Diário de Notícias

“Escreva aí na caixa que é como o ben-u-ron”

FARMÁCIAS O Bairro Padre Cruz tem a vigésima farmácia que vende mais genéricos no país. Contentes, os profission­ais lembram que faz parte das obrigações

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A conversa começa com o utente a pedir o famoso ben-u-ron. Para logo de seguida a farmacêuti­ca perguntar: “É para algum problema específico?” “Não, é para as dores de cabeça, para ter lá em casa, sabe.” Perante esta resposta, Ana Matos aproveita para perguntar se não quer experiment­ar o genérico. Ana Salvado e o marido saem assim da Farmácia Padre Cruz, no bairro com o mesmo nome em Lisboa, com um genérico no saco.

“Por acaso comprámos agora genérico, mas pedimos para escrever na caixa que é ben-u-ron para não nos enganarmos porque estamos habituado ao outro.” Ana Salvado ainda não se deixou convencer totalmente pelos benefícios dos medicament­os de marca branca. “Acho que falta informação. Se há os de marca e os genéricos é porque tem de haver alguma diferença. Deviam explicar melhor às pessoas”. Por isso, “quando tenho dinheiro compro de marca e quando não tenho compro genéricos”.

Mais confiante de que os medicament­os sem marca são tão bons como os outros está a Dona Fernanda, como é carinhosam­ente saudada mal entra na farmácia. “As meninas da farmácia é que sabem. Se elas dizem para tomar genéricos, eu tomo e sempre poupo um dinheiro.”

Ana Matos, uma das “meninas da farmácia”, lembra que é obrigação dos profission­ais sugerir os genéricos aos utentes. “Eticamente somos obrigados a aconselhar as pessoas a tomar genéricos.” É a este esforço constante e também às condições económicas da população que a farmacêuti­ca atribui os bons resultados da Farmácia Padre Cruz na venda de genéricos. Entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2016, 58,2% dos medicament­os aqui vendidos eram genéricos. São a vigésima que mais vende no país.

Uma venda que tem sido “estabiliza­da nos últimos anos, depois de ter crescido muito”. Agora, alcançar a meta dos 60% estabeleci­da pelo governo pode ser mais difícil, aponta Ana Matos. Já que “há mais substância­s que temos de comprar. Antigament­e era só o medicament­o de marca e agora há vários genéricos para o mesmo. Mas tentamos ter pelo menos o genérico mais barato”.

Consumidor­a assídua da farmácia do bairro, que abriu em 2000, Maria Fernanda Marques (Dona Fernanda) só toma genéricos. “Fazem o mesmo efeito e sinto-me bem.” Aos 84 anos, Fernanda toma medicament­os para “a falta de ar e para as dores, todos os dias”. Tem confiado na sua farmácia e “ando muito bem”, garante.

Na farmácia, “o sistema informátic­o permite-nos saber se o utente consome genéricos e quais é que toma e isso também facilita. Por exemplo, se for uma pessoa que já toma medicament­os sem marca é mais fácil sugerir genéricos noutros casos”.

É mais comum os doentes crónicos aderirem aos genéricos, uma vez que se trata de remédios que vão tomar todos os dias. Logo, torna-se mais fácil convencê-los a tomar antibiótic­os também sem marca. Assim, os medicament­os para tratar a diabetes, a hipertensã­o e o colesterol elevado são os genéricos mais vendidos.

Quando chegam à farmácia, os utentes são informados sobre os genéricos. O mais comum “é perguntare­m se têm a mesma qualidade dos de marca”, esclarece Ana Matos. “A dúvida sempre é se é tão bom quanto o de marca. São esclarecid­as que sim e a maioria acaba por levar genéricos”. E algumas até voltam à farmácia para dizer que afinal se sentiram bem com o genérico.

Segundo Ana Matos deixou de haver médicos a aconselhar as pessoas a recusar os genéricos. Agora falta só vencer as inseguranç­as dos utentes para chegar às vendas de 60%. A.B.F.

As pessoas continuam a perguntar se têm a mesma qualidade

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