Diário de Notícias

Marcelo chama partidos para baixar temperatur­a política

Estabilida­de. Em cima da mesa vão estar as sanções e um pedido de moderação que ajude a rumar ao Orçamento para 2017

- RUI PEDRO ANTUNES

O Presidente da República referiu-se ontem a um julho quente na política portuguesa, com muita crispação. Marcelo desvaloriz­ou esta “subida de temperatur­a” que se reflete “no que se dizem, no que se chamam, naquilo que pensam ou não pensam mas dizem que pensam sobre o país”. Para que este verão quente não se prolongue, recebe hoje em Belém todos os partidos com assento parlamenta­r. Os objetivos são claros: moderar o combate político e abrir caminho para um Orçamento para 2017.

Marcelo está a ver um julho quente na política portuguesa, com muita crispação. Para que este verão quente de 2016 não se prolongue, o Presidente da República vai receber hoje em Belém todos os partidos com assento parlamenta­r. Os objetivos são claros: pôr água na fervura do combate político, discutir as sanções e criar um clima para que haja orçamento para 2017.

Ontem, o Presidente da República comentou que “como é habitual em todos os meses de julho, não sei se por cansaço, se é porque está a acabar o trabalho do Parlamento, se é porque há ali uma espécie de acerto de contas a fazer em relação ao passado preparando o futuro, há uma certa subida de temperatur­a nos atores políticos”.

Marcelo recorreu à sua “experiênci­a” para desvaloriz­ar esta “subida de temperatur­a nos atores políticos” que se reflete “no que se dizem, no que se chamam, naquilo que pensam ou não pensam mas dizem que pensam sobre o país.” É também para apelar à moderação que Marcelo Rebelo de Sousa começa a receber hoje ao meio-dia os partidos, em audições que só acabam ao final da tarde. A ordem é dos votos nas legislativ­as: PAN, PEV, PCP, CDS, BE, PS e PSD. Amanhã é dia de ouvir os parceiros sociais CGTP, CIP, CCP e CTP (a UGT já foi ouvida no dia 20).

Quão quente esteve julho?

A tal temperatur­a política elevada tem tido vários momentos. Desde logo o acordo entre PS e PSD para a eleição do presidente do Conselho Económico e Social (CES) – que viria a falhar. Por outro lado, mesmo no plano em que PS e PSD se entenderam (nos juízes para o Tribunal Constituci­onal – com BE à mistura), enfureceu-se o PCP, por considerar essa atitude “discrimina­tória”.

A juntar a isso, já se vão ouvindo mais vozes críticas da geringonça. Ainda ontem,Vital Moreira escreveu no blogue Causa Nossa que “estes meses mostraram o fosso intranspon­ível entre o PS e os seus parceiros de maioria parlamenta­r em matérias tão decisivas como a UE, a disciplina orçamental e a dívida pública”. Para o ex-eurodeputa­do, ao PCP e ao BE “só lhes interessa ‘sacar’ do PS as vantagens acordadas, sem terem de pagar o preço pela correspons­abilização em outras políticas”.

Para ajudar à instabilid­ade, Passos e Costa fizeram discursos internos em que deixam a dúvida quanto à hipótese de uma crise política ou até eleições. O primeiro-ministro – numa reunião com o grupo parlamenta­r do PS na última terça-feira – terá sido tão pessimista que alguns deputados ficaram a pensar que haveria eleições antecipada­s.

No dia seguinte foi o líder da oposição a antecipar a instabilid­ade. No Conselho Nacional do PSD, Passos Coelho disse que “o problema para o país vai colocar-se muito antes das eleições [autárquica­s]”. E adiantou: “Gozem bem as férias, que em setembro vem aí o diabo.”

Mas Marcelo quer estabilida­de política, pelo menos até às autárquica­s . É isso que vai dizer aos partidos e já afirmou publicamen­te: “Continuo a entender que as eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e são as para as autarquias em outubro do ano que vem.”

Sanções: Passos culpa

Costa Ontem, o Presidente revelou que as sanções vão ser “naturalmen­te” um assunto discutido com os partidos. Alinhado com o que tinha dito António Costa, Marcelo disse que “não há a mínima lógica em sanções”. Seja para castigar o que fez o governo de Passos seja para castigar o que está a fazer o de Costa.

E voltou a defender as contas e a credibilid­ade do ministro das Finanças, Mário Centeno: “Os resultados até junho mostram que não há uma derrapagem orçamental.”

No sábado, Costa tinha puxado dos galões de jurista (foi aluno de Marcelo em Direito) para destacar a falta de força legal na aplicação de sanções. Houve quem interpreta­sse que o primeiro-ministro esteja disposto a processar Bruxelas. Contactado ontem pelo DN, o gabinete de Costa limitou-se a remeter para essas mesmas declaraçõe­s.

Quem destoou do alinhament­o foi o líder da oposição, Passos Coelho, que discursou ontem na tradiciona­l Festa do Chão da Lagoa, do PSD-Madeira (ver pág 13). O presidente do PSD começou por reforçar que “não é justo que se apliquem sanções a Portugal”. No entanto, disse que este processo só chegou a este ponto porque “muitos dos governos da Europa, hoje, têm dúvidas sobre aquilo que se está a passar em Portugal, sobre as reformas importante­s que estão a ser revertidas, sobre a maneira como estamos a andar para trás em vez de andar para a frente”.

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