Diário de Notícias

UMA CIDADE PARALISADA PELO TERROR

“Sou alemão, nasci aqui”, gritou atacante Pelo menos dez mortos incluindo atirador

- PATRÍCIA VIEGAS e RUI PEDRO ANTUNES

Uma semana após o ataque que fez 84 mortos em Nice, o terror voltou a atacar o coração da Europa: um ou mais indivíduos armados entraram no centro comercial Olympia, em Munique, capital do estado alemão da Baviera, fazendo vários mortos. As autoridade­s confirmava­m dez mortes à hora do fecho desta edição (nove vítimas, uma delas uma adolescent­e de 15 anos, e um alegado atacante, que se suicidou) aos quais se juntam, pelo menos, dez feridos.

As motivações do ataque não foram logo esclarecid­as, mas fontes da polícia admitiram tratar-se de um ato terrorista.O jornal alemão Bild avançava com a possibilid­ade de um ataque relacionad­o com a extrema-direita, depois de testemunha­s terem dito que um atacante usava botas associadas normalment­e aos neonazis e gritava “estrangeir­os de merda” (ontem passaram cinco anos sobre o ataque de Anders Breivik na Noruega, que fez 76 mortos).

A hipótese de o ataque poder vir da extrema-direita ganhou força após começar a circular um vídeo do ataque em que um dos alegados atacantes grita: “Eu sou alemão.”

Mas a dúvida sobre a origem do ataque foi uma constante na noite de ontem. Até porque apoiantes do Estado Islâmico (EI) congratula­ram-se nas redes sociais com o ataque de Munique. “O Estado Islâmico está expandir-se pela Europa”, lia-se num dos tweets citados pela Reuters. “Obrigado, Deus. Que Deus traga a prosperida­de aos nossos homens do Estado Islâmico”, lê-se noutro, escrito em árabe numa conta ligada ao grupo terrorista com origem no Iraque e na Síria.

Segundo relatos veiculados pelos media alemães, o tiroteio começou na rua e prosseguiu no interior do restaurant­e McDonalds do Olympia. As autoridade­s começaram a receber telefonema­s de alerta às 17.50 locais (mais uma hora do que em Lisboa), segundo detalhes dados por fontes policiais através da rede social Facebook e citados pelo site alemão em língua inglesa The Local.de. Várias testemunha­s falaram em pelo menos três atiradores.

“Eu andava às compras e de repente ouvi três tiros, depois fugi para a rua e, 40 segundos depois, ouvi mais cinco tiros de fora”, contou Florian Horn, de 33 anos, citado pelo britânico Guardian. O centro comercial Olympia fica perto do Estádio Olímpico de Munique, onde em setembro de 1972 11 atletas israelitas e um polícia alemão foram raptados e mortos por um comando palestinia­no (ver mais na caixa nestas páginas). O centro comercial tem 150 lojas, situa-se no bairro Mossach e à sexta-feira costuma ter sempre mais clientes.

Ao local acorreram várias ambulância­s e um helicópter­o sobrevoava toda a área, que entretanto foi selada pela polícia. As forças especiais foram chamadas a intervir.

As autoridade­s pediram à população que não saísse à rua e ficasse em casa e que não divulgasse imagens da operação em curso nas redes sociais (à semelhança do que aconteceu na Bélgica após os atentados de 22 de março). A polícia pediu, no entanto, que os cidadãos enviassem todas as fotos e vídeos que tenham do ataque.

O atirador – a polícia chegou a pensar que seriam três – conseguiu escapar através do metro (U-Bahn) e os taxistas foram alertados para não transporta­rem ninguém com ar suspeito. Médicos e enfermeiro­s de folga foram chamados aos hospitais. A rádio pública da Baviera indicou que a circulação de transporte­s públicos foi entretanto interrompi­da e que a principal estação de comboios de Munique foi evacuada.

Fora da Alemanha, o governo britânico foi o primeiro a reagir emitindo um alerta aos seus cidadãos na Alemanha: “Aconselham­os que evite o local e siga as instruções das autoridade­s locais. Estamos a investigar o incidente de Munique com urgência e estamos prontos para prestar assistênci­a aos cidadãos britânicos.” Por seu lado, o presidente dos EUA, Barack Obama, garantiu “providenci­ar todo o apoio que seja necessário”.

Este é o segundo ataque no estado federado da Baviera em menos de uma semana. Na segunda-feira, um requerente de asilo afegão de 17 anos atacou com um machado 11 pessoas que seguiam num comboio regional em Wurtzburgo (ver texto secundário nestas páginas). A situação fez reavivar o debate, já por si quente, sobre os refugiados na Alemanha. “As nossas fronteiras têm de ter segurança e os requerente­s de asilo no interior do país têm de ser mais bem monitoriza­dos”, declarou Georg Pazderski, membro da liderança nacional da Alternativ­a para a Alemanha, partido anti-imigração que tem subido nas sondagens à custa das críticas à política da chanceler para os refugiados. Angela Merkel irá reunir-se hoje o Conselho de Segurança alemão.

Disparos ocorreram na rua e no centro comercial Olympia

 ??  ?? Polícias mascarados e fortemente armados patrulhava­m ontem as ruas de Munique, na Baviera, após tiroteio em centro comercial
Polícias mascarados e fortemente armados patrulhava­m ontem as ruas de Munique, na Baviera, após tiroteio em centro comercial
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal