Marcelo chama partidos para baixar temperatura política
Estabilidade. Em cima da mesa vão estar as sanções e um pedido de moderação que ajude a rumar ao Orçamento para 2017
O Presidente da República referiu-se ontem a um julho quente na política portuguesa, com muita crispação. Marcelo desvalorizou esta “subida de temperatura” que se reflete “no que se dizem, no que se chamam, naquilo que pensam ou não pensam mas dizem que pensam sobre o país”. Para que este verão quente não se prolongue, recebe hoje em Belém todos os partidos com assento parlamentar. Os objetivos são claros: moderar o combate político e abrir caminho para um Orçamento para 2017.
Marcelo está a ver um julho quente na política portuguesa, com muita crispação. Para que este verão quente de 2016 não se prolongue, o Presidente da República vai receber hoje em Belém todos os partidos com assento parlamentar. Os objetivos são claros: pôr água na fervura do combate político, discutir as sanções e criar um clima para que haja orçamento para 2017.
Ontem, o Presidente da República comentou que “como é habitual em todos os meses de julho, não sei se por cansaço, se é porque está a acabar o trabalho do Parlamento, se é porque há ali uma espécie de acerto de contas a fazer em relação ao passado preparando o futuro, há uma certa subida de temperatura nos atores políticos”.
Marcelo recorreu à sua “experiência” para desvalorizar esta “subida de temperatura nos atores políticos” que se reflete “no que se dizem, no que se chamam, naquilo que pensam ou não pensam mas dizem que pensam sobre o país.” É também para apelar à moderação que Marcelo Rebelo de Sousa começa a receber hoje ao meio-dia os partidos, em audições que só acabam ao final da tarde. A ordem é dos votos nas legislativas: PAN, PEV, PCP, CDS, BE, PS e PSD. Amanhã é dia de ouvir os parceiros sociais CGTP, CIP, CCP e CTP (a UGT já foi ouvida no dia 20).
Quão quente esteve julho?
A tal temperatura política elevada tem tido vários momentos. Desde logo o acordo entre PS e PSD para a eleição do presidente do Conselho Económico e Social (CES) – que viria a falhar. Por outro lado, mesmo no plano em que PS e PSD se entenderam (nos juízes para o Tribunal Constitucional – com BE à mistura), enfureceu-se o PCP, por considerar essa atitude “discriminatória”.
A juntar a isso, já se vão ouvindo mais vozes críticas da geringonça. Ainda ontem,Vital Moreira escreveu no blogue Causa Nossa que “estes meses mostraram o fosso intransponível entre o PS e os seus parceiros de maioria parlamentar em matérias tão decisivas como a UE, a disciplina orçamental e a dívida pública”. Para o ex-eurodeputado, ao PCP e ao BE “só lhes interessa ‘sacar’ do PS as vantagens acordadas, sem terem de pagar o preço pela corresponsabilização em outras políticas”.
Para ajudar à instabilidade, Passos e Costa fizeram discursos internos em que deixam a dúvida quanto à hipótese de uma crise política ou até eleições. O primeiro-ministro – numa reunião com o grupo parlamentar do PS na última terça-feira – terá sido tão pessimista que alguns deputados ficaram a pensar que haveria eleições antecipadas.
No dia seguinte foi o líder da oposição a antecipar a instabilidade. No Conselho Nacional do PSD, Passos Coelho disse que “o problema para o país vai colocar-se muito antes das eleições [autárquicas]”. E adiantou: “Gozem bem as férias, que em setembro vem aí o diabo.”
Mas Marcelo quer estabilidade política, pelo menos até às autárquicas . É isso que vai dizer aos partidos e já afirmou publicamente: “Continuo a entender que as eleições agora no futuro são as dos Açores, em outubro, e são as para as autarquias em outubro do ano que vem.”
Sanções: Passos culpa
Costa Ontem, o Presidente revelou que as sanções vão ser “naturalmente” um assunto discutido com os partidos. Alinhado com o que tinha dito António Costa, Marcelo disse que “não há a mínima lógica em sanções”. Seja para castigar o que fez o governo de Passos seja para castigar o que está a fazer o de Costa.
E voltou a defender as contas e a credibilidade do ministro das Finanças, Mário Centeno: “Os resultados até junho mostram que não há uma derrapagem orçamental.”
No sábado, Costa tinha puxado dos galões de jurista (foi aluno de Marcelo em Direito) para destacar a falta de força legal na aplicação de sanções. Houve quem interpretasse que o primeiro-ministro esteja disposto a processar Bruxelas. Contactado ontem pelo DN, o gabinete de Costa limitou-se a remeter para essas mesmas declarações.
Quem destoou do alinhamento foi o líder da oposição, Passos Coelho, que discursou ontem na tradicional Festa do Chão da Lagoa, do PSD-Madeira (ver pág 13). O presidente do PSD começou por reforçar que “não é justo que se apliquem sanções a Portugal”. No entanto, disse que este processo só chegou a este ponto porque “muitos dos governos da Europa, hoje, têm dúvidas sobre aquilo que se está a passar em Portugal, sobre as reformas importantes que estão a ser revertidas, sobre a maneira como estamos a andar para trás em vez de andar para a frente”.