Há mais e menos candidatos
Avitória do Benfica na Supertaça, frente ao Sp. Braga, pode ter vindo avolumar as certezas de que os encarnados são os principais candidatos à renovação do título nacional. Mas as dificuldades que o tricampeão sentiu na maior parte da partida frente ao onze de José Peseiro e o facto de, no limite, a Supertaça só ter tomado o caminho da Luz porque Rafa e Pedro Santos foram bastante perdulários na finalização – e Jonas, já se sabe, não perdoa… – terão chegado para temperar algum entusiasmo aos mais eufóricos dos adeptos encarnados. O Benfica, pela forma como alargou o lote de opções à disposição de Rui Vitória, é realmente o maior candidato à vitória final na Liga, mas nada do que se viu ontem permite ter certezas de que venha a ter a tarefa mais facilitada do que na caminhada difícil para o tri. Porque Sporting e FC Porto estão à espreita e, resolvidos os problemas na definição, este Sp. Braga também tem de ser levado a sério.
Se é verdade que Cervi parece dar garantias de que, mesmo de forma diferente de Gaitán, pode ocupar a faixa esquerda do ataque encarnado – e se não estiver ele podem estar Carrillo ou Salvio, mesmo que isso implique o desvio de flanco de Pizzi –, já a substituição de Renato Sanches não está ainda comprovadamente conseguida. Não é que André Horta tenha feito um mau jogo. Não só não fez como ainda falta ver Danilo naquela posição. Só que, com exceção dos primeiros 20 minutos, em que jogou praticamente dentro da área do Sp. Braga, faltou sempre ao Benfica explosão para aproveitar o balanceamento ofensivo de um adversário que se viu a perder cedo e por isso assumiu a partida. Talvez este seja um Benfica mais à imagem de Rui Vitória, até a caminhar para o 4x2x3x1 predileto do treinador campeão, com jogo mais pensado e menos explosivo: a incorporação de Luisão, obrigando a uma defesa mais baixa no campo, a entrada de Grimaldo e Nelson Semedo, dois laterais mais ofensivos do que André Almeida e Eliseu, podem até levar a equipa para aí e conduzir a uma maior participação de Jonas na construção. Mas se houve Benfica entusiasmante ontem, em Aveiro, foi nos primeiros 20 minutos, quando a equipa esteve ligada à corrente máxima e desfez a organização defensiva bracarense. Depois vieram as dúvidas.
Essas dúvidas podem também encontrar justificação no valor dos adversários. Ainda que o clima depressivo que se vive em Alvalade à conta dos resultados da pré-época pareça indicar o contrário, o Sporting também é forte candidato. A equipa tem perdido muitos jogos na pré-época? É verdade. E tem revelado desatenções defensivas imperdoáveis. Os resultados nos jogos de preparação, no entanto, não justificam tão acirrados estados de alma, como sabe Jorge Jesus, que já foi campeão depois de pré-temporadas bem piores do que esta e tem muito mais com que se preocupar. O problema de Jesus é que o dia 1 de setembro nunca mais chega e, com ele, o fecho do mercado e a estabilização do grupo. Rui Patrício, William Carvalho, Adrien Silva e, sobretudo, João Mário e Slimani são muito requisitados. Se todos ficarem, o Sporting só tem de contratar mais um homem para o ataque: assumindo que Alan Ruiz vem suprir a falta de Teo Gutiérrez, só há que encontrar uma alternativa credível a Slimani. Jesus pode sempre alegar que continua a não ter a profundidade no plantel para atacar todas as frentes que tem, por exemplo, o Benfica, mas não tem uma equipa pior do que há um ano. Pelo contrário.
E há o FC Porto, a que ainda falta um defesa central e um médio ofensivo, mas que apresenta como maior arma para esta época uma coerência que lhe faltou na segunda metade da temporada passada. Arrumado o lopeteguismo que Peseiro teve de gerir, Nuno Espírito Santo começa o processo do zero e pode construir uma equipa segundo as suas próprias ideias. O maior reforço parece que veio de dentro do plantel: André Silva parece mais alto, mais forte, mais rápido e tudo somado isso quer dizer que será mais goleador. Ao contrário de Aboubakar, um avançado de grandes espaços, André Silva resolve no primeiro toque e isso faz toda a diferença no 4x3x3 de uma equipa grande. De resto, a chegada de Felipe e Alex Teles, a aposta reiterada em Corona e a entrada do mais constante Otávio para o lugar do imprevisível Brahimi só deixa este FC Porto a precisar de algum talento a meio-campo. Mas também ali o mercado ainda não fechou.
O Benfica, pela forma como alargou o lote de opções à disposição de Rui Vitória, é realmente o maior candidato à vitória final na Liga 2016-2017