Comité Olímpico decidiu que os russos podem ir aos Jogos do Rio, mas todos os dopados ficam excluídos.
Rio 2016. Comité Olímpico delegou nas federações internacionais de cada modalidade a escolha dos atletas. Dopados estão todos excluídos
A ameaça era séria, as pressões chegavam de quase de todo o lado depois das revelações do relatório McLaren, que denunciava um programa de dopagem generalizada no desporto russo, mas o Comité Olímpico Internacional (COI) decidiu ontem não excluir os atletas russos (à exceção do atletismo, afastados por decisão do Tribunal Arbitral do Desporto) dos Jogos Olímpicos que têm início a 5 de agosto, delegando nas federações internacionais de cada modalidade a escolha dos eleitos.
A decisão agradou aos russos, mas outras entidades, como a Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA), já criticaram o COI. “Lamentavelmente, em resposta ao momento mais importante para os atletas limpos e para a própria integridade dos Jogos Olímpicos, o COI recusou desempenhar um papel fundamental de liderana ça”, disse o diretor-executivo da USADA, Travis Tygart.
Em causa estava a participação de mais de 300 atletas de 28 modalidades, que na sequência do relatório independente da Agência Mundial Antidopagem (AMA) ficaram sob sério risco. A comissão executiva do COI, reunida ontem em Lausana, Suíça, analisou o relatório que denunciava um programa de dopagem no desporto com apoio estatal, com participação ativa do ministro dos Desportos e dos serviços secretos, mas optou por não afastar a Rússia de todas as modalidades, uma decisão “tomada praticamente por unanimidade, com apenas uma abstenção”, disse Thomas Bach, líder do organismo.
O COI, no entanto, estabeleceu critérios rigorosos para autorizar a participação dos atletas, cuja seleção ficará a partir de agora sob a responsabilidade das federações internacionais das modalidades – Sebastien Coe, presidente da Associação de Federações Internacionais de Atletismo (IAAF), disse ontem que o organismo está disponível para ajudar outras federações a avaliar atletas russos. A federação de ténis já deu o seu OK.
Mas as regras são apertadas. Logo à partida ficam excluídos todos os que acusaram doping, mesmo os que já cumpriram castigo, o que afasta potenciais medalhados como a nadadora Yulia Efimova, a halterofilista Tatyana Kashirina e a ciclista Olga Zabelinskaya, todas envolvidas em casos de doping.
Além disso, os selecionados estão obrigados a um rigoroso programa antidoping, em coordenação com as federações de cada modalidade e AMA. Os atletas têm igualmente de ter ter efetuado recentemente testes sob a responsabilidade de organismos internacionais devidamente acreditados. “Todos os que não se prestem a este programa verão retirada a acreditação para os Jogos Olímpicos”, podia ler-se no comunicado emitido pelo COI, que adverte para a necessidade de “os atletas assumirem as consequências da responsabilidade coletiva” e reiterando que “a presunção de inocência não pode ser aplicada”.
Russos agradecem A AMA tinha exigido a exclusão da totalidade das modalidades e uma carta assinada por 14 países diferentes também exerceu pressão sobre o COI. Mas o Comité Olímpico considerou que não seria justo incluir os atletas limpos.
Neste momento, os únicos excluídos são os 67 do atletismo e tambémYuliya Stepanova, que apesar de ter denunciado o esquema de doping generalizado na Rússia, foi proibida pelo COI de participar nos Jogos sob bandeira neutra porque já acusou doping.
A Rússia, através deVitali Mutkó, ministro do Desporto, agradeceu a decisão tomada pelo COI. “O doping é um flagelo mundial e não só um problema da Rússia. Mas para acabarmos com este problema são necessários esforços conjuntos dos organismos internacionais e das instituições estatais”, referiu, confirmando que os atletas russos que tenham violado as regras antidoping e já tenham pago por isso estão proibidos de participar nos Jogos: “Lamentavelmente, esta regra só se aplica à nossa equipa.” Com ANDRÉ CRUZ MARTINS
A exclusão do atletismo mantém-se e outras modalidades estão sujeitas a critérios