, repetem-se nos elogios: “eficiente”, “bondosa”, “atenta”, “competente”.

Eleita com os votos favoráveis do Partido Popular e do Ciudadanos, Ana Pastor ocupava desde 2011 o cargo de ministra dos Transporte­s e da Obras Públicas. Antes, entre 2002 e 2004, no segundo governo de José María Aznar, tivera a seu cargo a pasta da Saúde. É uma das mais fiéis amigas de Mariano Rajoy. Conheceram-se em Pontevedra, na juventude, e passam férias juntos. José Benito Suárez, marido de Pastor e presidente da Autoridade Portuária de Marín-Pontevedra, é um fiel companheir­o de footing do primeiro-ministro espanhol. Lado a lado fazem longos passeios pelos caminhos de Ribadumia.

Ao derrotar o socialista Patxi López na eleição para a presidênci­a do Parlamento, Ana Pastor passou a terceira figura na hierarquia do Estado espanhol, depois do rei Felipe VI e do chefe do governo. “Se há alguém leal a Rajoy é ela. E, apesar disso, Ana é aceite e respeitada pela oposição. Esse prodígio é fácil de explicar. Além de ser eficaz, trabalhado­ra e de ter o dom da ubiquidade, toma posições públicas não partidária­s. É temperada na expressão das suas convicções”, escreve no La Voz de Galicia Fernando Onega, jornalista e biógrafo de Juan Carlos I, ex-ocupante do trono.

Apesar da boa imprensa, Pastor não passa sempre entre os pingos de chuva. Às vezes as críticas também a salpicam. “Não vão chorar a sua ausência no ministério”, afirmou Ximo Puig, presidente do governo regional de Valência, depois de conhecido o resultado da votação para o Parlamento.

Um dos momentos mais delicados do seu consulado no Ministério dos Transporte­s foi o acidente ferroviári­o na Galiza, em julho de 2013, que vitimou 80 pessoas. É algo que ainda a persegue. Na passada terça-feira, quando foi eleita, Víctor Taibo, membro da plataforma de apoio às vítimas e filho de uma ex-deputada do PP, gritou-lhe desde o espaço reservado aos convidados: “Ana Pastor não solidária.” E lançou um papel, que caiu no hemiciclo, no qual podia ler-se: “É a oitava pessoa com responsabi­lidades políticas na catástrofe que acaba premiada. Fez todos os possíveis para que não se saiba a verdade sobre a tragédia.”

Filha de agricultor­es e nascida em Zamora em 1957, Ana Marí – como é tratada entre amigos – queria estudar Matemática, mas as contas saíram-lhe erradas. Licenciou-se em Medicina pela Universida­de de Salamanca, tornou-se médica e passou para a política. Dela dizem que anda sempre com livros. Ana Pastor tem o perfil de funcionári­a dedicada: “Vou para onde me mandam.” Por isso, para o El País, “é uma mulher para todas as estações”. J.F.G.

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Ana Pastor recebeu os votos favoráveis do PP e do Ciudadanos

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