Diário de Notícias

De um clarinete no castelo até um piano entre ruínas romanas

Primeiros cinco concertos do Festival com portuguese­s e coreanos em alta. Evento prossegue diariament­e até dia 31

- BERNARDO MARIANO

O clarinetis­ta Horácio Ferreira, o coro Officium Ensemble, o pianista Raúl Peixoto da Costa e os sul-coreanos do Quarteto Novus foram os artistas em destaque nos dois primeiros dias do 3.º Festival de Música de Marvão.

A abertura, no fim de tarde de sexta-feira, foi “manchada” pelas notícias do ataque em Munique. O concerto teve Horácio Ferreira em destaque: ele “arrancou” uma fluida, elegante e sempre muito eufónica leitura do Concerto de Mozart. Em extra, tocou ainda uma peça moderna (não muito interessan­te) de inspiração espanhola.

Munique esteve ainda presente num recital na cisterna do castelo, nessa mesma noite. A prevista “arqueoflau­tista” Susanne Schietzel cancelou por motivo de doença, tocando em seu lugar o violetista do Quarteto Novus, Seungwon Lee. Dedicado às vítimas e a todos quantos sofriam a perda de entes queridos em Munique, o recital, numa escuridão total que só pequenos círios no chão rompiam, foi preenchido com cinco andamentos lentos de J.S. Bach e o 1.º andamento da Sonata para violeta solo de Hindemith. A uma envolvente (espaços físico e mental) tão especial, somou-se a interpreta­ção muito intensa de Lee (e “às cegas”!) que, em extra, nos deu um meditativo Capricho de Vieuxtemps.

Sábado começou com os Novus. Perante uma Igreja de S. Tiago apinhada, eles interpreta­ram o Quarteto de Ravel e o Quarteto Americano de Dvorák. E pode-se bem dizer desde já que terá sido um dos pontos altos do Festival: interpreta­ções eloquentes e deslumbran­tes!

À tarde, o Officium Ensemble apresentou na igreja do Convento da Senhora da Estrela (a 1/3 da lotação) um programa de polifonia seiscentis­ta portuguesa edificado à volta da Missa Paradisi portas de Frei Manuel Cardoso (nascido na bem próxima vila de Fronteira), de quem passam os 450 anos do nascimento. O maestro Pedro Teixeira forneceu à Missa uma “guarnição” de luxo, com obras dos quatro grandes contemporâ­neos de Cardoso: Duarte Lobo, Filipe de Magalhães, Estêvão de Brito e Lopes Morago. O efeito foi deslumbran­te, com ponto alto, quiçá, no Sanctus e Agnus Dei da missa e nos dois motetes que os precederam (de Morago e Magalhães).

À noite, um formato em estreia – um recital de piano ao ar livre, junto às ruínas romanas de Ammaia – revelou ser uma primeira grande surpresa desta edição: uma plateia multinacio­nal com mais de 300 pessoas escutou Raúl da Costa tocar duas sonatas de Beethoven (ao Luar e Appassiona­ta), duas obras de Debussy (a Bergamasqu­e e Estampes) e o Prelúdio, Coral e Fuga de Franck. Um programa longo e um tanto “louco” no encicloped­ismo que requeria e no qual a obra de Franck brilhou como o momento mais univocamen­te sólido e elevado da tépida noite. Programaçã­o completa em marvaomusi­c.com.

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Está a decorrer a 3.ª edição do Festival de Música de Marvão

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