O alto preço do pragmatismo inadequado da Europa
Afacilidade com que um observador descobre um desenvolvimento insustentável aumenta com a distância. A votação a favor do brexit e as crises da zona euro foram mais fáceis de detetar a partir do outro lado do canal da Mancha.
Praticamente todos os meus amigos europeus continentais viram que a situação do Reino Unido como membro da UE era insustentável. Como é possível, perguntavam eles, recusar-se a fazer parte da zona euro e da união bancária, mas ser também um membro de pleno direito do mercado único de serviços financeiros? Poucas pessoas britânicas minhas conhecidas compreendiam sequer a pergunta: diziam que era sensato aproveitar as oportunidades do mercado único oferecidas a todos os membros. Elas pareciam não se incomodar por Londres atuar como o centro financeiro de outra zona monetária.
Noto uma discrepância semelhante no entendimento da zona euro. Muitos dos meus amigos britânicos já viram claramente há muito tempo que a zona euro é insustentável com base nas políticas e instituições atuais. Mas essa visão não é partilhada por políticos e economistas no continente.
Os críticos britânicos argumentam, com razão, que a união monetária está a falhar devido a uma divergência de desempenho económico. Há agora mecanismos estabelecidos, mas eles não vão impedir os Estados membros de se afastarem cada vez mais. A solução é, no mínimo, uma autoridade central encarregada do setor bancário e financeiro, um pequeno orçamento e alguns instrumentos de dívida conjuntos. Se a política não permitir isso, tem de se aceitar o axioma de que se alguma coisa não é sustentável acaba por chegar ao fim.
Tem tudo que ver com a sustentabilidade. Esta é a principal lição da votação pelo brexit. O Reino Unido vai sair da UE não porque David Cameron, o ex-primeiro-ministro, cometeu um erro tático. Ele cometeu-o, evidentemente. Mas a adesão do Reino Unido está a chegar ao fim porque era insustentável. A UE sempre foi um projeto de integração política. A campanha pela permanência baseou-se na ideia de que isso não era verdade.
Para a UE, uma solução sustentável pode ser definida como o oposto de uma solução pragmática. As soluções sustentáveis são orientadas para as tarefas; as pragmáticas são frequentemente míopes. Em 2008, a recusa alemã da recapitalização do sistema bancário europeu parecia pragmática na altura. A chanceler Angela Merkel orientou os outros líderes para a decisão de que cada país resgata o seu próprio sistema bancário. Oito anos mais tarde, o sistema bancário italiano continua insolvente e aguarda uma recapitalização urgente. Ainda estamos a debater quais os ativos tóxicos que podem estar ocultos no balanço do Deutsche Bank. A decisão de Merkel foi o início da crise da zona euro.
Vejamos, por exemplo, a decisão igualmente pragmática tomada em 2010 de não permitir um perdão da dívida soberana grega porque os bancos alemães e franceses teriam sofrido perdas desagradáveis. Os programas frouxos para a Grécia levaram a uma nova crise em 2012 e novamente em 2015. As últimas notícias da Grécia dizem que a recessão está a acelerar novamente.
As autoexclusões do Reino Unido são, talvez, o exemplo mais fatídico do pragmatismo inadequado. As autoexclusões da moeda única e do espaço Schengen sem passaporte pareciam sensatas quando acordadas; elas permitiram que um governo conservador superasse as suas divisões internas por um curto período. Mas elas não resolveram o problema subjacente de um país profundamente dividido sobre o seu envolvimento na Europa. As autoexclusões britânicas levaram a um afastamento progressivo entre o Reino Unido e o resto do bloco.
Então quais são as políticas não pragmáticas que os líderes da UE devem adotar? Eu não as classificaria em termos dos velhos debates do “federalismo contra oin ter governamental is mo”,m assim em termos do que é necessário para fazer funcionar determinadas áreas políticas. A união mone tá riaéa par temais importante da UE, especialmente agora que o Reino Unido está de saída. A zona euro vai exigir um maior grau de integração política e de mercado. A zona euro, não aUE,éaúnicaun idade geográfica para a qual um mercado único faz sentido, especialmente nos serviços financeiros. A zona euro requer também maior integração do mercado, principalmente do mercado de trabalho. Ele precisa da livre circulação como estabilizador macroeconómico – com as pessoas a deslocarem-se de países com uma alta taxa de desemprego para aqueles com escassez de mão-de-obra; os países da UE que não pertencem à zona euro podem viver muito bem com menos integração.
A solução sustentável consiste assim numa zona euro mais integrada e numa UE com menos integração. Esta última precisa de uma união aduaneira, um mercado único limitado para produtos industriais e alguns serviços e outras políticas comuns. Pode haver flexibilidade para acomodar as diferentes necessidades dos países. Pode até ser possível que o Reino Unido se religue à UE, sem se tornar um membro nuclear.
Eu não espero que haja discussões sérias sobre nada disto antes das eleições nacionais do próximo ano na Alemanha, França e Holanda. Nenhuma das opções acima pode ser acordada a tempo de impedir o brexit. Mas nunca é demais sublinhar a importância destas conversações. Elas irão decidir se o brexitéo começo do fim ou o começo de uma nova era da integração europeia.
Solução sustentável consiste assim numa zona euro mais integrada e numa UE com menos integração. Esta última precisa de uma união aduaneira, um mercado
único limitado para produtos industriais e alguns serviços e outras políticas comuns. Pode haver flexibilidade para acomodar as diferentes necessidades dos países. Pode até ser possível que o Reino Unido se religue à UE, sem se tornar um
membro nuclear