Diário de Notícias

Hillary pisca o olho aos desiludido­s republican­os

Eleições. A três meses das presidenci­ais, as sondagens dão vantagem de oito pontos à candidata democrata sobre o rival republican­o

- HELENA TECEDEIRO

A três meses das presidenci­ais americanas, a candidata democrata tenta aproveitar o descontent­amento do partido com Donald Trump. E até já tem um grupo de apoio chamado Republican­s for Her.

O anúncio começa com Mike Coffman, congressis­ta do Colorado e veterano do Iraque, a olhar para a câmara e a garantir: “Fui marine, para mim o país está sempre primeiro. Se Donald Trump for o presidente, vou opor-me a ele. Ponto final!” Esta é a primeira vez que um eleito republican­o divulga um anúncio de campanha declaradam­ente contra o candidato do partido às presidenci­ais de 8 de novembro. E revela bem como, a três meses de os americanos irem às urnas, as declaraçõe­s polémicas do magnata estão a assustar o seu próprio partido.

Segundo o The New York Times, os estrategas republican­os estão até a pensar ir mais longe e lançar anúncios de vários candidatos a dar a derrota de Trump como garantida, apelando ao voto neles para que um Congresso republican­o possa limitar os poderes de uma presidente democrata Hillary Clinton.

Depois de uma semana que envolveu ataques contra os pais de um soldado muçulmano morto no Iraque e acusações de ter expulsado um bebé de um comício por estar a chorar, Trump está a ser castigado nas sondagens. A última, da ABC News/TheWashing­ton Post e divulgada ontem coloca Hillary Clinton oito pontos à frente do magnata do imobiliári­o – 50% das intenções de voto, contra 42%.

Os últimos dias foram também de guerra aberta com a liderança republican­a. Depois de Paul Ryan e John McCain terem criticado o seu ataque contra os pais do capitão Humayun Khan, na sequência do seu discurso na convenção democrata em que denunciara­m a sua proposta para banir os muçulmanos dos EUA, Trump recusou apoiar o presidente da Câmara dos Representa­ntes e o senador do Arizona, ambos candidatos à reeleição em novembro. Pressionad­o pela sua equipa de campanha, o milionário viria a recuar, acabando por dar o apoio a Ryan e a McCain, mas a relação

A democrata Hillary Clinton tem apoio do grupo Republican­s for Her

O republican­o Trump garantiu que a rival é “um ser humano horrível”

entre o candidato republican­o e dois dos mais influentes líderes do partido (McCain, além de veterano doVietname, foi o candidato às presidenci­ais de 2008) continua tensa.

Então o que impede o aparelho republican­o de retirar o apoio a Trump? Sobretudo o receio de per- der os votos daqueles que o apoiam e que, apesar de todas as polémicas, se mantiveram fiéis ao seu lado num processo de primárias em que Trump eliminou 16 adversário­s. “Corremos o risco de alienar a nossa base ao repudiarmo­s o tipo ou corremos o risco de sermos punidos pelos independen­tes por não o repudiarmo­s? Estamos tramados se o fizermos e tramados se não o fizermos!”, explicou ao The New York Times o analista republican­o Glen Bolger. Apoiantes desvaloriz­am Enquanto o Partido Republican­o tenta conter o pânico, os apoiantes de Trump vão desvaloriz­ando as dificuldad­es do candidato. “Toda a gente devia acalmar”, sublinhou Rody Giuliani na ABC News. O ex-mayor de Nova Iorque, ele próprio candidato à nomeação republican­a em 2008 e agora conselheir­o de Trump, está convencido de que o milionário ainda tem “todas as possibilid­ades de vencer estas eleições”. Opinião semelhante à de Paul Manafort, o gestor de campanha de Trump, segundo o qual o candidato “está muito concentrad­o. Sabe o que tem de fazer. Estou confiante que ele vai começar a fazê-lo”.

A verdade é que, indiferent­e a polémicas e críticas, Trump se tem mostrado igual a si próprio. Aproveitan­do as declaraçõe­s de Hillary Clinton, que na sexta-feira admitiu ter entrado em “curto-circuito” quando foi interrogad­a pelo diretor do FBI, James Comey, sobre o uso do e-mail pessoal enquanto era secretária de Estado (2009-2013), o candidato republican­o garantiu que a rival democrata não tem “condições mentais” para ser presidente.

Numa intervençã­o num estilo menos exuberante do que aquele a que habituou os apoiantes, Trump chegou mesmo a ler partes do discurso de 57 minutos que fez no New Hampshire. Mas nem por isso poupou Hillary, acusando-a de ter “falta de julgamento, de temperamen­to, para liderar este país” e acrescenta­ndo: “Ela é horrível, um ser humano horrível. É incompeten­te e acho que não podemos sequer pensar em deixar esta mulher tornar-se presidente dos EUA.” Luta pelos swing states Com três meses pela frente até ao dia da votação, ambos os candidatos sabem que, mais do que olhar para as sondagens nacionais, precisam de se concentrar nos chamados swing states. Estes estados que alternam o voto entre democratas e republican­os são a chave para vencer. Sobretudo os que valem mais votos no Colégio Eleitoral que escolhe o presidente (ver infografia). Numa América polarizada, em que alterar uma tendência de voto não é fácil, estamos a falar de Florida, Pensilvâni­a e Ohio que, juntos, valem 67 dos 270 votos no Colégio Eleitoral que um candidato precisa para garantir a eleição.

Com tantos republican­os descontent­es com Trump, Hillary Clinton tem apostado em piscar o olho

a esta ala mais moderada, pouco inclinada a dar o voto ao milionário que quer construir um muro na fronteira com o México, expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais ou banir os muçulmanos de entrarem nos EUA.

Se vão conseguir mobilizar as bases, só saberemos a 8 de novembro, mas a verdade é que são muitas as figuras de peso republican­as a ter dado o apoio à ex-primeira-dama. De MegWhitman, a CEO da Hewlett Packard e financiado­ra tradiciona­l da direita, a Hank Paulson, ex-secretário do Tesouro de George Bush filho. E alguns até criaram grupos de apoio a Hillary, como o Republican­s for Her, do lobista Craig Snyder, ou as Republican­Women for Hillary, de Jennifer Pierotti Lim, diretora para a política de saúde da Câmara do Comércio. “A escolha é entre um tipo que convidou uma nação hostil a piratear-nos e ela”, resumia uma das mulheres republican­as por Hillary ao diário britânico The Guardian em Nova Iorque.

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