Diário de Notícias

O maluco de Munique talvez nos tenha ajudado

- FERREIRA FERNANDES Jornalista

Sobre Munique, pingaram as sondagens no Twitter. Agora já é possível saber os resultados das opiniões à boca das notícias. Confirmou-se, os dois candidatos mais populares são: 1) os que acham que terrorismo islâmico é uma redundânci­a e 2) os que, achando outros que o islâmico é terrorismo, para combater esse abuso defendem que o terrorismo não é islâmico. Assim, antes de se conhecerem pormenores básicos sobre Munique (quem? quantos?), já se escrevia: “Outra vez terrorista­s islâmicos”, uns, e “lá vão ter de inventar mais um comunicado do Daesh...”, outros. Sobre o atirador ter dito “sou alemão”, logo se concluiu: o atentado era da extrema-direita alemã. Atrevida hipótese porque, na Alemanha (e aliado a terrorista­s islâmicos), houve um terrorismo de extrema-esquerda ainda há poucos anos. Depois soube-se que o terrorista, se era alemão, também era iraniano. Deu para cada lado puxar a brasa à sua sardinha... E, finalmente, soube-se que o atirador (e terrorista, porque era o que ele pretendia, terror) era uma cabeça destrambel­hada, tendo por cúmplices só os macaquinho­s no sótão. A imediatez com que hoje se opina não é necessário defeito. O problema é um dos seus efeitos: a crise de cresciment­o da internet trouxe pior jornalismo. De Nice não tivemos testemunho­s sobre uma criança esmagada por uma roda que a queria matar. Muita falta de factos e excesso de opinião. É um paradoxo acharmos tanto quando não sabemos o que nos acontece.

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