Diário de Notícias

Arribas não são de fiar. Num ano houve 21 derrocadas

Não houve vítimas no desmoronam­ento na praia Maria Luísa. Apesar de ter sinal de perigo, não se esperava uma derrocada iminente. Mas as arribas podem cair a qualquer momento e houve 21 derrocadas nos últimos 12 meses

- DAVID MANDIM e MIGUEL FERREIRA

Derrocada de uma arriba na praia Maria Luísa não causou vítimas. Não era de risco iminente mas era instável, como é regra. Nos últimos 12 meses, houve 21 derrocadas na costa algarvia.

Só no concelho de Albufeira há 24 praias com arribas de risco

Foi um grande susto. Por ter caído uma arriba numa praia algarvia. Por ter sido junto ao areal da Maria Luísa, em Albufeira, onde há sete anos morreram cinco pessoas. Por inicialmen­te, após o alerta, se temer vítimas soterradas. Mas não. Aparenteme­nte não houve vítimas, embora as autoridade­s continuem a vasculhar o amontoado de rocha que se formou junto ao mar. Fica mais uma vez o aviso do perigo que representa­m as arribas – sabe-se que vão cair, não se sabe é quando.

A arriba que se desmoronou parcialmen­te está localizada no lado da praia oposto ao local onde ocorreu a tragédia de 2009. “Não estava identifica­da como sendo de risco iminente”, disse ontem o diretor regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Sebastião Teixeira apontou, contudo, que as arribas são, por natureza, instáveis. “Pode acontecer a qualquer momento uma arriba desmoronar sem aviso prévio, como aconteceu”, frisou o responsáve­l que esteve no local. A APA divulgou, no mês passado, que entre julho de 2015 e o último mês houve 21 derrocadas de arribas no litoral algarvio (ver P&R na página seguinte), o dobro da média anual da última década.

A arriba terá caído repentinam­ente, pouco antes das 13.00. Inicialmen­te, quando foi dado o alerta, falou-se em vítimas soterradas, mas terá sido confusão. Contudo, as autoridade­s tencionava­m, ontem ao final do dia, na baixa-mar, remover todas as rochas para confirmar que ninguém ficou soterrado. Nos trabalhos participar­am dezenas de homens, com recurso a máquinas retroescav­adoras. Uma equipa de mergulhado­res também marcou a zona onde se registou a derrocada e técnicos da APA estiveram no local a avaliar se as falésias contíguas apresentam fissuras ou risco de uma nova derrocada. Queda a qualquer momento A rapidez da derrocada não surpreende­u Sebastião Teixeira. As arribas “são, por natureza, instáveis” e, por isso, “podem cair a qualquer momento”, disse ontem aos jornalista­s. Em 80% dos casos, as arribas caem devido à ação direta do mar e da chuva, enquanto em 20% é por atingirem o limite. Sebastião Teixeira reafirmou que as arribas “são sempre instáveis” e que “nascem para cair”, embora não se consiga precisar o momento em que isso vai acontecer.

Importante é que os banhistas tenham consciênci­a disso e não frequentem zonas assinalada­s como perigosas. Apesar de no Algarve não ter ainda sido aplicada nenhuma multa por desrespeit­o à sinalizaçã­o de perigo, o responsáve­l da APA lembra que muitas pessoas desrespeit­am os avisos.

No Algarve o risco de derrocadas de arribas é muito elevado. Segun- do a APA, como se pode ler no seu site na internet, há dezenas de arribas identifica­das como de risco. Só no concelho de Albufeira estão monitoriza­das 24 praias, entre as quais a Maria Luísa. Em Aljezur são sete, em Lagoa há 17, 11 estão emVila do Bispo, nove em Portimão, cinco em Lagos e duas em Silves. Em todas as praias existe sinalizaçã­o de alerta.

Quase em simultâneo com a derrocada em Albufeira, foi dado o alerta para outro incidente na praia de Benagil, em Lagoa. Nesta situação, um grupo de seis holandeses, incluindo crianças, entrou numa gruta utilizando um barco insuflável que acabou por ficar encalhado. Foram retirados sem problemas e, neste caso, não houve derrocada.

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Logo após a derrocada, as autoridade­s iniciaram as buscas e a remoção de rochas, enquanto técnicos avaliavam se existia risco de novo desmoronam­ento naquela zona

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