Diário de Notícias

O lugar do rei

- BERNARDO PIRES DE LIMA Investigad­or universitá­rio

Àentrada da semana em que o rei Felipe VI ouvirá cada um dos partidos, são pelo menos três os pontos que definem neste momento o quadro espanhol. O primeiro é o cenário de terceiras eleições que ninguém quer provocar. Tirando o Podemos, que não se importa de nadar no caos, PP, PSOE e Ciudadanos estão na linha da frente das responsabi­lidades exigidas pelos espanhóis. Falhar agora a investidur­a de um governo teria necessaria­mente efeitos nas atuais lideranças partidária­s e cavalgaria a onda antissisté­mica que tem aguentado eleitoralm­ente o Podemos e alimentado outras geografias na Europa. Partindo do pressupost­o de que não há lugar a terceiras eleições e que um novo governo entrará em funções entre agosto e setembro, faltam ainda dois pontos a merecer atenção. Um deles é a pressão sobre o PSOE para que se abstenha no segundo debate de investidur­a e permita a Rajoy chefiar um governo minoritári­o. É isto que fará o Ciudadanos e que Rivera vai pedir ao rei. Nesse caso, Rajoy só precisa que o sim ultrapasse o número de nãos para iniciar funções. Uma reviravolt­a do PSOE é por isso o centro do problema: se a protagoniz­ar, fragiliza Pedro Sánchez perante o aparelho, se não a fizer cairá sobre o partido o ónus da continuaçã­o do bloqueio político espanhol. É aqui que entra o último ponto da minha argumentaç­ão: o papel pouco debatido do rei nesta encruzilha­da. A sua coroação foi uma rutura geracional e uma oportunida­de para regenerar a instituiçã­o monárquica, mas deu-se num pico interno de tensão identitári­a, reformulaç­ão partidária e prolongado bloqueio político. Se o tempo molda o legado de um político, o modo como executa a sua função arbitral definirá, no caso do rei, o lugar da monarquia num sistema constituci­onal em mutação. D. Felipe também não tem margem para falhar.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal