UMA CIDADE PARALISADA PELO TERROR
“Sou alemão, nasci aqui”, gritou atacante Pelo menos dez mortos incluindo atirador
Uma semana após o ataque que fez 84 mortos em Nice, o terror voltou a atacar o coração da Europa: um ou mais indivíduos armados entraram no centro comercial Olympia, em Munique, capital do estado alemão da Baviera, fazendo vários mortos. As autoridades confirmavam dez mortes à hora do fecho desta edição (nove vítimas, uma delas uma adolescente de 15 anos, e um alegado atacante, que se suicidou) aos quais se juntam, pelo menos, dez feridos.
As motivações do ataque não foram logo esclarecidas, mas fontes da polícia admitiram tratar-se de um ato terrorista.O jornal alemão Bild avançava com a possibilidade de um ataque relacionado com a extrema-direita, depois de testemunhas terem dito que um atacante usava botas associadas normalmente aos neonazis e gritava “estrangeiros de merda” (ontem passaram cinco anos sobre o ataque de Anders Breivik na Noruega, que fez 76 mortos).
A hipótese de o ataque poder vir da extrema-direita ganhou força após começar a circular um vídeo do ataque em que um dos alegados atacantes grita: “Eu sou alemão.”
Mas a dúvida sobre a origem do ataque foi uma constante na noite de ontem. Até porque apoiantes do Estado Islâmico (EI) congratularam-se nas redes sociais com o ataque de Munique. “O Estado Islâmico está expandir-se pela Europa”, lia-se num dos tweets citados pela Reuters. “Obrigado, Deus. Que Deus traga a prosperidade aos nossos homens do Estado Islâmico”, lê-se noutro, escrito em árabe numa conta ligada ao grupo terrorista com origem no Iraque e na Síria.
Segundo relatos veiculados pelos media alemães, o tiroteio começou na rua e prosseguiu no interior do restaurante McDonalds do Olympia. As autoridades começaram a receber telefonemas de alerta às 17.50 locais (mais uma hora do que em Lisboa), segundo detalhes dados por fontes policiais através da rede social Facebook e citados pelo site alemão em língua inglesa The Local.de. Várias testemunhas falaram em pelo menos três atiradores.
“Eu andava às compras e de repente ouvi três tiros, depois fugi para a rua e, 40 segundos depois, ouvi mais cinco tiros de fora”, contou Florian Horn, de 33 anos, citado pelo britânico Guardian. O centro comercial Olympia fica perto do Estádio Olímpico de Munique, onde em setembro de 1972 11 atletas israelitas e um polícia alemão foram raptados e mortos por um comando palestiniano (ver mais na caixa nestas páginas). O centro comercial tem 150 lojas, situa-se no bairro Mossach e à sexta-feira costuma ter sempre mais clientes.
Ao local acorreram várias ambulâncias e um helicóptero sobrevoava toda a área, que entretanto foi selada pela polícia. As forças especiais foram chamadas a intervir.
As autoridades pediram à população que não saísse à rua e ficasse em casa e que não divulgasse imagens da operação em curso nas redes sociais (à semelhança do que aconteceu na Bélgica após os atentados de 22 de março). A polícia pediu, no entanto, que os cidadãos enviassem todas as fotos e vídeos que tenham do ataque.
O atirador – a polícia chegou a pensar que seriam três – conseguiu escapar através do metro (U-Bahn) e os taxistas foram alertados para não transportarem ninguém com ar suspeito. Médicos e enfermeiros de folga foram chamados aos hospitais. A rádio pública da Baviera indicou que a circulação de transportes públicos foi entretanto interrompida e que a principal estação de comboios de Munique foi evacuada.
Fora da Alemanha, o governo britânico foi o primeiro a reagir emitindo um alerta aos seus cidadãos na Alemanha: “Aconselhamos que evite o local e siga as instruções das autoridades locais. Estamos a investigar o incidente de Munique com urgência e estamos prontos para prestar assistência aos cidadãos britânicos.” Por seu lado, o presidente dos EUA, Barack Obama, garantiu “providenciar todo o apoio que seja necessário”.
Este é o segundo ataque no estado federado da Baviera em menos de uma semana. Na segunda-feira, um requerente de asilo afegão de 17 anos atacou com um machado 11 pessoas que seguiam num comboio regional em Wurtzburgo (ver texto secundário nestas páginas). A situação fez reavivar o debate, já por si quente, sobre os refugiados na Alemanha. “As nossas fronteiras têm de ter segurança e os requerentes de asilo no interior do país têm de ser mais bem monitorizados”, declarou Georg Pazderski, membro da liderança nacional da Alternativa para a Alemanha, partido anti-imigração que tem subido nas sondagens à custa das críticas à política da chanceler para os refugiados. Angela Merkel irá reunir-se hoje o Conselho de Segurança alemão.
Disparos ocorreram na rua e no centro comercial Olympia