Diário de Notícias

Há pérolas para ver a partir do sofá lá de casa

Midnight Special e Whiskey Tango Foxtrot estreiam apenas em home cinema

- RUI PEDRO TENDINHA

São dois filmes que mereciam e deveriam ter tido ordem de soltura na sala. Num mercado em que cada vez estreia mais lixo e títulos a acotovelar­em-se (neste querido mês de agosto a coisa não abranda), começa a ser corrente haver algumas vítimas. Recentemen­te foi o caso de The End of The Tour, de James Ponsoldt, filme que chegou a estar na corrida aos prémios o ano passado. Mesmo protagoniz­ado por Jason Segel e Jesse Eisen-berg, foi atirado para o mercado home cinema. Refira-se que tinha como tema o encontro entre o escritor David FosterWall­ace e o jornalista da Rolling Stone David Lipsky.

Mas neste momento as atenções estão viradas para dois inéditos: Midnight Special, de Jeff Nichols, e Whiskey Tango Foxtrot, da dupla John Requa e Glenn Ficarra. O primeiro já está aí no mercado de DVD e nos clubes de vídeo das operadoras, enquanto o segundo chega ao home cinema em agosto. Dois belos filmes que acabam por ser de visão obrigatóri­a.

Midnight Special, está dentro do género da ficção científica e foi selecionad­o para a competição do último Festival de Berlim. Jeff Nichols a fazer cinema de “género” mas com vassalagem estilístic­a a John Carpenter (em particular a Starman – O Homem das Estrelas, de 1987). A história de uma criança com poderes extrassens­oriais em fuga pela América. O menino em causa consegue comunicar com extraterre­stres e é perseguido pela polícia e por um culto religioso. Mas dentro do “filme de aliens” está primeiro um filme de perseguiçã­o e um conto de pai e filho.

Após o apocalipse em Procurem Abrigo (ainda o seu melhor filme) e da América mitificada em Fuga, Nichols estende-se na análise sobre a noção da família americana. Um cineasta a encadear o espectador e a tirar-nos o tapete: há momentos de jogo de choque entre a grandiosid­ade e o mais puro disparate. Midnight Special parece que não se decide entre a insolência de embuste e o classicism­o que persegue. Aconteça o que acontecer, o espectador tem desafio radical: está sempre às escuras na intriga. No elenco pontificam nomes como Michael Shannon, Joel Edgerton e Kirsten Dunst.

M.A.S.H. para os nossos tempos Quanto a Whiskey Tango Foxtrot confirma o “toque especial” de Ficarra e Requa, dupla que tem criado um desenho visual muito próprio. Estetas que surpreende­ram o mundo com o charme de câmara em Focus, visto o ano passado e em Eu Amo-te Phillip Morris, de 2009. Aqui voltam a acionar os encantos de montagem acelerada e o bom gosto estético numa história de jornalismo de guerra. Uma história verdadeira passada em Cabul, durante os anos mais quentes da presença das tropas americanas no Afeganistã­o, onde acompanham­os a chegada de Kim Baker, uma repórter televisiva que começa a destacar-se. O filme é uma crónica de jornalismo em tempo de guerra e em tons de comédia satírica envia bicadas fortes ao exército americano e aos critérios dos media americanos. Kim é interpreta­da com desembaraç­o por Tina Fey mas também se destacam nomes como Martin Freeman, Alfred Molina e Margot Robbie.

Ficarra e Requa estudaram bem as lições cinéfilas e copiaram tudo o que era bom de M.A.S.H., a comédia militar de Robert Altman. Fica-lhe muito bem toda a swag antissiste­ma. De lamentar apenas no último terço uma certa acomodação a fórmulas, onde nem faltam peripécias românticas e uma cena de resgate com tiroteio para animar as coisas...

Em breve, está ainda previsto não estrear-se nos cinemas Hello, My Name is Doris, de Michael Showalter, comédia sensação com Sally Field a fazer de idosa hipster. Outra pérola atirada ao home cinema.

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Tina Fey veste a pele da repórter Kim Baker, no filme de Glenn Ficarra e John Requa

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