Um mar de bandeiras pela democracia em Istambul
Milhares de pessoas juntaram-se na praça Taksim para protestar contra o estado de emergência imposto após tentativa de golpe
Milhares de turcos reuniram-se ontem na praça Taksim para mostrar o compromisso com a democracia e também a sua oposição ao estado de emergência decretado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan depois do golpe de Estado falhado de dia 15. “Nem golpe, nem diktat!”gritaram os manifestantes. Convocada pelo principal partido da oposição, o Partido Republicano Popular (CHP), a manifestação juntou-se com elementos do partido que apoia o presidente, o AKP, cujos militantes têm saído à rua todas as noites.
Com bandeiras a dizer “Defendemos a República e a Democracia”, “A soberania pertence ao povo incondicionalmente” ou “Não ao golpe, sim à democracia”, os manifestantes brandiram bandeiras turcas e fotografias de Mustafa Kemal Ataturk, o fundador da Turquia moderna.
Apesar da presença de vários blindados e de canhões de água na praça Taksim, ao final do dia a manifestação decorria de forma pacífica, como relatava o jornalista da AFP no local.
Uma semana depois do golpe falhado, o primeiro-ministro Binali Yildirim garantiu ontem que a Turquia está “mais forte do que nunca”. O chefe do governo sublinhou que as autoridades garantem “a democracia em todo o país”, reforçando uma “vigilância que continuará enquanto os elementos antidemocráticos não tiverem sido purgados”.
A Amnistia Internacional denunciou a brutalidade das autoridades turcas. A ONG diz ter provas de que a polícia turca em Ancara e Istambul mantêm pessoas durante durante 48 horas, obrigando-as a estar em “posições dolorosas”.
O ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, garantiu ontem também que as autoridades norte-americanas sabem que o clérigo Fethullah Gülen “está por trás” do golpe de Estado falhado. “Estou certo de que os serviços de inteligência dos Estados Unidos (EUA) sabem que ele fez isso”, insistiu o governante turco, acrescentando que outros países também têm conhecimento da situação.
Fethullah Gülen está no exílio nos EUA desde 1999 e é acusado por Ancara de instigar o golpe militar que resultou em 270 mortos, incluindo 24 rebeldes. As autoridades turcas anunciaram a detenção de um dos sobrinhos de Gülen e um homem que é descrito como um dos seus colaboradores mais próximos, Halis Hanci, que obteve a cidadania canadiana há cinco anos.
A partir do seu exílio na Pensilvânia, Gülen negou qualquer envolvimento no golpe de 15 de julho. O presidente dos EUA, Barack Obama, avisou que uma eventual extradição do septuagenário só será feita em conformidade com a legislação norte-americana. Já Erdogan reiterou que as provas do envolvimento de Gülen serão tornadas públicas em breve.
Depois de anunciarem o desmantelamento da guarda presidencial, as autoridades turcas vieram ontem dizer que chefia das Forças Armadas turcas deixará de depender do Ministério da Defesa e ficará subordinada diretamente à Presidência no futuro. Não foi avançada qualquer data para a concretização desta ideia, afinal tal mudança exigiria alterar a Constituição, passando de um regime parlamentarista para presidencialista, exigindo a aprovação de dois terços dos deputados.