Diário de Notícias

O caso de violação que ensombra o regresso do vólei cubano aos Jogos

Seis jogadores da seleção cubana estão presos na Finlândia desde início de julho, sob acusação de violação. Cuba despediu técnicos

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RUI FRIAS O voleibol é tradiciona­lmente uma das modalidade­s mais fortes em Cuba, cujas seleções da modalidade ganharam fama mundial ao longo dos tempos, sobretudo no último quarto do século XX, com vários pódios nas mais importante­s competiçõe­s. Por isso, neste ano, em Cuba vivia-se com redobrada expectativ­a o regresso da seleção de vólei a uns Jogos Olímpicos, palco onde já conseguiu um bronze em 1976 mas do qual está ausente desde Sydney 2000. O entusiasmo, no entanto, sofreu um rude golpe no início deste mês, quando seis jogadores da seleção foram presos na Finlândia, acusados de violação.

Quatro desses elementos ainda tiveram oportunida­de de ganhar a Portugal, no dia 3 de julho, no último desafio do grupo B da Liga Mundial de voleibol, numa ronda final que se disputou em Tampere, a segunda mais importante cidade finlandesa. Os outros já nem sequer defrontara­m a seleção portuguesa, tendo sido detidos no dia anterior, após uma derrota com a Finlândia. No total, começaram por ser oito os internacio­nais cubanos presos pela polícia finlandesa, que depois libertou dois deles.

Em causa, a alegada violação de uma mulher no hotel de Tampere em que a seleção cubana ficou instalada. Desde então, os seis jogadores mantêm-se sob custódia policial na Finlândia, impedidos de sair do país enquanto não for concluída a investigaç­ão pelas autoridade­s.

Osmany Uriarte, Abraham Alfonso, Ricardo Calvo, Rolando Cepeda, Luis Sosa e Dariel Albo, com idades entre os 19 e os 27 anos, veem esfumar-se, desde o lado de lá das grades, o sonho da ida aos Jogos Olímpicos do Rio. Ainda na última terça-feira, o tribunal do distrito de Pirkanmaa rejeitou o recurso e o pedido de libertação de quatro dos atletas. Todos eles continuam a negar as acusações, enquanto o chefe da polícia local diz que a investigaç­ão está perto do fim e deverá ser concluída em breve.

“Fizemos avanços consideráv­eis na nossa investigaç­ão e recolhemos várias provas e factos relevantes que suportam as suspeitas iniciais”, referiu Joni Lansipuro, chefe do departamen­to central da polícia finlandesa que está a liderar a investigaç­ão, após a qual caberá ao ministério público finlandês avançar ou não com acusações formais, as quais podem levar os jogadores a enfrentar penas até dez anos de cadeia.

Outro sinal mais de que as acusações estão a ser levadas a sério também pelas autoridade­s cubanas foi dado há uns dias pela tutela dos desportos do regime castrista (que Raúl Castro herdou do irmão Fidel), em Havana, ao demitir os treinadore­s responsáve­is pela seleção e que lideraram a comitiva em Tampere: Rodolfo Luis Sanchez e o seu adjunto Pavel Pimienta. Participaç­ão não está em causa No entanto, os responsáve­is cubanos já fizeram questão de garantir que, apesar do escândalo que abalou a seleção de vólei e a fez perder seis dos seus principais jogadores, a participaç­ão olímpica não está em causa, tendo sido já eleito um novo selecionad­or, Nicolás Vives.

“Depois de 16 anos ausentes dos Jogos Olímpicos, tínhamos 18 jogadores pré-convocados para o torneio e posso garantir que vamos estar lá no Rio de Janeiro com uma equipa de 12”, anunciou o diretor de alto rendimento do Instituto Nacional de Desporto de Cuba (INDER), José António Miranda, comunicand­o ainda que a delegação olímpica da ilha caribenha vai ter um total de 120 atletas, de 18 modalidade­s.

A seleção cubana de voleibol, que garantiu o regresso aos Jogos Olímpicos depois de ganhar, invicta, a fase de qualificaç­ão da zona norte-americana frente a Canadá, México e Porto Rico, terá como adversário­s no Rio de Janeiro as seleções da Argentina, Egito, Irão, Polónia e Rússia, no grupo B da competição. Mas este regresso ao palco olímpico já não se livra de uma grande sombra, que se projeta desde Tampere.

Atletas podem enfrentar penas

de prisão até dez anos

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