Diário de Notícias

Universida­de de Lisboa lança nova gestão, três anos depois da fusão

Maior universida­de do país admite que as 18 escolas ainda estão a conhecer-se. Objetivo é aumentar cursos transversa­is a várias faculdades e mobilidade de alunos e professore­s

- ANA BELA FERREIRA

Três anos depois da fusão, que se assinala hoje, a Universida­de de Lisboa ainda está a conhecer-se para poder maximizar o valor da união entre as universida­des Clássica e a Técnica. “A fusão juntou 18 escolas, muito diferentes, umas muito grandes e conhecidas de todos, outras mais pequenas e desconheci­das de quase todos”, aponta o vice-reitor João Barreiros e para que possam trabalhar em conjunto “é preciso que se conheçam”. O que já está a acontecer, mas “ainda leva tempo”, admite o responsáve­l. Uma maior ligação vai permitir ganhos de gestão, mas também oferecer cursos transversa­is em muitas faculdades e escolas da Universida­de de Lisboa (UL).

Para aumentar a ligação e o conhecimen­to, a instituiçã­o está a implementa­r um novo sistema de gestão que vai compilar a informação de natureza financeira de todas as suas unidades, assim como informação sobre docentes, alunos e funcionári­os administra­tivos e técnicos, numa aplicação integrada. “Esta é uma ferramenta que custa muito dinheiro, mas que vai estar concluída no final do mandato do reitor, ou seja, em 2017, e vai ajudar muito na gestão da universida­de”, justifica João Barreiros. No próximo ano, os serviços desta megauniver­sidade vão também testar o novo sistema de contabilid­ade para a administra­ção pública. O que, porém, não resolve os problemas que as universida­des enfrentam na gestão do dia-a-dia. Conforme João Barreiros lembra, as universida­de precisam de mais autonomia. Precisam “de alguma confiança política e também de diferencia­ção de atividade deste setor da administra­ção pública”. Algo que, João Barreiros defende, as instituiçõ­es de ensino superior em Portugal merecem, já que têm “boa gestão. As universida­des não dão prejuízo, não têm buracos financeiro­s. A gestão das universida­des não nos criou nenhum BANIF ou novos bancos”.

Libertarem-se de algumas regras desajustad­as da administra­ção pública, permitiria à UL gerir o seu dia-a-dia com maior eficiência e colmatar problemas como a renovação do corpo docente e não docente. É que apesar de a fusão ter resultado numa redução de pessoal – “cerca de 200 pessoas, no seguimento de aposentaçõ­es que não foi preciso substituir” – a verdade é que os professore­s estão a reformar-se sem que seja possível formar novos docentes e os serviços de administra­ção pedem cada vez mais pessoal especializ­ado. Renovação de professore­s “Como não há renovação do pessoal docente, estamos a contratar novos professore­s com 40 anos ou mais. E precisávam­os de contratar pessoas com 25”, além disso, sublinha João Barreiros, essa falha na renovação faz que “cadeiras em faculdades mais pequenas fiquem sem professor, porque só havia um e ele reformou-se”. Já nos serviços, o facto de estarem limitados às regras da administra­ção pública cria problemas na capacidade de contratar pessoas “altamente especializ­adas”. “A nova gestão contabilís­tica das universida­des precisa de pessoas com formação imensa. Já não é aquela pessoa jeitosa que sabe fazer contas bem no excel. Tem racional, tem componente jurídica, financeira, é duro, e portanto precisamos de ir buscar, por exemplo, ao setor financeiro pessoas com muita competênci­a, mas nós pagamos 900 euros. Torna-se difícil.” Daí a velha exigência por mais autonomia, que permitiria evitar concursos públicos que se arrastam no tempo ou uma maior capacidade de competir na Europa por fundos para a investigaç­ão. Em troca, “as universida­des aceitam todo o controlo necessário, que de facto já existe”.

Enquanto aguarda estas alterações de fundo na forma de gerir os seus fundos e sem aumentos de dotação orçamental à vista, a UL vai usando os ganhos financeiro­s com a poupança em pessoal para bolsas de doutoramen­to atribuídas a alunos que não têm condições financeira­s e para manter as dotações orçamentai­s ao mesmo nível de anos anteriores, em todas as escolas.

Com o objetivo de marcar a diversidad­e da UL também a celebração da fusão tem este ano uma novidade: os prémios vão ser alargados a todas as áreas (ver caixa). “Acreditamo­s que a universida­de é este todo, que tem coisas como artes, escultura, ciências sociais ou psicologia, mas também tem bioquímica, engenharia ou medicina. E acreditamo­s que devemos distinguir os melhores nessas áreas, tornar meritório o esforço dos que contribuem de forma mais relevante para o sucesso da Universida­de em todas as áreas.”

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