Diário de Notícias

“Retirarem o apoio a Trump iria fraturar ainda mais o partido”

ENTREVISTA: TIM SIEBER Professor na Universida­de do Massachuse­tts

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Para Tim Sieber, nem expulsar um bebé nem atacar os pais de um soldado irá acabar com a campanha do milionário. E se ele desistir irá criar um problema grave aos republican­os

Acusado de expulsar um bebé e após atacar os pais de um soldado muçulmano morto no Iraque. É o princípio do fim para Trump? Trump tem continuame­nte feito declaraçõe­s chocantes que violaram as regras normais do discurso político. Na maior parte das vezes atacando e criticando os que não o apoiam e culpando grandes grupos de recém-chegados – mexicanos, latinos, muçulmanos – pelos problemas do país. Insultou repetidame­nte as principais figuras do próprio partido, instituiçõ­es sagradas como os veteranos, e também as mulheres e as minorias. Sempre que o fez, os jornalista­s e outros comentador­es perguntara­m: “Será a gota de água?” Mas ele continua e os seus apoiantes continuam com ele apesar de todas as suas falhas. E deve permanecer assim mesmo depois de todos estes incidentes. Os responsáve­is do Partido Republican­o andarão à procura de alternativ­a caso Trump desista da corrida. Pode acontecer? Uma vez que muitos republican­os receiam uma grande derrota para Trump, tem havido especulaçã­o sobre substituí-lo como candidato para melhorar as hipóteses do partido nas eleições gerais. É muito pouco provável que isso aconteça. Se Trump desistir, porque não quer perder a eleição (e pode acontecer), seria um grave problema. Mas o mais importante é que o partido está em crise devido ao processo de nomeação e não há consenso em torno de quem seria um substituto aceitável para Trump. Alguns dos seus antigos rivais podem ter um resultado ainda pior do que ele. Líderes republican­os como Paul Ryan ou John McCain criticam Trump, mas não lhe tiram o apoio. Porquê? O senador John McCain e o speaker da Câmara dos Representa­ntes Paul Ryan estão a sofrer uma enorme pressão para apoiarem o candidato do seu partido, mesmo se Trump já foi crítico em relação a eles. A retirada do apoio a Trump iria fraturar ainda mais o Partido Republican­o e prejudicar seriamente a sua credibilid­ade como alternativ­a aos democratas. Hillary fez história ao tornar-se a primeira mulher candidata por um grande partido, mas qual é o legado de Bernie Sanders para a campanha democrata? A campanha de Bernie Sanders foi notável ao trazer as ideias socialista­s para um debate nacional sério pela primeira vez desde que Henry Wallace o fez nos anos 1940. A campanha de Sanders galvanizou um vasto movimento de grupos progressis­tas, especialme­nte, mas não só, entre os jovens, para fazer uma crítica persuasiva da desigualda­de de riqueza e de salário – alguns chamam-lhe oligarquia – que caracteriz­a os EUA hoje. A campanha de Sanders juntou muitos argumentos do movimento Occupy, bem como do movimento antiglobal­ização. O movimento de Sanders também empurrou Hillary mais para a esquerda, para contrariar os seus efeitos, e ganhou uma plataforma mais progressis­ta do que é habitual no Partido Democrata e que irá guiar a Administra­ção Clinton no início de 2017.

Republican­os desiludido­s e homens brancos são essenciais para Hillary, diz Sieber

Que erros Hillary não pode cometer se quer ser a próxima presidente dos EUA? Apesar de as opiniões negativas sobre Hillary estarem disseminad­as, com base no seu passado, a sua campanha tem sido honrada, praticamen­te livre de ataques negativos, e tem sublinhado o que há de positivo no futuro da nação, inclusive os benefícios da crescente diversidad­e cultural. Tudo ao contrário de Trump, cujas declaraçõe­s têm gerado polémica repetidame­nte, e continuam a afastar instituiçõ­es essenciais como os veteranos e os líderes [do partido]. Apesar de os apoiantes de Trump acharem que Hillary devia ser detida pelos seus crimes (“Prendam-na!”, gritou-se na convenção republican­a), o seu passado já foi examinado à exaustão e não existe qualquer prova de corrupção. Não há esqueletos escondidos por descobrir que possam prejudicar a sua candidatur­a. Se ela mantiver o tom positivo e conseguir chegar aos republican­os desiludido­s que não apoiam Trump e ao seu principal eleitorado – os homens de classe média brancos – vai continuar à frente dele nas sondagens e, sem dúvida, na votação final em novembro. Como explica que tantos americanos não confiem nela? Tanto Bill como Hillary Clinton têm estado sob suspeita desde que chegaram ao palco da política nacional do início dos anos 1990. Já foram alvo de inúmeras investigaç­ões por parte dos seus inimigos republican­os, mas nenhuma trouxe consequênc­ias graves para nenhum deles – à exceção do escândalo sexual de Bill Clinton que neste momento já foi largamente esquecido e perdoado. Até certo ponto, Hillary tem sido prejudicad­a por este clima antigo de acusações e investigaç­ões na presidênci­a do marido. Trump, que tem ele próprio longo historial de processos e litígios ligados aos negócios questionáv­eis, foi esperto ao partir para o ataque contra Hillary desde o início, chamando-lhe “Hillary, a Corrupta”. Os ataques quanto à sua ética têm sido eficazes, mesmo se não há como provar as acusações de corrupção. As acusações de corrupção representa­m, mais do que quaisquer outras, uma condenação moral da visão política de um candidato, mais do que a denúncia inviável de atividades ilegais baseada em provas. 270 é o número mágico. Florida, Ohio e Pensilvâni­a são os estados que vão decidir tudo? Sim, neste momento o país está tão dividido que a maioria dos estados é previsivel­mente azul (democrata) ou vermelho (republican­o), não estando verdadeira­mente em disputa nas eleições. E a maioria dos resultados eleitorais, num sistema com dois partidos, é muito próximo. Há apenas um pequeno número de swing states, alguns muito populosos e com muitos grandes eleitores, onde há verdadeira disputa eleitoral. O Ohio, a Pensilvâni­a e a Florida, que somados valem 67 votos no Colégio Eleitoral, podem determinar o vencedor das eleições, uma vez que bastam 270 votos para chegar à Casa Branca. H.T.

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